Quantiquices. Por influência persistente de um amigo que é bi-doutor em Física e Finanças (ou, talvez, doutor ao quadrado) e pela leitura das extraordinárias Seven Brief Lectures on Physics de Carlos Rovelli, desenvolvi recentemente uma paixão pela Física. Paixão, diga-se, que não é de todo correspondida por manifesta falta de argumentos da minha parte. Um objectivo é ser capaz de, num número razoável de anos, ler (e numa modesta parte entender) as monumentais ‘Feynmam Lectures on Physics’. Ainda só vou no segundo capítulo. Mas é impossível não nos sentirmos apoucados perante o ousadia do desafio que nos é colocado logo no início: «Se, por algum cataclismo, todo o conhecimento científico fosse destruído, e apenas uma mensagem pudesse ser transmitida para a posteridade, que mensagem conteria a maior informação no menor número de palavras?» A resposta de Richard Feynmam é singela e fascinante: «A hipótese atómica – tudo é feito de átomos, pequenas partículas em movimento perpétuo, atraindo-se quando longe, repelindo-se quando perto». Não há como não ficar apaixonado.
Este Verão li dois livros sobre temas muito diferentes: “Einstein’s Greatest Mistake, de David Bodanis, e Kissinger, de Niall Ferguson. Einstein nunca terá acreditado na teoria quântica e, por isso, acabou os dias em Princeton isolado de uma boa parte da comunidade científica. A razão, segundo David Bodanis, prendeu-se com o facto de Einstein conviver mal com a concepção da incerteza essencial na matéria. Não pretendo explicar aquilo que entendo mal. Mas todos os dias nos deparamos com essa incerteza – que é muito mais do que uma medida da nossa ignorância e que, portanto, não se resolve com mais informação ou conhecimento. As consequências indesejadas (ou melhor, inesperadas) existem sempre.
A realidade é apenas um dos mundos possíveis.
Esta observação conduz-me à biografia de Kissinger onde, logo na introdução, Niall Fergusson destaca um extrato verdadeiramente quântico de uma entrevistada dada por Kissinger em 1972 à jornalista italiana Oriana Fallaci. Diz o então Secretário de Estado dos EUA: «Podemos (sempre) dizer que aconteceu porque tinha de acontecer. É o que sempre se dizemos depois das coisas acontecerem. Nunca falamos das coisas que não acontecem – a história daquilo que não aconteceu nunca foi escrita». Uma frase surpreendente daquele que é considerado um paradigma do realista (ou cinismo) político. Julgo que falava da sua vida e também da guerra do Vietname. Mas a mensagem é importante e convida à modéstia de julgamento. As políticas e as decisões devem, sem dúvida, ser avaliadas pelos seus resultados; mas não devemos esquecer aquilo que ‘contra-factualmente’ teria ocorrido se essas políticas não tivessem sido implementadas ou essas decisões tomadas.