Fizeram um levantamento do número de casas da Câmara Municipal de Lisboa que estariam desocupadas. De um conjunto de dez, oito já tinham sido entretanto vendidas e das duas que sobraram, a do número 69 da Rua Marques da Silva pareceu perfeita para o objetivo deste grupo: defender o direito à habitação em Lisboa.
Na sexta-feira, a Assembleia de Ocupação de Lisboa (AOLX) abriu a porta deste edifício, que estava apenas encostada, colocou uma faixa na varanda onde se lê “A cidade é de quem a ocupa” e deu início às limpezas de um espaço que passou a ser de todos.
Não estão ligados a partidos, associações ou sindicatos. “Somos apenas 20 pessoas que se conhecem e que se juntaram depois de perceber que Lisboa se está a transformar num negócio”, conta ao i Tiago Duarte, porta-voz de um grupo que começou por ser de uma vintena de pessoas, mas que agora deixou de ter fronteiras.
Ontem, numa assembleia organizada para debater o destino final desta casa agora ocupada, juntaram-se cerca de 150 pessoas. Segundo Tiago, o prédio é composto por oito apartamentos, mas as ideias vão além da habitação em si. “Surgiram imensas ideias. Pode vir a ser um centro de apoio à habitação em Lisboa, uma infraestrutura de apoio a novas ocupações ou um observatório sobre as questões da habitação na cidade”, conta. Chegaram até propostas com vertente social e cultural, como a criação de um centro de apoio aos idosos da zona, abrir uma sala de workshops de música para crianças ou um centro de fotografia.
Nada ficou definido numa tarde, no entanto, as ideias vão ser analisadas e a melhor será apresentada à câmara municipal que, até ao momento, ainda não reagiu a esta ocupação.
Desmistificar a ocupação O fim de semana foi de limpezas, mudança de fechaduras e debate de ideias. “O prédio estruturalmente está bom”, garante Tiago. E é por isso que este grupo não o quer ver vazio e abandonado, ao lado de casas com rendas que sobem todos os anos.
“Todos nós sentimos o aumento de preços das casas, mas a questão vai além dos valores”, garante. Tiago acredita que Lisboa entrou no circuito do capital financeiro estrangeiro e isso está a tirar qualidade de vida à cidade. “as casas estão mais caras, assim como o trabalho e os transportes. Na prática, vivemos uma vida cada vez mais precária”, resume.
Esta casa foi a primeira a ser ocupada, mas o grupo admite não ficar por aqui. “Queremos desmistificar a questão da ocupação e mostrar que estes espaços podem ser de usufruto social”, refere.
Rendas a subir O último estudo da consultora imobiliária CBRE revela que o valor do arrendamento em Lisboa subiu 23% no último ano, para uma média de 830 euros por mês. A zona mais cara para arrendar casa é a do Parque das Nações, em que uma casa ronda os 1080 euros. Seguem-se as Avenidas Novas, em que os inquilinos pagam, em média, 998 euros de renda mensal.
A esta constatação junta-se uma notícia que esta semana voltou a abalar o setor da habitação. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, as rendas vão voltar a subir em 2018, com um aumento a rondar os 1,12%, o que representa mais do dobro da subida deste ano e o maior dos últimos cinco anos.