Tem uma longa experiência autárquica. Assume a importância das grandes obras feitas durante o mandato do SIM, mas aposta numa gestão e em obras de proximidade. Valorizar o que se fez, mas ter em conta a vontade dos munícipes.
Começou a sua atividade política ainda antes do 25 de Abril?
Comecei nas eleições de 69, na CDE [plataforma eleitoral contra o regime fascista], estava em Lisboa e participei em distribuições de propaganda – embora a minha entrada na política tenha sido mais pela atividade sindical, eu era delegado do Sindicato das Telecomunicações.
Sines é a sua terra de origem?
Não, sou natural do Minho, fui para Lisboa com 15 anos. Vim para Sines em 1970. Estou cá há 47 anos. Sines é, para todos os efeitos, a minha terra. Os meus filhos só não nasceram cá porque cá não há maternidade.
Na gestão autárquica está também há muitos anos.
Participei nas primeiras eleições, como membro do MDP/CDE, na coligação APU – na altura não havia ainda a CDU. Fiz o primeiro mandado como vereador a meio tempo, eleito em 1976. Depois saí e fui trabalhar para a Rank Xerox. Ao fim de três anos convidaram-me outra vez – fiquei a perder do ponto de vista económico, estava numa multinacional americana. Fiz três mandatos de vereador com o Chico Pacheco [presidente da câmara do PCP], um como representante da CDE e dois como independente nas listas da CDU. Nunca fui pressionado para aderir ao PCP. Depois saí, pensando que não voltava mais. Depois dos 20 anos de presidência do Chico Pacheco – na altura, ainda não havia limitações de mandatos –, o PCP decidiu mudar o presidente e escolheram o Manuel Coelho, e convidaram-me novamente para as listas. Fiz dois mandatos com ele. E depois saí e ele fez mais dois mandatos. Eu colaborei com ele, já não como vereador, mas com as funções de chefe de gabinete.
Deve ser a pessoa com mais mandatos?
Tenho quase 40 anos de atividade autárquica.
Não está farto?
É uma boa pergunta, mas os desafios acontecem. Eu nunca quis ser cabeça-de-lista. Considero-me mais um gestor que um político. O Chico Pacheco era um grande político. O Coelho, também se tornou. Era uma homem mais culto e com outra visão, mas adquiriu também traquejo na política autárquica. Eu sentia-me bem no lugar de número dois. Não era por falta de lidar com as responsabilidades, mas sentia-me até mais livre para trabalhar com as pessoas. Agora, o desafio é este e vamos à luta.
Foi dura a sua rutura com a CDU?
O Coelho foi o protagonista dessa rutura. Consultou as vereadoras que estavam com ele na altura, a Cármen e a Marisa. A rutura foi feita por causa dos contratos de educação para os centros escolares. Ele tinha tido a informação que os municípios que aderissem tinham garantidos financiamentos para os novos centros escolares; os outros podiam ter ou não. E ele não hesitou e foi assinar o contrato com o governo. O PCP não estava de acordo. Achava que as escolas eram da responsabilidade do governo central. Isso foi a gota no copo de água. A minha rutura decorre desse processo e foi pacífica.
Mudou o seu voto nas eleições nacionais?
Não. Continuo a votar CDU, não me parece que em termos nacionais haja uma escolha melhor. Quando foi das presidenciais votei no Sampaio da Nóvoa, porque achei que era o melhor candidato de esquerda. E nas autárquicas voto SIM.
O atual presidente da câmara diz que este mandato foi complicado porque herdou uma grande dívida da câmara do SIM.
É um disco já repetido. Naqueles anos, dada a crise, o governo alterou as regras de endividamento das autarquias. A dívida estava controlada. Nós, nos últimos quatro anos do nosso mandato, tivemos 30 milhões de investimentos em Sines, mais que a maior parte dos municípios do Alentejo, com financiamento a 85%. Quando nos disseram que o financiamento era a 85%, nós não podíamos perder essa oportunidade e fomos a todas. Não estava previsto, fizemos um centro escolar em Porto Covo que custou um milhão de euros. E também as obras da Avenida Vasco da Gama e no centro histórico foram todas financiadas a 85%. E conseguiu-se reduzir a dívida. Estava em 38 milhões e nós conseguimos reduzi-la para 22 milhões. Mas nesse valor ainda estavam verbas do programa POLIS, a que as câmaras aderiram e tinham de entrar com o capital. Como Sines não entrou com capital, eles consideraram que era uma dívida. E deixámos três milhões de euros de candidaturas para receber. Do nosso ponto de vista, a dívida era de 18 milhões de euros e tem estado a reduzir-se. Mas isso é o normal na vida das autarquias e das pessoas. Eu, quando comprei casa, contraí empréstimo no banco e todos os anos pagava e reduzia essa dívida. No caso de Sines, ela estava controlada e foi feita para fazer muita coisa para o concelho. O difícil é fazer investimentos sem ter dinheiro. E nós, muitas vezes, conseguimos isso, conseguindo gerir as coisas de modo a investir.
Acha que este executivo do PS tem tido pouca atividade?
Muito pouca atividade. Eles vangloriam–se de terem tido este ano o maior nível de execução orçamental. Mas puseram um orçamento pequenino e, portanto, obrigatoriamente cumpriam. Nós éramos muito mais ambiciosos, os nossos orçamentos eram muito maiores e o nosso grau de execução orçamental era mais baixo, mas aquilo que fizemos era muitas vezes superior ao que este executivo faz. Do meu ponto de vista, não tiveram técnicos competentes para organizarem candidaturas e projetos. Nós estávamos todos os dias atentos às candidaturas. Contribuímos para que a Santa Casa conseguisse um projeto para o seu novo centro, que a Associação Cabo-Verdiana se candidatasse para conseguir uma nova sede.
Tendo no último mandato de Manuel Coelho feito tanta obra, porque perderam as eleições?
Boa questão. Uma das razões é que há determinadas obras importantes, como o centro de artes e os novos centros escolares, que a totalidade da população não valoriza. Outro projeto complicado foi o da Avenida Vasco da Gama. A cidade esteve muitos anos sem aproveitar devidamente essa zona nobre da cidade. Mas foi uma obra complicada, que teve demasiados atrasos. O estado da falésia era muito mau. Foi preciso fazer obras que custaram mais de um milhão de euros, urgentes por causa da segurança. E isso atrasou demasiado a finalização das obras. Esta obra acabou por nos desgastar.
E o que podem melhorar?
Temos a consciência de que é preciso uma política de pequenas obras que resolva problemas concretos sentidos pela população. Este executivo do PS prometeu também isso, mas falhou. As coisas pioraram. Mais de 90% das pessoas falam-nos das ruas sujas, dos buracos nos passeios, das ervas que não são cortadas. Esta é uma obrigação que continua por cumprir. É impossível que os buracos nos passeios estejam anos seguidos sem ninguém reparar. Nós temos como argumento que já mostrámos que conseguimos fazer melhor. Queremos ter uma gestão transparente e de proximidade com as pessoas.