O Podemos, terceiro maior partido espanhol, organizou ontem, em Saragoça, uma reunião da Espanha plurinacional onde participaram representantes do nacionalismo basco e do nacionalismo catalão, como o Partit Demòcrata e Esquerra Republicana, e a coligação valenciana Compromís, que terminou com um apelo direto ao Partido Socialista (PSOE) e ao seu líder, Pedro Sánchez, para que deixem de viabilizar o governo de Mariano Rajoy e a sua “política de excecionalidade e repressão” e apoiem o referendo na Catalunha.
“Necessitamos que o Partido Socialista encontre o seu próprio caminho longe da via reacionária e autoritária do PP. Companheiro Sánchez, não caias na armadilha da frente com o PP, que é a rota da destruição da democracia e de Espanha como projeto coletivo”, disse Pablo Iglesias, líder do Podemos, citado pelo “La Vanguardia”.
Ada Colau, presidente da câmara de Barcelona, dirigiu-se igualmente ao líder socialista: “Sánchez apelou à responsabilidade do Estado e eu digo-lhe, de forma humilde, que a responsabilidade do Estado é escutar a Catalunha, e não aliar-se a um PP que está a praticar a repressão e a suspender o autogoverno da Catalunha.”
A Declaração de Saragoça fala de um governo espanhol “que ameaça as liberdades fundamentais constitutivas da democracia” e pede-lhe diretamente para “dialogar com a Generalitat e com o conjunto de forças para encontrar soluções que permitam à cidadania catalã decidir o seu futuro num referendo acordado com o Estado”. O texto inclui ainda um conselho que vai além das fronteiras da Catalunha: “É necessário iniciar o debate sobre a reforma territorial do Estado, algo que se deve fazer com a participação de todos os atores políticos.”
Para Pablo Iglesias, “há uma forma de construir pátria que não se faz a partir da exclusão e da negação do outro. E aqui, hoje [ontem], há patriotas bascos, galegos, catalães, andaluzes e também patriotas espanhóis que apelam ao governo para que, no próximo 1 de outubro, permita à cidadania catalã expressar-se e exercer os seus direitos democráticos, e que cesse a repressão e a política de exceção. E pedimos que não force o código penal e a lei para enfrentar situações que só se podem enfrentar com o diálogo e a política”.
Sánchez, entretanto, esteve na Catalunha este fim de semana e, em entrevista ao “La Vanguardia”, pediu “uma vez mais ao presidente [Carles] Puigdemont que desconvoque uma votação que não cumpre com as garantias democráticas exigíveis para ser um referendo”.
O socialista considera que “a fuga para a frente do governo só vai trazer frustração e divisão” e que “a solução não são as vias unilaterais e o imobilismo”, porque o independentismo não é maioritário e “não se pode partir pela metade a sociedade catalã”. A solução passa por, diz Sánchez, “deixar para trás a lei do mais forte e abrir a porta à lei do diálogo”.