1.TOURADAS. A S&P recolocou a dívida pública portuguesa na categoria de investimento – vulgo, retirou-a do ‘lixo’. Logo vieram a público as personagens da situação açambarcar os louros. Parece-me um grande despudor. Vieram-me à memória as pegas de caros na tourada à portuguesa: o touro dispara, o forcado da cara aguenta o primeiro embate mas não para a besta; atrás dele juntam-se os ajudas e, já no fim, com o animal quase dominado, o rabejador. A quem se deve o sucesso da pega? Ao rabejador? Ou ao trabalho dos oito forcados? A ‘inversão da austeridade’ não foi a causa da subida do rating pela simples razão que aquela não ocorreu. Parece que sim porque a Europa cresce, o BCE compra dívida e o estilo de governo é distendido. Mas não! Nem pode, quando a dívida publica é 126,2% do PIB, proporção apenas ultrapassada pelo Japão, Grécia, Itália, Jamaica e Líbano.
2.DE VELAS ENFUNADAS. O discurso do ‘Estado da Nação’ proferido por Jean-Claude Juncker foi típico da cegueira maximalista dos eurocratas. É verdade que o BREXIT (e as ameaças de novos ‘exit’) soou como um toque a rebate e uniu a Europa como há muito não se via. Mas pretender que os problemas que estiveram na origem do BREXIT estão resolvidos com a saída do RU ou se resolvem com um reforço da deriva federalista é de uma grande cegueira. A UE é uma união voluntária de nações soberanas que decidiram, como forma mais eficiente que prosseguir objectivos soberanos comuns, partilhar aspectos da sua soberania. São nações com história e memória. É muito difícil acreditar que todas elas se disponham a marchar a compasso no aprofundamento dessa partilha.
3.O ESCORPIÃO. Boris Johnson – o “louco genial” que se acha Churchill encarnado e que, nas horas vagas deixadas pela conspiração, é Ministro dos Negócios Estrangeiros de Sua Majestade – atacou de novo. Depois de ter mordido de morte David Cameron, eis que ataca Theresa May. O pretexto é a defesa do que ele chama o «espírito» do voto popular e que a PM estaria disposta a trair nas negociações do divórcio da UE. Boris não podia estar mais nas tintas para o voto ou para o povo e também sabe que muito dificilmente liderará os Tories. A realidade é bem mais simples: como na fábula do elefante e do escorpião, morder está-lhe na natureza, mesmo que isso lhe custe a vida. Mas este episódio mostra também quão difícil será a negociação do BREXIT pois, para além a complexidade do processo, a parte britânica ainda não arrumou a sua própria casa. E o referendo já foi há 15 meses.