Em busca de um envelhecimento ativo

A população da Europa continua a ser muito envelhecida, mas envelhece com mais qualidade. Os dados foram divulgados, esta manhã, na Conferência Internacional das Nações Unidas “A sustainable society for all ages: Realising the potencial of living longer” a decorrer em Lisboa.

Os dados referem-se à realidade dos últimos cinco anos nos Estados-Membros da Comissão Económica das Nações Unidas Para a Europa (UNECE).

Durante dois dias, o Centro de Congressos de Lisboa recebe a Conferência Internacional das Nações Unidas, onde marcam presença representantes de 55 países e mais de 400 participantes, para discutir o envelhecimento na Europa e o seu potencial.

Esta quinta-feira, no primeiro dia, o assunto está a ser discutido por vários especialistas em três painéis, à luz de três temas: reconhecer o potencial das pessoas mais velhas, promover o prolongamento da vida ativa e manter a capacidade de trabalho e garantir o envelhecimento com dignidade.

A manhã começou com a apresentação dos resultados da implementação das estratégias acordadas na última conferência, realizada em 2012 em Viena, e onde foram acordadas quatro linhas de atuação principais: encorajar o prolongamento da vida ativa e manter a capacidade de trabalho, promover a participação, a não-discriminação e a inclusão das pessoas mais velhas, promover e salvaguardar a dignidade, saúde e independência na terceira idade e manter e impulsionar a solidariedade entre gerações.

 

Envelhecimento populacional: uma tendência significativa

Na abertura da conferência, o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, António Vieira da Silva, notou que “o envelhecimento populacional tem sido uma das mais significativas tendências deste século”. O ministro frisou que, simultaneamente, é necessário garantir que há maior qualidade de vida.

Invocando o nome da conferência – “uma sociedade sustentável para todas as idades” -, Vieira da Silva defendeu, que para construirmos uma sociedade assim, é preciso “um combate permanente contra o discurso de segregação geracional” e a promoção da “solidariedade”, especialmente entre gerações. Tem de haver, portanto, “um compromisso conjunto”.

Questionado pelos jornalistas, mais tarde, quanto ao eventual aumento das pensões no próximo orçamento de estado, o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social recordou que “há três anos estávamos a discutir quanto seriam os cortes nas pensões” e agora “estamos a discutir quanto serão os aumentos”.

Aos jornalistas, António Vieira da Silva falou ainda sobre a violência contra os idosos, garantido que o governo está alerta: têm sido feitas “ações de sensibilização” para o problema, e hoje as forças de segurança mostram-se “muito mais preparadas” e têm uma formação “muito mais adequada” para lidarem com essas situações, cada vez mais visíveis.

No seu discurso, o ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes, falou do caso português e recorreu a previsões do INE para traçar um panorama pouco animador: entre 2015 e 2080, a população idosa portuguesa passará de 2.1 milhões para 2.8 milhões de pessoas.

Contudo, o ministro da Saúde sublinhou que o envelhecimento não é um problema em si mesmo, defendendo que o problema é o “envelhecimento com doença”. E mostrou-se consciente em relação às necessidades: “é preciso desenvolver um conjunto de medidas” para dar mais qualidade de vida aos idosos.

A abertura da conferência contou também com as palavras da secretária executiva da UNECE. Olga Algayerova defendeu que devemos reconhecer a contribuição dos idosos para a sociedade, apontando inúmeras circunstâncias em que o seu valor é notório: os cuidados não pagos dos avós aos netos, a riqueza da sua sabedoria e do conhecimento que transmitem aos mais novos e, até, o facto de estimularem nichos de mercado, como o setor das viagens.

No entanto, não basta reconhecer essa contribuição: apesar de ter menos “exposição pública” do que o racismo ou o sexismo, a verdade é que o idadismo – discriminação pela idade – existe e não deve ser ignorado.

Mais tarde, antes da pausa para almoço, foi a vez de Marcelo Rebelo de Sousa discursar. O presidente da república não ficou indiferente à tendência europeia e portuguesa no que ao envelhecimento diz respeito, alertando que vai crescer “exponencialmente”.

Defendeu, por isso, ser necessário garantir que existem “sistemas de saúde” de qualidade. O presidente da república destacou a importância da qualidade de vida e da dignidade humana, não esquecendo que hoje se celebra o Dia da Doença de Alzheimer, “uma das doenças das pessoas idosas”. Defendeu, ainda, que “temos de fazer a ligação” entre as diferentes gerações.

Aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa disse, depois, que as políticas sobre estas matérias “não mudam de acordo com a cor do governo” e alertou para a necessidade de “haver um acordo generalizado”.

 

Os números do envelhecimento na Europa

O relatório hoje divulgado revela que em 2017, no conjunto dos países da UNECE, 15.4% da população tem mais de 65 anos. Em 2030, os indicadores preveem que a população vai diminuir em mais de 20 Estados-membros – devido a fatores como o aumento a esperança de vida, os baixos índices de fertilidade e os crescentes movimentos migratórios -, e a população com mais de 65 anos vai corresponder a mais de um quinto da população total.

No caso português, isso já era uma realidade em 2015: mais de um quinto da população tinha 65 ou mais anos. Para 2030, a previsão é pouco animadora: as estimativas indicam que mais de um quarto da população portuguesa estará nesse intervalo de idades.

Os idosos são particularmente ativos no seio da família, e isso tem tendência a aumentar no que respeita à participação no mercado de trabalho, devido ao aumento da idade de reforma em muitos países. Quanto à empregabilidade, o cenário também é positivo: entre 2005 e 2015, a média das taxas de emprego dos países da UNECE registou aumentos, especialmente entre os 60 e os 69 anos.

Outro dado relevante prende-se com a assistência dos idosos aos filhos ou netos: em 2007 e 2012, em Itália, por exemplo, mais de metade da população com mais de 55 anos prestava ajuda aos netos e aos filhos. Em Portugal, 29.4% dos homens e 26.8% das mulheres nesse intervalo etário dava assistência aos filhos e netos.

Entre 2008 e 2012, o acesso dos idosos à saúde e aos cuidados dentários manteve-se na maioria dos países da UNECE, mas em Portugal registou-se um decréscimo significativo: mais de 5%.

O relatório revela ainda que a segurança financeira das pessoas com mais de 65 anos tem vindo a aumentar nos Estados-Membros da UNECE.

Quanto ao isolamento, a tendência pouco mudou. Entre 2008 e 2012, o número de pessoas com mais de 75 anos que vivem sozinhas nos países da UNECE manteve-se elevado, com uma taxa correspondente a 85%.

O relatório revela, ainda, um maior à vontade dos mais velhos com a Internet. Em Portugal, entre 2005 e 2015, houve um aumento particularmente significativo: 13% dos homens e 6% das mulheres usavam a Internet de forma frequente em 2005 e, em 2015, os números aumentaram para 36% nos homens e 26% nas mulheres.