Como entende a estratégia seguida pela administração Trump quanto ao desenvolvimento dos programas nuclear e balístico da Coreia do Norte, em especial depois do teste nuclear do passado domingo?
A estratégia norte-americana é confusa e dominada pelas divisões internas, nomeadamente pelas tensões entre uma linha reacionária nacionalista e uma linha conservadora internacionalista. Os primeiros defendem que não há uma solução militar para a crise norte-coreana e admitem a retirada das tropas norte-americanas da Coreia do Sul. Os segundos querem preservar o sistema de alianças dos Estados Unidos, nomeadamente as alianças com o Japão e a Coreia do Sul, e procuram reforçar a credibilidade da dissuasão norte-americana, que não pode excluir o recurso à força na resolução da crise norte-coreana. As tensões entre essas duas linhas são exploradas pela estratégia norte-coreana e prejudicam a eficácia da resposta dos Estados Unidos.
E a da China?
A estratégia chinesa está paralisada pela contradição patente entre os seus objetivos. Por um lado, Pequim não quer que a Coreia do Norte se torne uma potência nuclear, uma vez que essa mudança na balança regional podia legitimar a transformação do Japão numa potência nuclear. Por outro lado, o regime comunista chinês não pode deixar cair o seu aliado e tem de defender o regime comunista norte-coreano contra as pressões externas dos Estados Unidos. A estratégia norte-coreana tem demonstrado ter capacidade para manipular as contradições internas da posição da China.
Quais as consequências do último ensaio nuclear norte-coreano para a região da Ásia-Pacífico?
O teste nuclear da Coreia do Norte reforça a sua credibilidade estratégica regional e torna mais difícil adiar o reconhecimento do seu estatuto como uma potência nuclear. Esse reconhecimento pode provocar uma cadeia de proliferação nuclear na Ásia Oriental.
É possível assistir-se a um retorno à mesa das negociações, mesmo com a escalada que se tem assistido?
Essa possibilidade está em aberto, mas depende da convergência entre os Estados Unidos e a China, que podem impor um regime de sanções reforçado, incluindo medidas políticas e não apenas medidas económicas.