“O alegado furto de Tancos”. Este é o nome do debate que acontece hoje na Assembleia da República, com a presença de José Azeredo Lopes, ministro da Defesa. O debate foi batizado assim por causa da polémica entrevista em que o ministro admitia que “no limite” podia “não ter havido furto nenhum” no polígono militar de Tancos.
Mas é um ministro da Defesa já muito mais frágil aquele que se apresenta hoje no parlamento. Até porque, como noticiou o semanário “Sol”, o Presidente da República chegou ao seu limite: Marcelo quer que Azeredo Lopes venha a ser um dos ministros incluídos na próxima remodelação governamental, que tudo indica que venha a acontecer a seguir à aprovação do Orçamento de Estado.
As relações entre Presidente e ministro da Defesa já não estavam no melhor dos mundos, mas a gota de água foi mesmo a entrevista ao DN/TSF em que Azeredo Lopes admite que “no limite, pode não ter havido furto nenhum. Como não temos prova visual nem testemunhal, nem confissão, por absurdo podemos admitir que o material já não existisse e que tivesse sido anunciado… e isto não pode acontecer”.
O ministro admite que o que se passou em Tancos não passou de uma alucinação coletiva dias depois do próprio Presidente da República ter ido a Tancos – dois meses após o roubo – pedir celeridade nas investigações.
“Não só é importante apurar factos e eventuais responsabilidades, como apurar num tempo que seja um tempo o mais curto possível, por um lado, para o prestígio da instituição militar, e por outro lado também para a própria atuação interna da instituição militar”, disse Marcelo Rebelo de Sousa de visita a Tancos em 4 de setembro, dia em que se cumpriram dois meses sobre o roubo do material militar.
Nesse 4 de setembro (seis dias antes do ministro dizer que “no limite pode não ter havido furto nenhum”), Marcelo Rebelo de Sousa fez um apelo também ao Ministério Público: “Passaram dois meses e uma semana, precisamente, e eu continuo a acreditar que as entidades encarregadas da investigação criminal estão conscientes da importância do tempo, de como o tempo no apuramento dos factos e de eventuais responsabilidades é importante e de como as conclusões da investigação são importantes, para as Forças Armadas e até para a própria investigação por parte das Forças Armadas em termos internos”.
Em resposta a uma pergunta do i, a Procuradoria-geral da República confirmou que o inquérito “é de tramitação urgente” e acrescentou estarem “em curso várias diligências, entre as quais se inclui o recurso à cooperação judiciária internacional”.
Até o BE criticou Azeredo
PSD e CDS foram muito duros com o ministro da Defesa, imediatamente a seguir à famosa entrevista. Assunção Cristas pediu mesmo a demissão de Azeredo Lopes. O PSD não pediu a demissão, no entanto, afirmou que fará tudo para que “sejam assumidas responsabilidades políticas”, nas palavras do deputado Carlos Costa Neves, que deixou ainda críticas ao governo: “Tudo se faz para que as situações não se apurem e para que se disfarcem os fracassos e as incapacidades”.
Mas a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, também foi muito crítica da declaração do ministro da Defesa. “Não podemos ter o governo a dizer que não sabe se existiu ou não roubo em Tancos. Os esclarecimentos são essenciais neste momento”, disse a coordenadora do BE na semana passada.
Só o Partido Comunista achou que chamar Azeredo Lopes será mais ou menos inútil, ainda que não tenham sido contra a diligência. A ida de hoje do ministro da Defesa ao parlamento, “pouco adiantará se o ministro disser o que já disse”, anteviu o deputado António Filipe em declarações à agência de notícias Lusa.
O deputado comunista considera que “as suposições do ministro não são relevantes” para dar origem a um debate. Porém, vai acontecer, embora o tempo de discussão seja curto. Cinco minutos para cada grupo parlamentar e seis minutos para o governo. No limite, pode não haver debate nenhum.