O número de rohingya que fugiram da parte ocidental de Myanmar já ascende a mais de 270 mil, sobrelotando os campos no Bangladesh, afirmam as Nações Unidas. Os dois campos de refugiados em Cox Bazar, no sudeste do Bangladesh, já se encontram a "rebentar pelas costuras", segundo a porta-voz da ONU Duniya Aslam Khan.
"A capacidade limite de abrigo já está esgotada" e os "refugiados estão agora agachados em abrigos improvisados que cresceram ao longo da estrada e da terra disponíveis nas áreas de Ukhiya e Teknaf", explicou a porta-voz.
Ontem as Nações Unidas tinham atualizado o número de refugiados para 164 mil, mas hoje voltaram a corrigir os números. Desde ontem para hoje mais de 100 mil rohingyas chegaram aos campos no Bangladesh. A maioria dos refugiados são mulheres e crianças que chegam aos campos a pé ou que tentam atravessar o rio Naaf, que forma parte da fronteira entre Myanmar e o Bangladesh, numa perigosa travessia. Na semana passada foram encontrados 46 rohungya mortos nas margens do rio.
Segundo relatos dos refugiados, as forças policiais e militares do Myanmar têm atacado aldeias, esfaqueando e baleando pessoas pertencentes à etnia rohingya, provocando a fuga em massa em direção ao Bangladesh.
Aung San Suu Kyi, a líder de facto do governo, Prémio Nobel da Paz em 1991, tem sido alvo de críticas da comunidade internacional pela repressão. Outros laureados com o mesmo prémio reagiram contra a líder de Myanmar. Malala Yousafzai, jovem paquistanesa que se opôs à ditadura dos talibãs pelo direito à educação, exigiu a Aung San Suu Kyi que condenasse a violência e o bispo Desmond Tutu considerou, numa carta, tratar-se de algo "incongruente para um símbolo da paz", que agora na liderança de um país não esteja "em paz consigo mesmo", pois "não reconhece e protege a dignidade e o valor de todo o povo".
A 25 de agosto um grupo de militantes rohingya atacou esquadras de polícia e uma base militar em Rakhine. Segundo fontes governamentais, 15 elementos das forças de segurança e 370 militantes rohingya foram mortos no decorrer dos confrontos.
Os rohingya, uma minoria étnica e de fé muçulmana, enfrentam uma severa repressão em Myanmar, maioritariamente budista. Quase um milhão de rohingya vive no estado de Rakhine, na parte ocidental do país, e outros 300 mil a 500 mil vivem no Bangladesh, muitos deles em campos de refugiados.