Há um ‘congresso’ do CDS em Lisboa, marcado para dia 1 de outubro. É Assunção Cristas que vai a votos, não só como presidente de Câmara, mas como líder de partido. Os votos não serão só de militantes e as pressões não advêem apenas da sua estrutura interna. São os lisboetas – por opção de Cristas – que vão ou não legitimá-la. Fica como vereadora mas tem que ficar à frente de Paulo Portas de 2001 (7%) para ficar também como líder. As sondagens, num partido usualmente avesso a esse tipo de estimativas, são simpáticas. As expectativas em torno das mesmas chegam e sobram como incentivo. Foi – e ainda é – uma campanha feita à imagem de Assunção: presencial, mediática, omnipresente, barulhenta. Um ‘one woman show’ sem coligações, sem senadores do partido ou nomes do grupo parlamentar nas listas, com mulheres independentes (como ela foi e não há muito tempo) em lugares cimeiros e o espírito voluntarista da juventude partidária (a JP) muito presente nas candidaturas às juntas de freguesia da capital.
A história do possível apoio do PSD à ex-ministra de Passos já teve várias versões, de um lado e do outro, mas tanto Carlos Carreiras como coordenador autárquico dos ‘laranjinhas’ como a própria Assunção já referiram a questão do Porto como decisória. O PSD não abdicaria de candidatura sua em Lisboa se Cristas não abdicasse de Rui Moreira no Porto – e a presidente do CDS não quis voltar atrás ao antes prometido.
Nacionalmente, as coligações dos partidos de centro-direita foram mais do que as conseguidas há quatro anos, aquando das últimas eleições autárquicas, ainda que as negociações não tenham sido tão tranquilas quanto as ocorridas durante o tempo de governação nacional em comum. Passos e Portas, com as diferenças e divergências conhecidas e evidentes, tinham parceria bem distinta da hoje vivida entre o ex-primeiro-ministro e Assunção Cristas, que procurou demarcar o seu partido do PSD, deixando o cadastro da austeridade mais para os sociais-democratas do que para o seu regaço.
A fuga à coligação em Loures, deixando Passos sozinho com a tempestade mediática de André Ventura, foi a prova mais recente, mas não a única. A subtração de Teresa Leal Coelho nos debates de Lisboa, em que Cristas insistiu ser a única «alternativa a Fernando Medina», veio dar razão a Miguel Relvas, que em entrevista senatorial ao Expresso, observou que o CDS pós-Portas «anda atrevido».
Tem sido assim, à direita, entre a marota e o maratonista; entre a tentativa de novo centrismo de Assunção (que não hesita em pedir vinte estações de metro até 2030 ou em celebrar quotas de género) e a espera – a longa espera – de Pedro Passos Coelho.
Lisboa é um aquecimento de Cristas que pode gerar câimbra ou conseguir honroso apuramento para a corrida seguinte.
As autárquicas são um primeiro obstáculo sério na marcha de Passos até às legislativas de 2019. Até lá, terá estas eleições locais, o congresso de renovação (ou substituição da sua liderança interna) no primeiro trimestre de 2018 e europeias.
Até dia 1 de outubro, Rui Rio está discreto. E a verdade é que Passos vai segurando o aparelho – as distritais de maior dimensão – desde a pausa política do verão. A esquerda, sabe-se, tentará colar Passos aos possíveis desaires em Lisboa e no Porto (em que o 3º lugar daria celebração da ‘geringonça’ mais por demérito alheio do que por virtude própria) e ofuscar um resultado conjunto nacional que dificilmente será pior para os sociais-democratas do que aquele que foi em 2013, em plena austeridade.
Nos corredores ‘laranjas’ há outras prioridades. Passos correu o país, apresentou candidatos, faz campanha, mas os temas são sempre executivos e não autárquicos – como a lei da imigração ou as negociações para o Orçamento do Estado. «Ele não está nem aí. Se ele quisesse saber das autárquicas, não tinha dois críticos do anterior Governo como candidatos a presidente de Assembleia Municipal [Lisboa e Porto], não é?», sentencia um apoiante. Talvez seja. Como talvez se verifique um consenso tácito no partido que lhe confira imunidade ao resultado autárquico e o faça sobreviver até às próximas legislativas, no estranho que será ver um partido de poder convertido em sobrevivente a derrotas.
«O facto é que ele ainda não perdeu uma eleição», insiste um parlamentar ‘passista’. O tempo de vida desse ‘ainda’ é que vai a jogo daqui a uma semana.
Para Assunção Cristas, por outro lado, a expectativa é, já diz o slogan, «pela positiva». A possibilidade de aumentar o número de câmaras para mais uma (a sexta) é real. Mas caso desiluda na capital, é outra realidade que lhe baterá à porta. Bem menos sorridente do que António Costa.