As contas públicas portuguesas continuam a ser o principal objetivo de Mário Centeno, mas existem outras prioridades em cima da mesa do responsável pela pasta das Finanças nacionais, nomeadamente, ser o próximo presidente do Eurogrupo. Depois de muito se falar sobre esta possibilidade, o Ronaldo do Ecofin, como lhe chama Schäuble, admite que na sua ida para a presidência do Eurogrupo “o objetivo é nacional”.
“Mais importante que a presidência do Eurogrupo é que a posição portuguesa e as ideias e os ideais que o governo português tem para a Europa sejam transmitidos e sejam discutidos no seio de todos os fóruns que existem na área do euro e na União Europeia”, disse Centeno, em entrevista à RTP, onde admite que “a presidência do Eurogrupo pode ou não ser instrumental para isso”.
“O meu foco são as contas públicas portuguesas, a estabilidade da economia e das finanças públicas em Portugal, assim vai continuar a ser mesmo no possível dia em que Portugal possa ter a capacidade de presidir ao Eurogrupo”, afirmou o ministro, eliminando dúvidas.
Centeno acumulará a presidência do Eurogrupo com o cargo de ministro das Finanças: “É um lugar que é ocupado pelo ministro das finanças de um dos países da área do euro e, portanto, é necessariamente compatível [ser ministro das finanças e presidente do eurogrupo]”.
Na sexta-feira, à saída de uma reunião em Tallin, Estónia, Centeno já tinha admitido ter um projeto para a presidência do Eurogrupo, como o Sol noticiou: “Temos um projeto que, partindo daquilo que são os pontos fortes da economia portuguesa e da nossa sociedade, se possam também eles transmitir e passar para os valores europeus”.
A verdade é que, desde o início, que o nome de Mário Centeno é avançado e apoiado por muitos. As primeiras notícias surgiram em março, mas acabaram por cair no esquecimento, até que foi o próprio a fazer renascer a ideia quando admitiu que era algo que gostava que acontecesse.
Mais tarde, já em agosto, numa entrevista ao El País, Centeno deixava a hipótese em aberto: “Não vou dizer que não, se há uma possibilidade”.
A esta vontade de Mário Centeno juntaram-se as vontades de vários apoiantes de Centeno. Um dos exemplos é Joseph Stiglitz, Nobel da Economia e professor na Universidade de Columbia. “Acho que seria bom para o Eurogrupo ser liderado por alguém com um grande conhecimento da diversidade da Zona Euro”, defende. No entender de Stiglitz, é tempo de “o Eurogrupo ser representado por alguém que tem mais conhecimento das dificuldades que a Zona Euro enfrenta como um todo”. Até porque, mesmo que existisse essa hipótese, não existem condições para Jeroen Dijsselbloem continuar no cargo: “Como uma pessoa que está de fora, fiquei horrorizado com as afirmações de Dijsselbloem [sobre os países do sul]. São um exemplo das disfunções da Europa. E, quando fez afirmações como aquelas, devia ter-se demitido. Achei profundamente perturbador”.
Menos carga fiscal
Durante a entrevista, dada ontem à RTP, Mário Centeno sublinhou ainda que o novo ano vai trazer novidades a nível fiscal. A promessa é de que seja feita uma diminuição da carga fiscal em todos os escalões. “Vamos ter pelo terceiro ano consecutivo uma redução da carga fiscal sobre o trabalho”, sublinhou.
Apesar de admitir que a fórmula ainda não está fechada e que há ainda muito trabalho a fazer, Centeno não deixa margens para enganos e garante que “todos os escalões de IRS vão ter um alívio fiscal”.
A dívida pública nacional foi outro dos temas abordados e a certeza deixada é a de que “vai reduzir-se”. A promessa não podia ser mais clara: Até ao final do ano, Portugal terá a maior redução da dívida pública dos últimos 19 anos, caindo para os 127,7% do Produto Interno Bruto. Depois? “Depois continuará a cair de forma consecutiva”.