Quem não conhece o drama romântico “Prova de Vida”, em que Peter Bowman – personagem interpretada por Russell Crowe –, um engenheiro americano que está num país latino-americano, é capturado por forças antigovernamentais? Quando os rebeldes descobrem a sua identidade, exigem seis milhões de dólares como recompensa, mas o dono da empresa nos Estados Unidos não aceita pagar o resgate. A partir daí é a mulher do engenheiro, Alice – personagem interpretada por Meg Ryan –, que é forçada a lidar com o problema por conta própria e acaba por contratar os serviços de um negociador. Pois bem, estes problemas não acontecem só na ficção e é a pensar nisso que as seguradoras têm multiplicado a oferta de novas soluções.
A solução é simples: para responder a novos desafios e aos novos riscos, as seguradoras têm reforçado a sua oferta nos seguros de rapto, que vão ganhando terreno. A ideia é apresentar uma modalidade que, mediante um pagamento, permita ter acesso a capital que possa ajudar à resolução de uma situação destas, ou seja, assegura o pagamento de negociadores, uma vez que coloca no terreno profissionais experientes em situações destas. De fora fica o capital destinado ao pagamento de rapto. “O rapto é uma atividade ilícita e, como tal, os seguros em Portugal não podem contemplar verba para este tipo de ocorrências”, revela ao i Paula Rios, administradora da MDS. Ainda assim, a responsável garante que “já foram salvas vidas com estas soluções”.
Apesar de não poderem ser vendidos seguros que disponibilizem a verba para o pagamento de sequestros, o i sabe que fora de Portugal há seguradoras que contemplam este tipo de pagamentos.
No nosso país, estes seguros oferecem acompanhamento de especialistas, serviço de aconselhamento e tratamentos médicos – um produto que é indicado sobretudo para pessoas ou empresas com presença no estrangeiro (seja por situação de expatriamento, seja em simples viagens de negócios).
Segundo Paula Rios, é um tipo de seguros procurado especialmente por empresas multinacionais, mas também tem registado um aumento da procura no mercado nacional.
De acordo com as contas da MDS, por ano são raptados mais de mil profissionais, pelos quais é exigido um resgate, causando sérios prejuízos e perturbações quando não existem apólices que garantam o devido apoio nestes casos. “Um rapto de um colaborador pode ocorrer durante uma viagem ou este pode ser testemunha de uma tentativa de extorsão. Por ano são raptados mais de mil profissionais sobre os quais é exigido um resgate, causando sérios prejuízos e perturbações quando não existem apólices que garantam o devido apoio nestes casos”, refere a MDS, acrescentando ainda que “o pedido de assistência a organizações governamentais numa situação destas pode também não ser viável ou não ter uma resposta tão rápida quanto o necessário, pelo que explorar opções com a ajuda de profissionais experientes pode revelar-se fundamental.”
Resposta ágil
E porque se destina a responder a uma tema tão delicado, este tipo de seguros são confidenciais. Isto porque, basicamente, quando há um rapto, há dois riscos: um financeiro, relacionado com o pedido do resgate, mas que é o menos importante, e um outro, que é o maior, que se prende com a forma de gerir a crise, porque o que é crítico é a vida das pessoas.
“Na eventualidade de acontecer um rapto, pedido de resgate ou extorsão, o acesso a recursos que possam apoiar nestas situações proporciona um sentimento de conforto e confiança numa possível resolução. O cenário de perda financeira que pode decorrer numa situação desta natureza, associado à componente emotiva, gera a necessidade de uma rápida intervenção. Desde o apoio aos familiares e às próprias necessidades das empresas até ao treino de prevenção de rapto, as nossas ofertas ajudam a minimizar os danos que este tipo de situações assustadoras provocam”, explica a corretora.
Os negociadores são, por norma, antigos tropas especiais e ex-agentes do FBI. “Têm de ter características especiais e muita experiência no terreno. E, acima de tudo, têm de ter grande capacidade psicológica para enfrentar situações de pressão e de stresse, e não podem ter qualquer fragilidade – por exemplo, terem família”, esclarece ao i Ana Mota, diretora da broker MDS na área de employee benefits, acrescentando ainda que, “por terem muita experiência, são capazes de identificar que tipo de pessoas são os raptores e o que pretendem, pois podem ter motivos políticos ou financeiros”. Ainda assim, a responsável reconhece que, na maioria dos casos, os raptores pretendem dinheiro; daí os alvos serem geralmente altos quadros de empresas ou altos quadros estatais porque sabem que são entidades com condições financeiras para fazer o pagamento.
Outra característica importante diz respeito ao conhecimento de línguas. “Têm de ser bilingues ou trilingues porque têm de ter capacidade para falar não só com os raptores, mas também com a família do sequestrado, e isso exige um elevado poder de comunicação”, refere.