Esta é uma iniciativa curiosa, sobretudo por se tratar de um conjunto de cartazes com mensagens semelhantes. Após pesquisa na Internet, descobri que se trata de uma iniciativa do artista brasileiro Ygor Marotta, que, em 2009, iniciou uma campanha em São Paulo. Segundo o próprio, o objetivo é «resgatar o amor nas pessoas, fazer com que pensem a respeito, se questionem se o que elas fazem é realmente amor, no trabalho e na vida social, pequenas atitudes transformam o nosso entorno». O movimento «mais amor, por favor» ficou conhecido internacionalmente e, com o passar do tempo, a frase foi afixada em outras cidades do Brasil, na América Latina e na Europa.
Este movimento, tem, ainda, inspirado outras formas de arte, como a poesia, a música e a fotografia, sobretudo por se tratar de «amor» num sentido muito mais lato do que o que é sentido por duas pessoas, esse amor, íntimo, que Carlos de Oliveira descreve: «Para ti, meu amor, é cada sonho / de todas as palavras que escrever, / cada imagem de luz e de futuro, / cada dia dos dias que viver». Ora, o tipo de amor pedido nestes cartazes é, antes, o «amor idealizado no sentido de responsabilidade, respeito e educação. É a atenção, a afeição, a gentileza, o querer bem», aquele tipo de amor que, como relata Fernando Pinto do Amaral, é mais vasto: «repara / como em abril as aves são felizes».
Pedir aos outros «mais amor, por favor» é pedir-lhes, de forma delicada, que deem e recebam mais amor, que sejam mais agradáveis, mais amorosos para com os outros, em vez de serem embirrentos ou antipáticos. Pedir amor é, no fundo, pedir paz, pedir justiça, pedir perdão; é pedir sentimentos positivos, que contrariem a agressividade com que, tantas vezes, tratamos os outros, e contrariem, também, a nossa obstinação em estarmos sempre certos, que nos leva a ser teimosos, a contrariar o que os outros dizem.
Pedir mais amor, sobretudo de forma tão educada, em que se pede «por favor», é pedir um mundo melhor. As próprias cores do cartaz apontam para um mundo idílico e romântico, onde todos possam viver e entender-se de forma harmoniosa.
Este é um apelo quase profético, que poderia ter sido lançado por uma protorreligião ou movimento pacifista, mas, curiosamente, foi, antes, lançado por alguém que, simplesmente, de forma individual, gostaria de ver o mundo melhor, onde as pessoas dessem mais amor aos outros e, simultaneamente, estivessem disponíveis para receber o amor que os outros tivessem para lhes dar.
O amor é, como sabemos, a base de todas as relações humanas. É o amor que se reveste da forma da amizade, é o amor que nos torna disponíveis para uma série de sentimentos a ele associados – a compaixão, a caridade, a empatia e a felicidade. Viver com os outros é a pedra de toque de qualquer vida em sociedade, e sentir amor, nesta aceção mais abrangente, é sentir que se pode viver bem com os outros, respeitando a sua dignidade individual e, nessa interação, enriquecendo a nossa própria vida.
Porque o amor, mais do que exterior, tem de ser interior, tem de começar dentro de cada um de nós, passando, depois, para o seu círculo mais restrito; tem de começar pela nossa casa, pela nossa própria sala.
Maria Eugénia Leitão
Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services