“Esgotar todos os meios diplomáticos antes que seja tarde demais”

Coreia do Sul realizou cinco exercícios militares com fogo real e acelerou a instalação de sistema antimísseis norte-americano. Nikki Haley diz que a “paciência dos EUA não é ilimitada”

O recente lançamento de um míssil norte-coreano por cima do território japonês e o ensaio nuclear de domingo com uma suposta bomba de hidrogénio não vão ficar por aqui. Quem o garante é a Coreia do Sul que, através de um responsável do seu ministério da Defesa, prevê a realização de novos testes para os próximos dias. “Continuamos a ver indícios de possíveis lançamentos de mísseis balísticos. Antevemos igualmente que a Coreia do Norte possa vir a disparar um míssil balístico intercontinental”, afirmou ontem Chang Kyung-soo, citado pela agência Yohnap.

A intervenção do funcionário governamental no parlamento sul-coreano coincidiu com a realização de cinco exercícios militares no país. O exército da Coreia do Sul utilizou armamento real para simular um ataque a Punggye-ri, a zona montanhosa do nordeste norte-coreano onde Pyongyang leva a cabo os seus ensaios nucleares. Para além disso, Seul acelerou os trabalhos de instalação do controverso sistema de defesa antiaéreo norte-americano Terminal High-Altitude Area Defense –, habitualmente designado como THAAD –, concebido para abater mísseis balísticos e Seul e Washington estão a considerar a possibilidade de que um porta-aviões nuclear, bombardeiros estratégicos e outro equipamento militar sejam destacados para território sul-coreano no futuro próximo.

Novos exercícios militares entre as forças armadas norte-americanas e sul-coreanas estão a ser planeadas com o intuito de relembrar à Coreia do Norte o poder de fogo com que se confrontará na eventualidade do deflagram de um conflito, anunciou o Estado-Maior das Forças Armadas sul-coreano. O primeiro-ministro sul-coreano, Moon Jae-in, declarou que a Coreia do Sul vai manter uma forte aliança de segurança bilateral com os Estados Unidos para tentar evitar mais provocações norte-coreanas.

Esta resposta musculada da Coreia do Sul vem no seguimento de fortes críticas do presidente dos Estados Unidos a Seul. Donald Trump criticou ontem a liderança sul-coreana por considerar que o desejo de desanuviamento das tensões e de retorno às negociações não resulta e que Pyongyang apenas “percebe uma coisa”, uma clara referência ao uso de força militar.

Seul poderá ter abandonado a sua posição anterior e estar agora a caminhar para o reforço da sua capacidade militar, o que, por sua vez, poderá conduzir a uma nova escalada por parte da Coreia do Norte. William J. Perry, ex-secretário de Estado da administração Clinton, afirmou, num artigo publicado no Politico, que “o principal perigo é a Coreia do Norte abusar nas provocações e despoletar uma resposta militar da Coreia do Sul”, o que poderia resultar num conflito bélico com a presumível resposta norte-coreana contra Seul, seguida, depois, de retaliações norte-americanas. Perante a possibilidade de derrota, a liderança norte-coreana poderia, em desespero, lançar as suas armas nucleares.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas voltou a reunir-se de emergência, ontem, em Nova Iorque, e teve na representante dos Estados Unidos uma das mais duras intervenções contra o regime de Kim Jong-un. Nikki Haley, embaixadora dos EUA na ONU, pediu apoio aos restantes 14 membros do conselho para castigar Pyongyang com as “mais fortes medidas possíveis” e revelou que a paciência norte-americana para com um país que está a “implorar por uma guerra” tem limites.

“A guerra nunca é algo que os Estados Unidos queiram. Não a queremos, mas a paciência do nosso país não é ilimitada”, assegurou a diplomata, citada pela BBC, defendendo ainda que é tempo de “esgotar todos os meios diplomáticos antes que seja tarde demais”.

Entretanto, a Suíça, que possui forças armadas na zona de desmilitarização que separa as duas Coreias, já se ofereceu para ser mediador nesta crise, incluindo para acolher reuniões entre governos. “Está realmente na hora de nos sentarmos à mesa”, disse a presidente suíça, Doris Leuthard, para quem “as grandes potências têm responsabilidades”.

O Conselho de Segurança tinha ontem prevista uma nova reunião de emergência para analisar os desenvolvimentos ocorridos entretanto com a questão nuclear norte-coreana. O primeiro-ministro sul-coreano e o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe assumiram que iriam trabalhar em conjunto para a aprovação de novas e mais fortes sanções contra o regime de Pyongyang. Num telefonema entre os dois, Shinzo terá dito a Moon que o teste nuclear de domingo foi um “desafio direto para a comunidade internacional” e que a comunidade internacional devia avançar com “a pressão mais forte possível”, segundo relatou o chefe-de-gabinete de Abe, Yasutoshi Nishimura. O Japão pretende apelar à China e à Rússia para aumentarem a pressão sobre a Coreia do Norte, para que esta coloque um ponto final no seu programa nuclear e balístico.