A indústria automóvel mundial, em particular a europeia, está ainda a contas com o escândalo da manipulação das emissões poluentes, também conhecido por “Dieselgate”, e que foi revelado há dois anos. Para além disso, há pressão para a redução das emissões de CO2 no âmbito dos Acordos do Clima de Paris e as potenciais proibições dos veículos movidos a motor de combustão interna em várias cidades um pouco por todo o mundo. Para contornar estes obstáculos e superar os desafios, os decisores fazem promessas de um futuro com carros elétricos.
É com este pano de fundo que abre hoje ao público o Salão Automóvel de Frankfurt (IAA). Até ao próximo dia 24, quase mil expositores vão disputar as atenções dos mais de 10 mil jornalistas de mais de uma centena de países que vão noticiar as mais de 300 novidades previstas, entre veículos e soluções tecnológicas.
Há ainda que juntar o público. O certame, que conta com mais de 50 construtores, uma série de fornecedores de peças e várias empresas de tecnologia, entre as quais gigantes da internet, deverá atrair quase um milhão de pessoas a um centro de exposições que mede o equivalente a 27 campos de futebol.
Em vésperas do IAA, as principais construtoras germânicas – Volkswagen, BMW e Daimler (fabricante da Mercedes-Benz) – anunciaram um programa de mudança para os carros elétricos.
O grupo VW tem planos para produzir versões elétricas dos 300 modelos automóveis que compõem o portefólio das suas diversas marcas até 2030. “Temos uma mensagem que queremos passar. A transformação da nossa indústria é imparável. E nós vamos liderar essa transformação”, afirmou o presidente executivo do grupo na segunda-feira.
Segundo Matthias Müller, este programa vai representar um investimento de 20 mil milhões de euros para desenvolver novos veículos, atualizar as fábricas, formar o pessoal e desenvolver a infraestrutura de carregamento, a que se juntam mais 50 mil milhões de euros para desenvolver a tecnologia e produzir as baterias para carros elétricos. Até 2025, a VW tenciona ter 50 modelos totalmente elétricos e 30 híbridos no seu portefólio. A meta é vender três milhões de unidades elétricas até essa data.
No mesmo dia, a Daimler anunciou que vai passar a disponibilizar versões elétricas de todos os seus modelos. A casa-mãe da Mercedes-Benz quer ainda que a marca Smart seja apenas elétrica e definiu 2022 como o prazo para a mudança. De acordo com o CEO da fabricante automóvel, Dieter Zetsche, o objetivo é disponibilizar 50 variantes híbridas ou totalmente elétricas dos Mercedes-Benz. Assim, a construtora germânica espera poupar quatro mil milhões de euros.
100 mil carros vendidos
Esta decisão da Daimler segue-se à da rival BMW. A também fabricante germânica anunciara, no final da semana passada, que conta ter 12 modelos diferentes de carros elétricos a partir de 2020. “Até 2025 ofereceremos 25 automóveis eletrificados – 12 dos quais totalmente elétricos afirmou o CEO da marca, Harald Krüger, citado pela agência Reuters.
A empresa com sede em Munique, que lançou o seu primeiro elétrico em 2013, o i3, acrescentou que esses novos veículos terão uma autonomia de até 700 quilómetros com um carregamento e, de acordo com um membro do conselho de administração, o grupo tem a expetativa de vender até ao final do ano 100 mil automóveis elétricos.
Na véspera tinha sido o grupo britânico Jaguar Land Rover (JLR) a anunciar o afastamento dos motores de combustão. A JLR, que vai lançar o seu primeiro modelo completamente elétrico – Jaguar I-Pace – no próximo ano, tem planos para duplicar a produção de carros a nível mundial nos próximos anos.
Em julho, a Volvo anunciara planos para deixar de produzir automóveis com motores de combustível a partir de 2020. E a marca sueca é dos exemplos da sombra que paira sobre Frankfurt: a ausência de alguns dos principais fabricantes mundiais como, por exemplo, a Alfa Romeo, a Fiat, a Peugeot, a Mitsubishi ou a Nissan. E também da Tesla, que há poucos meses lançou o Model 3.
“Este é, inquestionavelmente, o carro mais importante do ano”, diz um analista da indústria, citado pela agência AFP, que lamenta que o carro da marca norte–americana que tem estado na vanguarda dos carros elétricos não esteja patente no IAA.
Os custos de ter os modelos em exibição neste salão podem chegar aos milhões de dólares e muitas marcas têm preferido organizar os seus próprios lançamentos ou mostrar os seus modelos em feiras de produtos eletrónicos como, por exemplo, o CES de Las Vegas.
Para além da mobilidade elétrica, a tecnologia autónoma é um dos expoentes do salão que tem como tema “Futuro agora” (Futur Now) e o Facebook como parceiro mundial da Nova Mobilidade.
Juntam-se ainda tecnológicas como o Google, SAP, Qualcomm, e também a BlaBlaCar, Harman, IBM, Kaspersky, Merck, NXP, Siemens, Sony ou TomTom.