Trump vai à ONU e elogia trabalho de Guterres: “Tem sido fantástico”

O Presidente americano, que tanto criticou as Nações Unidas, uniu-se ao novo secretário-geral para, juntos, reformarem a organização.

O novo presidente americano e o novo líder da ONU não fizeram ontem caso da falésia que os separa em matérias tão fundamentais como a globalização, o acolhimento de refugiados ou o combate ao aquecimento global e em vez disso alinharam naquilo que têm em comum: o desejo de reformar as Nações Unidas, cortar na burocracia e prestar mais atenção aos resultados do que ao processo. E aí demonstraram ontem uma imagem improvável de unidade. “Você tem sido fantástico”, disse Donald Trump ao ex-primeiro-ministro português António Guterres, afagando-lhe o braço enquanto se dirigia à audiência da sessão promovida pelos EUA em defesa de mudanças no funcionamento da ONU.

Trump é o enigma que todos os diplomatas procuram resolver na Assembleia Geral das Nações Unidas desta semana. Discursa hoje, ao início da tarde na hora portuguesa, e poucos se arriscam a adivinhar se a postura do novo presidente americano se assemelhará mais à que demonstrou em_Bruxelas, onde admoestou os parceiros da NATO em público, nas primeira semanas do seu mandato; ou se estará mais contido e em busca de consensos, como ontem demonstrou ao lado de Guterres. “Quero agradecer ao secretário-geral Guterres [pronunciou Gureres e aí lhe tocou no braço, elogiando-o] por se juntar a nós, ao reafirmarmos um compromisso de reforma às_Nações Unidas. E é de reforma que estamos a falar. Aplaudo o secretário-geral por nos apresentar um projeto de reforma para que a ONU possa melhor servir os povos que representa.”

Nem tudo em_Trump foram palavras doces, mas nenhuma foi abertamente ácida. O presidente americano reconheceu que a organização “foi fundada em valores verdadeiramente nobres”, mas disse que “não atingiu o seu verdadeiro potencial por causa da burocracia e má gestão”. Queixou-se também do encargo financeiro que a ONU_significa nos cofres de Washington e sugeriu que alguns Estados-membros “se encarregam de uma porção desproporcional do peso, e isso é financeiramente tal como militarmente”. Trump, no entanto, teve ontem ao lado um novo líder da ONU_que impôs reformas ao gabinete de proteção de refugiados quando o liderou e se candidatou ao lugar de topo da organização prometendo voltar a fazê-lo. “Alguém me perguntou o que é que me deixa acordado à noite”, lançou o secretário-geral português ao lado de Trump. “E a minha resposta foi simples:_burocracia.”

 

Crise de reforma

Espera-se que Guterres fale sobre esta linha reformista naquele que será o seu primeiro discurso como líder da ONU na Assembleia Geral – também será a primeira intervenção do presidente francês Emmanuel Macron, que em quase tudo tenta ser o oposto globalista de Trump. O “Público” noticiava esta semana que o ex-primeiro-ministro português planeia a reestruturação de dois órgãos nas operações de Paz e Segurança:_o Departamento de Assuntos Políticos e o das Operações de Paz;_ligando as operações de dois braços considerados isolados.

O_financiamento à ONU parece, no entanto, uma incógnita. Os EUA já anunciaram a saída do Acordo de Paris contra as alterações climáticas, que em parte funciona através de incentivos financeiros a países em desenvolvimento. Noutros temas, Trump pode também cortar, embora Guterres prometa poupar no orçamento anual da organização. “É um reformista”, afirma um diplomata não identificado ao “El_País”, numa peça de ontem e em que no jornal espanhol apenas se encontram elogios ao governo ativo de António Guterres – que começou em janeiro. “Fala sem recorrer a notas, conhece os cantos à casa e é um construtor de consensos”, dizia outro. “E, para além disso, não tem pulso fraco”.