Aniversário SOL. 11 anos de histórias

O SOL completa 11 anos. De 2006 a 2017 marcou e marca a vida nacional.

1 – 365 dias nas bancas

Em 2007, aquando da assinatura do Tratado de Lisboa (a 13 de dezembro), já o SOL tinha completado 365 voltas às bancas. No primeiro número, lançado a 16 de setembro de 2006, a cronista Margarida Marante escolhia o líder do CDS, José Ribeiro e Castro, como “a figura da semana”. Falava-se do nome de Fernando Pinto Monteiro para procurador-geral da República, mas a manchete recaiu em Isaltino Morais, cuja vivenda em Altura, no Algarve, acabava de ser apreendida por ordem do Ministério Público. Dez anos volvidos, o antigo autarca foi condenado, cumpriu pouco mais de um ano de prisão por crimes de fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais e daqui a duas semanas pode voltar a ser presidente da Câmara de Oeiras. Marcelo Rebelo de Sousa era um dos colunistas do jornal – um espaço a que chamou “Blogue” – depois de um interregno de 20 anos na imprensa escrita.

Também na primeira edição foi publicada uma sondagem realizada pela Intercampus para o SOL, em que foi pedido aos portugueses para escolherem os melhores e piores chefes de Estado do Governo nos [então] últimos 50 anos. Os portugueses inquiridos escolheram Jorge Sampaio como o melhor em Belém – e, como pior, Mário Soares. A amostra considerou ainda Cavaco Silva como o melhor primeiro-ministro e Santana Lopes como o pior em São Bento. Também Miguel e Paulo Portas assinavam colunas no jornal. Nessa primeira incursão, Miguel Portas, no espaço a que chamou “SOL de Esquerda”, escreveu sobre política internacional, religião e corrupção no futebol, sob o título «Ataques de realismo atingem a Europa». Francisco Varatojo, professor de Macrobiótica que morreu este ano num trágico acidente de mergulho, também mantinha uma coluna chamada “Macro Vida”, que, nessa primeira edição, dedicou à meditação.

Já na primeira Tabu, a revista que acompanhou o SOL até dezembro de 2015 [altura em que se extinguiu a Newshold, dando origem à Newsplex, empresa que detém este semanário e o jornal i], contava-se a história de dois bebés, um de raça negra e outro caucasiano, trocados à nascença.  

2 – De Portucale aos submarinos

No segundo ano de existência do SOL, chegava às bancas a investigação do caso Portucale, que dava conta do abate ilegal de milhares de sobreiros numa herdade em Benavente para ali ser construído uma unidade imobiliária e turística do grupo Portucale, que daria nome ao processo, e que pertencia ao Grupo Espírito Santo (GES). Foram constituídos 11 arguidos – no epicentro do processo estava Abel Pinheiro, empresário e antigo líder do CDS – os despachos que autorizavam o abate foram assinados quatro dia antes das eleições legislativas, em que o PS ganhou. 

Todos foram absolvidos [em 2012], mas as escutas usadas na investigação do abate das árvores abriu portas a outra investigação que se autonomizou e ganhou contornos maiores: a compra de dois submarinos e contrapartidas feita pelo Governo enquanto Paulo Portas era ministro da Defesa – ao consórcio alemão Ferrostal. Em 2009, o Ministério público acusa sete portugueses – José Pedro Sá Ramalho, Filipe Mesquita Soares Moutinho, António Parreira Holterman Roquete, Rui Moura Santos, Fernando Jorge da Costa Gonçalves, António Lavrador Alves Jacinto e José Mendes Medeiros – no processo de contrapartidas dos submarinos, juntamente com dois cidadãos alemães. O caso não chegou a julgamento.
Nesta altura, o processo Casa Pia decorria nos tribunais e o acórdão ainda estava longe de ser lido. Catalina Pestana, cinco meses depois de deixar o cargo de Provedora da Casa Pia, deu uma entrevista ao SOL em que afirmou que os abusos dentro da instituição persistiam.
E já se falava no novo aeroporto de Lisboa – na Ota ou em Alcochete? –, discussão que ganhou novo fôlego este ano.

Na data em que o SOL completou dois anos, Barack Obama estava a pouco mais de dois meses de se tornar no primeiro Presidente negro da história dos Estados Unidos e, ainda por cima, com a maior votação registada por um candidato presidencial no país. 

3 – Freeport, cornos e autárquicas

«Ingleses apontam o dedo a ministro português». Foi desta forma que, logo no início do ano, se começou a levantar a ponta do véu do esquema de pagamento de luvas a um dos ministros do segundo Governo de Guterres para obter o licenciamento do centro comercial na zona de Alcochete.  A pasta era a do Ambiente. E o responsável apontado pela investigação britânica era José Sócrates. O caso já era conhecido das autoridades desde 2004, ano em que chegou uma denúncia anónima à Polícia Judiciária de Setúbal.

Quando a investigação aqueceu, José Sócrates, uma das figuras centrais do processo, já era primeiro-ministro, mas nunca chegou a ser constituído arguido nem respondeu a qualquer questão na barra dos tribunais. Porém, nem só o Freeport enchia os jornais. Os únicos dois arguidos do processo também acabaram por ser absolvidos.

A implantação do TGV perdia velocidade e a compra dos submarinos afundavam na opinião pública.

Na Assembleia da República, um momento insólito protagonizado em julho de 2009 pelo ministro da Economia, Manuel Pinho, ficaria na memória coletiva por um gesto em plena Assembleia da República:  Pinho ‘fez cornos’ ao então deputado do PCP Bernardino Soares – hoje presidente da câmara de Loures. O ministro foi imediatamente demitido.
Em Lisboa, António Costa e Pedro Santana Lopes preparavam o confronto para as autárquicas, que decorreram a 11 de outubro. O socialista conseguiu a reeleição e só iria sair da Câmara pelo seu próprio pé e a caminho de lugar político mais apetecido, o palácio de São Bento. Para as eleições autárquicas aí à porta, Santana ainda foi sondado para ser novamente o candidato social-democrata, mas declinou o convite. 
Joana Vasconcelos, já numa fase ascendente e – em que os candelabros de tampões já não eram o único ex-líbris da sua criação artística – foi uma das capas da Tabu. 

4 – O ano do Polvo

O ano de 2010 ficou marcado por várias mudanças sociais e políticas. Mas, foi sobretudo no plano da justiça, que houve mais agitação. E com o SOL na linha da frente. Poucos meses depois de notícias do caso Face Oculta, em fevereiro de 2010 o jornal publica escutas que ligam o caso ao então primeiro-ministro José Sócrates. Até à data as notícias vindas a público centravam-se num esquema de corrupção e tráfico de influências, tendo como protagonista um industrial de sucata, Manuel Godinho, que subornava políticos e gestores para ser favorecido em concursos públicos. 

O SOL acabou por revelar que o caso tinha ligações não só a Sócrates como a Armando Vara, na altura seu braço direito, ao advogado Paulo Penedos, que era consultor jurídico da Portugal Telecom (PT) e a Rui Pedro Soares, administrador executivo da PT. Estalava assim o segundo escândalo envolvendo Sócrates, após o caso Freeport, que veio a público em 2004. A edição que esgotou nas bancas fez com que Rui Pedro Soares acabasse por interpor uma providência cautelar contra o SOL para tentar impedir referências futuras que ligassem o seu nome ao caso Face Oculta. E as duas jornalistas que investigaram o caso, Felícia Cabrita e Ana Paula Azevedo, acabaram por ser constituídas arguidas pela divulgação das escutas.

Mas, dois dias depois, a 12 de fevereiro, o jornal, que na altura chegava às bancas à sexta-feira, lançou uma edição especial publicada nesse domingo. Desta vez, o jornal revelou os planos de Sócrates para controlar a TVI, de forma a afastar Manuela Moura Guedes e José Eduardo Moniz, o DN, o JN, a TSF e o Público. A esta data Sócrates tinha sido eleito como primeiro-ministro no seu segundo mandato há cinco meses, a 27 de setembro de 2009. Foi com este caso que as trincheiras do PS começaram a mexer com António José Seguro em ascensão no partido, acabando por suceder a Sócrates como secretário-geral. Do lado do PSD, também Passos Coelho foi eleito como presidente do partido em março, derrotando Manuela Ferreira Leite, a primeira mulher presidente dos sociais-democratas. Foi ainda neste ano que o Parlamento, a 8 de janeiro, aprovou o casamento de pessoas do mesmo sexo. 2010 foi também o ano em que desapareceu José Saramago, em Lanzarote.

5 – 2010, o ano de todos os processos

A capa do SOL que abre o setembro tem como manchete a sentença do processo Casa Pia que estava prestes a começar a ser lida, mesmo que o julgamento já tivesse mais anos que o próprio jornal. A Tabu completava a edição com aquilo que teriam sido os últimos anos dos «miúdos que se fizeram homens», como escreve a jornalista Sónia Balasteiro, ao referir-se às vítimas que deram a cara por este escândalo que abalou Portugal. Ainda sobre a temática, Catalina Pestana, ex-provedora da Casa Pia, assina um artigo de opinião, dias antes de saber que os juízes consideraram provado que todos os arguidos praticaram ou favoreceram abusos sexuais a ex-alunos da Casa Pia. Nele dirige-se diretamente aos jovens: «Seja qual for o resultado a que o tribunal tiver chegado, a vossa coragem já ganhou».Na semana seguinte, o SOL comemora quatro anos e anuncia na capa o lançamento de um novo site. Já na última página, o editorial lembra que o jornal nunca guardou uma notícia na gaveta, não cedeu a pressões nem teve uma manchete desmentida. Um ano depois, o entusiasmo continua e no editorial de quinto aniversário anuncia-se uma versão para iPad, depois do lançamento do site, da aplicação para iPhone e da televisão online SolTV.

Nesse intervalo de um ano, Duarte Lima foi protagonista de grande parte das edições. Uma investigação de Felícia Cabrita no Rio de Janeiro concluiu que o carro de Duarte Lima esteve no local da morte de Rosalina Ribeiro e o primeiro tiro foi disparado ainda dentro do automóvel. Pouco depois, volta a ser capa e desta vez é o telemóvel que o denuncia, uma vez que fez vários telefonemas para Rosalina mas nenhum do seu número pessoal.
Mas apesar do protagonismo, Duarte Lima teve que ceder o seu lugar de destaque a um 2010 cheio de histórias para contar. Senão vejamos: o Papa Bento XVI vem a Portugal, o Benfica é campeão, um temporal matou mais de 40 pessoas na Madeira e Lisboa recebeu 60 chefes de Estado para a Cimeira da Nato. É obra. 

6 – Da Política e da falta de Justiça

2011 foi o ano em que Portugal evitou a bancarrota pedindo ajuda externa. Com o resgate financeiro veio também a troika e eleições legislativas que mudaram o Governo. Passos Coelho substitui José Sócrates no cargo de primeiro-ministro e em entrevista ao SOL alguns meses depois, o chefe do Governo dizia que Portugal tinha de «consumir menos e poupar mais», que «quem pede emprestado tem de prestar contas» e que «nenhum país pode crescer com excesso de dívida». Passos Coelho referia também nunca ter imaginado que teria de cortar «50% do subsídio de Natal», um tema que o SOL noticiava ter sido de grande discussão, que levou mesmo a uma divisão no Governo. Em março de 2012 o ministro da Finanças, Vítor Gaspar, dava uma entrevista ao SOL na qual salientava que a credibilidade externa de Portugal passava pelo cumprimento do programa de assistência financeira e que a incerteza tinha diminuído com este governo. Mas aumentava em relação à Justiça. Em maio de 2012, a maior rede de lavagem de dinheiro em Portugal era decapitada pelo Ministério Público em maio. Englobava conhecidos políticos e empresários portugueses e várias ligações ao estrangeiro.

Estavam mais de mil milhões de euros envolvidos neste esquema e muitos outros milhões num outro caso de grande envergadura, que ficou conhecido por Monte Branco. Alguns meses antes, em novembro de 2011, o SOL revelava a peça que faltava no puzzle do Face Oculta, um caso de lavagem de dinheiro, corrupção política e evasão fiscal que envolvia grupos económicos e chegava ao Governo de Sócrates. Um outro caso de corrupção, desta vez a envolver o autarca de Oeiras, Isaltino Morais, prescreveu em maio de 2012, depois da repetição de parte do julgamento. «A Justiça Portuguesa revela-se uma vez mais impotente», escreveu o SOL. Nesse ano, uma das grandes figuras da Justiça portuguesa, o advogado José Miguel Júdice, disse em julho à Tabu que a inocência ou culpa de um cliente nunca foi uma preocupação. «Toda a gente merece defesa. Claro que muitas vezes sou advogado de pessoas que não gostaria de receber em minha casa», afirmou.

7 – Renúncias e demissões

2013 foi um ano histórico, começando logo pela Igreja Católica e os seus dois líderes. Em fevereiro o Papa Bento XVI anunciava que iria renunciar ao pontificado – tema tratado em destaque na revista Tabu –, tornando-se Papa Emérito. No mês seguinte o cardeal jesuíta argentino Jorge Mario Bergoglio torna-se Papa, sob o nome de Francisco e o Vaticano passou a albergar dois pontífices. Também em março chega a notícia da morte do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que seria substituído no cargo no mês seguinte por Nicolás Maduro. Abril é também o mês em que morreu Margaret Tatcher, a carismática primeira-ministra britânica que durante onze anos (1979-1990) liderou o Reino Unido. Alguns dias depois a Maratona de Boston é alvo de um atentado terrorista. 2013 foi também o ano em que Edward Snowden denunciou um esquema de espionagem do Governo norte-americano em sistemas de comunicação de todo o mundo; à União Europeia juntou-se a Croácia e ainda começou a guerra no leste da Ucrânia. 

Em Portugal a política marcou a agenda do ano, com as eleições autárquicas de setembro a serem vencidas pelo PS, liderado por António José Seguro, com 36% dos votos, mais do dobro dos votos do PSD, resultado catapultado pelo descontentamento com a austeridade imposta pela troika e aplicada pelo Governo de Passos Coelho. O primeiro-ministro, um ano antes, e de acordo com o SOL, sob pressão da uma boa avaliação ao programa de austeridade tinha anunciado a baixa da TSU, medida que apanhou de surpresa Paulo Portas, que a criticou publicamente e chegou mesmo a ameaçar a coligação do Governo. Em julho de 2013 o Executivo esteve de novo ameaçado mais uma vez por Paulo Portas. O líder do CDS contestava a escolha de Maria Luís Albuquerque para substituir Vítor Gaspar na pasta das Finanças e anunciou a sua demissão «irrevogável» de ministro dos Negócios Estrangeiros, argumentando que ficar no Governo nessas circunstâncias seria um ato de dissimulação. No entanto, não só ficou como subiu a vice-primeiro-ministro.  

8 – Cortes nas pensões

Em setembro de 2013, uma das edições do SOL faz manchete com o corte nas pensões a propósito da chegada da troika a Portugal – efeitos diretos da crise que pairava sobre o país. O Governo de Pedro Passos Coelho ponderava fazer cortes graduais ao longo de três anos, mas a ideia acabou por ser posta de lado e os cortes foram aplicado logo em 2014.

Já em dezembro, o SOL volta a fazer manchete com o FMI, num momento em que o Governo se viu obrigado a ter um plano B caso houvesse chumbo no Tribunal Constitucional – o ano de 2013 ficou, aliás, claramente marcado pela Troika e pelo facto de o Tribunal Constitucional poder chumbar a proposta de Passos Coelho relativamente às pensões. Na edição de 13 de dezembro desse mesmo ano o SOL fez um balanço dos votos dos juízes acerca das leis do Governo.

Os cortes marcaram 2013 e em 2014 continuaram. Já em abril de 2014, o SOL noticiou o adeus de Durão Barroso à presidência e a possibilidade de este não voltar a Portugal depois do seu mandato em Bruxelas. O SOL convidou ainda Jorge Jesus a ir a Luanda, em junho, para participar em algumas iniciativas sobre futebol. Na edição da revista Tabu, que acompanhou essa edição do jornal, saiu uma entrevista com o escritor José Rentes de  Carvalho com imagens da revolução dos cravos.

Cerca de um mês a Tabu dá destaque a uma entrevista exclusiva com o treinador do Benfica – Jorge Jesus, mais uma vez – e o SOL faz manchete o facto do PS estar a colocar António José Seguro sob uma intensa pressão.
Ao longo do ano, marcado pelos cortes do Governo de Passos Coelho, em junho volta a falar-se do possível chumbo do Tribunal Constitucional, que poderia resultar em eleições antecipadas.

Em 2014 os Tuk Tuk já estavam na ordem do dia, tendo destaque na capa de 29 de agosto do jornal SOL, junto da pressão que Passos Coelho estava a passar devido aos problemas económicos pelo que o país atravessava.  

9 – O ano dos candidatos

O nono ano do SOL começa com trocas. No futebol, saiu Paulo Bento do lugar de selecionador nacional e entrou Fernando Santos, do PS saiu António José Seguro e entrou António Costa.

Se para António Costa a vida estava a correr bem, para José Sócrates o panorama estava cada vez mais negro. O antigo primeiro-ministro foi detido no âmbito da Operação Marquês e, nos primeiros tempos, ficou conhecido como o prisioneiro 44 da prisão de Évora. Meses depois, provavelmente toda a gente se lembra do momento caricato em que um estafeta entregou na rua Abade Faria uma pizza de pepperoni e extra queijo, já o ex-líder do PS cumpria prisão domiciliária.

E se falamos de casos judiciais, o BES é inevitável. Após o escândalo financeiro, o Novo Banco dava os primeiros e trémulos passos e os lesados do banco realizavam protestos por todo o país.

A campanha de Costa começava e o debate entre o secretário-geral do PS e primeiro-ministro Passos Coelho, na altura à beira do fim de mandato, pararam o país. Começa o percurso de Costa até São Bento mas as eleições teriam de esperar pelo décimo ano do SOL…

Nos Estados Unidos, Donald Trump prepara a corrida à Casa Branca e profere pela primeira vez a frase que seria a base da sua campanha: «Vamos fazer a América grande novamente».

Para o cante alentejano, 2014 foi um bom ano. O canto coletivo tradicional português foi reconhecido como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Foi em 2015 que quase todos fomos Charlie em homenagem às vítimas do atentado terrorista que atingiu o jornal satírico francês “Charlie Hebdo” e foi também na mesma altura que o partido de esquerda radical Syriza venceu as eleições na Grécia. Era o início de uma nova era sem austeridade, sem medo e sem Alexis Tsipras.

Em Espanha, o rei espanhol Juan Carlos I abdica depois de 39 anos no trono espanhol e dá lugar ao filho Felipe VI que é coroado em meses depois.

10 – País em estado de graça

A coligação PSD-CDS conquista a maior porção de votos nas eleições de outubro de 2015, mas fica aquém da maioria. Muitos esperavam um governo instável e poucos o que acabou por acontecer. António Costa não se demitiu e anunciou na noite eleitoral que não estava para «maiorias negativas». PCP e BE ouviram-no e assinaram um acordo de governação em separado para formarem, em conjunto e contra a vontade da direita, uma maioria funcional a que o país se habituou a dar o nome nascido de um comentário azedo de Vasco Pulido Valente: «A Geringonça». 

O Governo português, contra as expectativas, manteve o equilíbrio, sobreviveu aos abalos que o SOL relatou entre o ministro das Finanças e o primeiro-ministro, e, num tom mais alegórico, mostrou que era capaz de pôr as vacas a voar – na verdade, costuma-se dizer que é impossível os porcos voarem, ou as galinhas terem dentes, mas o SOL registou a ideia de António Costa assim como ele a expôs na introdução do Simplex +. 

E as coisas mantiveram-se na ordem dos pequenos e grandes milagres ao longo do ano. Portugal venceu o Europeu de futebol em França – que no final de 2015 sofreu o mais sangrento ataque terrorista em solo europeu desde as bombas de 2005 em Madrid –, António Guterres triunfou na corrida a secretário-geral das Nações Unidas e Marcelo Rebelo de Sousa, despindo a pele do eterno candidato e vestindo o – em si muito colorido – fato de candidato à séria, varre os concorrentes na primeira volta e revela-se o mais apropriado timoneiro para um ano em que Portugal navegou em estado da graça. 

Nas margens ficaram José Sócrates e Ricardo Salgado, que viram o cerco apertar-se nos desenvolvimentos da Operação Marquês, alguns noticiados em primeira mão pelo SOL, como a revelação de que o antigo primeiro-ministro e o ex-barão do Grupo Espírito Santo se usaram da Portugal Telecom como centro de um vasto e milionário esquema de corrupção.
A Tabu deixa de ser publicada com o SOL em dezembro de 2015, sendo substituída pelo b,i.

11 – Chegámos à capicua

Dos Estados Unidos, a surpresa e o caos. Donald Trump, o magnata do imobiliário, a estrela dos reality shows e o menos habilitado candidato à presidência dos Estados Unidos, fez o que todos imaginavam impossível e venceu Hillary Clinton, que em tudo parecia ser o seu contrário. Não se conhecem ainda todas as repercussões da sua vitória, mas sabe-se que, para já, a ordem institucional americana foi posta do avesso.

Portugal, por sua vez desabituado ao estado de graça, cedo aprendeu que do júbilo apenas se pode cair. Mário Soares morreu aos 92 anos, na primeira semana de janeiro, e o país enterrou um dos fundadores da sua democracia – e da sua política moderna – em luto nacional. Poucos meses depois, em julho, o país viu partir uma das personagens que mais marcaram as finanças. Henrique Medina Carreira, fiscalista e ex-ministro das Finanças entre 1976 e 1978, em Governos presididos por Mário Soares, liderou as negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) com vista à obtenção de um empréstimo de 750 milhões de dólares. 

Mas foi no final de junho, dia 17, que um incêndio de forma voraz e galopante matou 64 pessoas em Pedrógão Grande. O incêndio mais mortal de sempre lavrou durante oito dias os concelhos de Góis, Castanheira de Pera e Pedrógão Grande deixando várias aldeias em cinzas. A resposta das autoridades e do Governo no combate às chamas levantou questões depois de reveladas várias falhas no sistema de comunicação de emergências, o SIRESP, que, aliás, voltou a falhar em incidentes posteriores. E enquanto o país ainda se reerguia do choque da morte de 64 pessoas provocada pelo incêndio, eis que surge uma outra notícia que levanta mais questões sobre a competência nas instituições do Estado: o assalto aos paióis de Tancos. Desapareceram armas e material de guerra das instalações do Exército, sendo que ainda hoje não se sabe o paradeiro do material roubado e o ministro da Defesa diz que ainda não é certo que tenha existido, de facto, um assalto.