A Catalunha quer mesmo avançar com um referendo sobre a independência a 1 de outubro. O parlamento e governos regionais já o aprovaram e as reações não se fizeram esperar.
Mariano Rajoy, primeiro-ministro de Espanha e líder do Partido Popular, acusou o parlamento catalão de cometer uma “atrocidade constitucional e democrática” e anunciou que o governo espanhol irá pedir ao Tribunal Constitucional a anulação da decisão dos poderes executivo e legislativo catalães. O Ministério Público também anunciou que estava a preparar processos contra alguns parlamentares, incluindo a presidente do parlamento regional, Carme Forcadell, por desobediência às ordens que proibiam os poderes legislativos de avançarem com o processo independentista.
O Tribunal Constitucional tinha reunião marcada para ontem ao final da tarde para estudar o pedido de anulação do referendo apresentado pelo governo de Rajoy. O tribunal não se pronunciou até à hora de fecho da edição.
Para além das iniciativas legais, Rajoy avançou também com reuniões com os líderes dos restantes partidos para criar uma frente constitucional contra o referendo, nomeadamente com Pedro Sánchez, líder do PSOE, e com Albert Rivera, líder do Ciudadanos.
União PP, PSOE e Ciudadanos A reunião entre Rajoy e Sánchez demorou pouco mais de meia hora, tendo o último demonstrado o seu apoio ao governo espanhol e às suas iniciativas para “defender a lei”, tendo, por outro lado, a “convição de que pelo diálogo e a somatória das vontades se chegará a uma solução”. Rivera não ficou para atrás e no final da reunião com o primeiro-ministro espanhol também reiterou o seu apoio ao governo, defendendo que é o momento do governo, PSOE e Ciudadanos estarem juntos para demonstrarem que não existe divisão nem fissuras no que concerne à defesa da democracia, utilizando mesmo todos os instrumentos ao seu alcance caso seja necessário, inclusive que “existirá tempo para reformar a Constituição”.
Porém, nem todos partilham desta unidade partidária em defesa da Constituição espanhola contra o referendo. Pablo Iglesias, líder do Podemos, defendeu que o referendo de “1 de outubro é uma manifestação política legítima”, apesar do partido “não concordar com o caminho das forças políticas que governam a Catalunha”. Em resposta a uma carta a si dirigida pela vice-presidente da subcomissão de direitos humanos do Parlamento Europeu, Beatriz Becerra, Antonio Tajani, presidente do Parlamento Europeu afirmou que “qualquer ação contra a Constituição de um Estado-membro é uma ação contra o quadro jurídico da União Europeia”.
Na quarta-feira, o parlamento catalão aprovou, depois de um dia de trabalhos tumultuosos no hemiciclo, a Lei do Referendo com os 72 votos dos independentistas, num total de 135. Os parlamentares que se opunham ao referendo abandonaram a sala antes da votação como forma de protesto. A sessão durou 11 horas consecutivas com protestos e gritos.