Pela sexta vez no espaço de pouco mais de uma década, o nordeste da Coreia do Norte tremeu. Sendo aquela um região de relativa atividade sísmica, tal registo não seria propriamente inédito. Mas na zona montanhosa norte-coreana de Punggye-ri a terra não costuma tremer por ação da natureza. Este domingo, por volta das 12 horas locais (cerca das 4h30 em Portugal), as autoridades meteorológicas japonesas e norte-americanas detetaram um tremor de magnitude 6.3 a mais de 10 quilómetros abaixo do solo, e concluíram, horas depois, que o mesmo estava relacionado como o mais recente ensaio nuclear do regime de Kim Jong-un.
Menos de uma semana depois de ter colocado o Japão (e o mundo) em alvoroço com o lançamento de um míssil de médio alcance Hwasong-12, que sobrevoou território japonês, Pyongyang repetiu as provocações nucleares de 2006, 2009, 2013 e 2016 (duas vezes) e testou o que diz ser a sua mais recente arma, alegadamente passível de ser transportada por projéteis balísticos intercontinentais: uma bomba de hidrogénio.
Ao anúncio da realização “bem-sucedida” de um ensaio nuclear, envolvendo aquele tipo de armamento, transmitido no canal televisivo da República Popular Democrática da Coreia – uma fotografia de Kim Jong-un a inspecionar o que parece ser uma bomba nuclear já tinha sido divulgada, horas antes, pela agência noticiosa estatal – seguiu-se a ratificação, por parte dos governos japonês, sul-coreano e norte-americano, de que o tremor de guerra tinha sido efetiva,emte provocado por um sismo artificial, ficando apenas por confirmar se a Coreia do Norte possui, ou não, a referida bomba.
Caso se confirme o referido cenário, nas mãos do líder do regime mais eremítico do continente asiático poderá estar, neste momento, uma arma oito vezes mais poderosa que a bomba atómica – ou o domínio da tecnologia para a produzir. De acordo com os dados recolhidos pelo NORSAR, um observatório norueguês de monitorização sismológica, a potência do terramoto resultante do teste nuclear deste domingo aponta para uma impacto explosivo equivalente a 120 quilotoneladas. Se tivermos em conta que o engenho atómico largado pelos EUA sobre a cidade japonesa de Hiroshima, em 1945, registou uma explosão calculada em 15 quilotoneladas, uma simples conta de dividir é mais do que suficiente para se perceber o potencial destrutivo do alegado novo brinquedo de Kim Jong-un.
Condenação unânime
Tal como verificado aquando da provocação norte-coreana da semana passada, o mais recente descaramento nuclear mereceu a condenação unânime da comunidade internacional. Ao lamento de mais uma atitude “profundamente desestabilizadora para a segurança regional” do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e aos pedidos da “resposta mais forte possível” para se “isolar completamente” Pyongyang, do presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-un, somaram-se reprovações de representantes de países como o Japão, o Reino Unido, a França, a Turquia, a Rússia ou a Índia, mas também de dirigentes dos mais variados organismos da União Europeia e da ONU. E, claro está, dos EUA e China.
Se o lançamento do Hwasong-12 por cima do Japão colocou sobre os ombros dos chineses – os principais aliados – e dos norte-americanos – os inimigos mais poderosos – a pressão imediata de liderarem as retaliações contra a Pyongyang, o teste de hoje apenas contribuiu para intensificar essa pressão. Em comunicado, o ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim veio “exortar veementemente a Coreia do Norte a encarar a vontade firme da comunidade internacional em desnuclearizar a península [da Coreia]” e a “pôr fim às ações erradas que apenas agravam a situação e que não são do seu interesse”, e voltou a insistir na “resolução das disputas através do diálogo”.
A reação dos EUA não podia ter sido mais distinta. Através da sua arma de comunicação favorita, o Twitter, o presidente Donald Trump – que já tinha respondido à crise dos míssil com a colocação “de todas as opções” possíveis sobre a mesa e com um alegado reforço militar na região – catalogou a Coreia do Norte como “um estado pária”, “hostil” e “perigoso para os Estados Unidos”, e ameaçou cortar relações comerciais com todos os seus parceiros económicos. Pelo meio ainda deixou recados para a China e a Coreia do Sul: “A Coreia do Norte (…) tornou-se numa enorme ameaça e num embaraço para a China, que tem tentado ajudar, mas sem grande sucesso”, escreveu o líder norte-americano sobre Pequim. “A Coreia do Sul está a perceber, como sempre lhes dissemos, que a conversa de apaziguamento com a Coreia do Norte não funciona, eles apenas compreendem uma coisa”, acrescentou, sobre Seul.