Miguel Relvas deu sinal de vida, agora que terminou o curso e o processo da Tecnoforma e numa entrevista acutilante ao “Expresso” sublinha que Pedro Passos Coelho “ganhou o direito a ser candidato a primeiro-ministro” porque venceu as últimas eleições e que a vitória do Partido Socialista em 2019 não está garantida.
“António Costa não terá maioria absoluta”, aposta o antigo ministro adjunto, porque o PS não pode assumir essa estratégia devido à guerra que abriria com o BE e o PCP e porque “vive refém do momento” e “não é capaz de ter as políticas necessárias para alcançar essa maioria”. Neste momento, Costa já “atingiu o ponto mais alto e ninguém transforma o pico em planalto”, explicou.
Para Relvas, o primeiro-ministro ainda “vive o complexo de derrota” para Passos Coelho” em 2015 e está longe de ser “um fenómeno eleitoral”, como era José Sócrates.
Premonitório nas suas respostas – “se o PS ganhar as legislativas, não conseguirá estar muito tempo” –, Relvas acha que o cenário de provável derrota dos sociais-democratas nas eleições de 2019 não é irreversível. “Desde que o PSD consiga encontrar um posicionamento” e Passos corte com o passado, agarre no programa de 2011 e lhe dê uma arejada. Além de, é claro, mobilizar os melhores, “pôr Rui Rio e Paulo Rangel na Comissão Política” e “ter um discurso económico e um porta-voz para a economia”.
Descansando a liderança social-democrata sobre a possibilidade de poder vir a contribuir para novas lutas pela chefia do PSD, Miguel Relvas não deixa, no entanto, de criticar Passos pelo que se passou a seguir às legislativas: “Quando os políticos perdem a intuição passam a ser funcionários públicos”.
Temendo que o partido se venha a “ruralizar”, deixando de ter influência nos grandes centros urbanos, ganhando mais câmaras pequenas do interior, Relvas acha que o PSD ainda não provou o sabor mais amargo – “o pior momento ainda vai ser a seguir às autárquicas”.
Em grande parte esta entrevista de Relvas veio confirmar aquilo que o vice-presidente do PSD-Lisboa, Rodrigo Gonçalves, escrevera na quinta-feira no Facebook, que “em breve, Relvas virá defender, publicamente, que Passos Coelho tem de ir às eleições legislativas em 2019, fechando assim um ciclo político no PSD”.
Relvas já está a pensar nesse fim de ciclo e princípio de outro, apontando, sem surpresa, para Luís Montenegro como possível sucessor de Passos. O nome do ex-líder da bancada ‘laranja’ não é o único referido, mas surge a encabeçar uma lista que inclui o ex-líder da distrital lisboeta Miguel Pinto Luz e o candidato à Assembleia Municipal do Porto Pedro Duarte.
Quanto a Rui Rio, não acha que o antigo presidente da Câmara do Porto alguma vez avance para a liderança, até porque “não se chega a candidato de andor”, é preciso andar a calcorrear o país. Relvas coloca a sua afirmação no domínio da aposta: “pago para o ver candidato”. Tal como paga para ver que outro nome falado venha mesmo a concretizar a sua candidatura: Marco António Costa, o coordenador permanente da Comissão Política Nacional e porta-voz do PSD.
críticas ao CDS
Quem mereceu críticas fortes de Relvas foi o trabalho de Assunção Cristas à frente do CDS-PP – “anda atrevida, anda”, disse. Estivesse ele em posição de decidir dentro do PSD e a resposta ao atrevimento teria sido dura. “A rutura do CDS com a coligação em Loures, achei de um atrevimento sem limites. No dia seguinte, se eu lá estivesse, todas as coligações em Lisboa tinham acabado”, afirmou taxativamente.
Permitindo-se uma exclamação pelo ex-líder centrista – “que saudades de Paulo Portas” –, Relvas não vê. no entanto, qualquer possibilidade do antigo vice-primeiro-ministro se lançar com sucesso na corrida presidencial. “Não acredito que em circunstância alguma o próximo Presidente da República tenha origem no CDS”, sublinhou.
Relvas vê mais Passos Coelho, Santana Lopes, Marques Mendes ou Durão Barroso – “o político mais completo que eu conheci” – como possíveis candidatos do centro-direita à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa, de quem faz “uma avaliação muito positiva”.