A perda da virgindade governativa da extrema-esquerda

António Chora, na condição de sindicalista, representa a cultura do sindicalismo ativo, mas responsável, em Portugal. Luís Mira Amaral representa o país que deu passos decisivos na industrialização e na capacidade de aumentar as exportações. Que não se esqueçam os seus bons exemplos

«O SEAL falhou redondamente a tentativa de invasão do país portuário.»

Comunicado da Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores Portuários».

Há dois anos, em Setembro de 2015, foram poucos os que alertaram para a eventualidade de virmos a estar perante uma possível perda da virgindade governativa da extrema-esquerda. Sobretudo do PCP. 

À época, com pouquíssimas exceções, a esmagadora maioria dos protagonistas da vida política achou isso um absurdo. Incautos, desprevenidos, ingénuos nuns casos e arrogantes noutros, menosprezaram totalmente essa possibilidade. 

Mas, desde setembro desse ano, tem sido ao que temos assistido. E se o país político vai acomodando, mais aqui, menos acolá, o parlamentarismo unilateral de conveniência — temperado por um semipresidencialismo ativo e positivo do Presidente da República –, o país normal (o não político) tem dias em que engole a narrativa oficial da coligação e outros em que olha de soslaio para coisas com que não concorda e que o preocupam. 
 
E xemplos não faltam. O mais recente e elucidativo tem que ver com a OPA sindical em curso na Autoeuropa por parte sobretudo do PCP, via CGTP. 

Trata-se de um bom exemplo dos exageros, transformados em perigos para o país e para os portugueses, da perda da virgindade governativa da extrema-esquerda. Ou seja, da concretização do roteiro político sindical derivado da chamada ‘geringonça’, para o atual Governo do PS e das extremas-esquerdas estar em funções. 
No caso concreto da Autoeuropa, estamos a brincar com o fogo. E, caso não impere o bom senso e a moderação, poderemos, enquanto país, perder e muito. 

Mais uma vez, quem perderá mais serão os trabalhadores da companhia e um território como o distrito de Setúbal. É caso para dizer que parece grande a tentação de ter ganhos político-partidários com a miséria alheia. Para diabolizar o investimento estrangeiro, sobretudo se for privado, o capitalismo das grandes empresas, etc., etc. 

«Há um  assalto ao castelo na Autoeuropa». «Autoeuropa: a geringonça em ação». «Sem sábados não seremos uma grande fábrica». Não têm faltado os títulos e frases simples que fazem o diagnóstico e alertam para a obrigatoriedade de ser mantida a paz social na empresa. 

Porque esta fábrica, criada na era de Cavaco Silva, não foi para Setúbal por obra e graça do acaso. Lembram-se da OID em Setúbal? Recordam-se do cenário económico e social naquele território? Assim, Luís Mira Amaral, António Neto da Silva e Carlos Tavares trataram este dossiê com pinças. 

A Autoeuropa é hoje uma das maiores empresas exportadoras de Portugal. A previsão é que, em 2018, ultrapassará os 5.300 empregados e poderá valer quase 1% do nosso PIB. 

Desde 1995 já produziu 2,3 milhões de carros. O PIB português está muito dependente do que será o futuro desta empresa. Os trabalhadores da Autoeuropa têm tido um papel notável no seu sucesso em Portugal. E assim deverá ser no futuro. Justiça seja feita a António Chora, que enquanto sindicalista teve um papel fundamental na estabilidade e na paz social da companhia. E que representou nela o poder da moderação, sem deixar de lado a defesa intransigente dos interesses e dos direitos dos trabalhadores.

P ortugal não pode pagar o preço de pôr em causa o essencial do projeto da Autoeuropa, pela perda da virgindade governativa da extrema-esquerda no nosso país.

Não pode e não deve. É um preço alto de mais. O Partido Socialista, para ser Governo e ter os apoios do BE, de Os Verdes e (neste caso mais concretamente) do PCP, está cada vez mais em leilão de pagamento de condições de todo o tipo. À custa dos dinheiros públicos. 

Mas há coisas que têm de ter um limite. Portugal precisa de mais Autoeuropas — e não de pôr em causa a que tem. 
Qualquer pessoa medianamente formada gostaria de viver num país em que todos tivessem remunerações adequadas às suas expectativas e necessidades, onde não existissem exploração e precariedade laboral, etc. Mas infelizmente ainda não temos esse país. E por isso deveremos tratar estas e outras matérias com moderação e bom senso. 
Como é o caso das tentativas de invasão sindical do país portuário. Que fica para mais tarde. Mas que também revela o que são os exageros da extrema-esquerda portuguesa.