Foi um sábado escaldante no Palácio do Grande Oriente Lusitano, ali ao Bairro Alto, em Lisboa. Iniciava-se o ano novo maçónico, com a eleição do presidente da Grande Dieta – o parlamento maçónico –, dos seus vice-presidentes e presidentes das comissões dos Negócios Estrangeiros, Património, entre outras. O candidato da oposição, Carlos Bicas, perdeu por 72 votos contra os 86 do atual presidente da Grande Dieta, Rui Santos, que foi reeleito. Aliás, a oposição ao grão-mestre reeleito, Fernando Lima, não conseguiu também eleger os seus candidatos à vice-presidência da Grande Dieta e comissões parlamentares. É depois deste acontecimento que se dá o inesperado – a oposição abandona os trabalhos do ano novo maçónico e nem chega a assistir a investidura do grão-mestre reeleito.
A decisão foi tomada na sequencia de o reeleito presidente da Grande Dieta propor que a sessão passe a ser presidida pelo grão-mestre em funções – ainda antes da sua investidura formal depois da reeleição em junho – já que estavam presentes no Templo José Estevão, a mais simbólica sala de reuniões da sede do Grande Oriente Lusitano, delegações estrangeiras e também uma representação da maçonaria feminina.
E é com esta decisão da presidência dos trabalhos passar para o grão-mestre que a oposição interna não concorda. Dezenas e dezenas de maçons descontentes abandonam o Palácio da rua do Grémio Lusitano e recusam assistir à tomada de posse de Fernando Lima e ao seu discurso.
O grão-mestre foi investido em funções e leu a sua mensagem, mas não houve tempo para eleger o Conselho da Ordem nem – uma espécie de ‘ministros’ da maçonaria – nem o Tribunal Maçónico, o que acontecerá em reunião marcada para dia 14. No discurso que fez aos seus irmãos, Fernando Lima insistiu na ideia de renovação, que tinha sido o mantra dos candidatos que venceu na disputada eleição de junho, exigiu ‘rigor maçónico’, quer dentro da maçonaria quer na ‘vida profana’ – que, no léxico maçónico, significa a vida fora das paredes do templo – e apelou à tolerância contra os extremismos.
Audiências aos órgãos de soberania
A propósito dos 300 anos da maçonaria, o grão-mestre vai agora pedir audiências institucionais a todos os órgãos de soberania – Presidente da República, primeiro-ministro, presidente do Tribunal Constitucional, presidente do Supremo Tribunal de Justiça. É a primeira vez que um grão-mestre da maçonaria, organização quase secreta ou discreta – a doutrina divide-se – toma uma decisão de reunir formal e institucionalmente com o poder político e judicial. Reuniões informais já terão sido muitas, como se sabe, até porque todos os governos, ou quase, tiveram ministros maçons. António Arnaut, antigo ministro da Saúde, já contou publicamente que antes de discutir a criação do Serviço Nacional de Saúde dentro do governo de que fazia parte discutiu-o com os seus irmãos da maçonaria.