Uma foto recente de Vladimir Putin em pose num desporto radical retrata a determinação do senhor do Kremlin quanto ao retorno da eterna e histórica postura hegemónica do Estado russo, através da exibição de uma política agressiva, centrada em dois vetores principais de matriz ideológica totalitária.
Por um lado, a sempre rentável arma política e económica de efeitos múltiplos, baseada num quase monopólio do fornecimento de petróleo e de gás à Europa Central. Por outro, a tradicional exibição de força bruta, quando decide ostentar mísseis, aviões e canhões através das suas Forças Armadas ou sob a camuflagem de forças especiais militares de segurança (privadas, esclarecem eles!). Estas muito mais rentáveis, porque mais difusas e redundantes, atuando na Ucrânia, na Síria ou a partir do enclave de Kalininegrado.
Quanto à flexão do ‘músculo’ energético, Putin acredita que este setor constitui uma poderosa arma com a qual espera restaurar a grandeza perdida da antiga União Soviética (URSS) através da pressão exercida sobre as desunidas democracias ocidentais e da ameaça de poder fechar em qualquer altura o fornecimento destes produtos estratégicos aos países centrais da União Europeia (EU) e da NATO. Sempre que os novos Estados europeus independentes, libertos do seu jugo, procuram integrar-se na UE ou na NATO, logo os dirigentes russos reagem adotando atitudes de extrema agressividade e provocatórias para evidenciar quem manda na região. Servem de exemplos a imposição de embargos comerciais à Geórgia, Moldova, Ucrânia e aos Estados da região do Báltico.
A utilização da energia como uma arma por parte de Putin constitui apenas a face visível de uma súbita dureza de atuação russa que atinge todo o aparelho da multiforme Rússia. Com o parlamento neutralizado, a televisão sob férreo controlo estadual, a imprensa amordaçada e as regiões autónomas incapazes de exercer o seu próprio controlo regional, a presidência russa conseguiu concentrar em si todo o poder, com o Kremlin a controlar os gigantes económicos e as operações financeiras, particularmente as impressionantes Forças Armadas russas em acelerada modernização.
Quanto ao ‘músculo’ militar, o senhor do Kremlin tem exercido intensa e calculada pressão militar em duas áreas geoestratégicas e geopolíticas em que tenta enfraquecer os EUA e a Europa.
Nas fronteiras asiáticas do seu imenso território, e numa manobra de ataque estratégico em pinça, suporta sem restrições o expansionismo chinês sobre todo o Mar da China, com a Coreia da Norte a representar a clássica manobra de diversão ao ameaçar bombardear o território americano de Guam.
Em simultâneo, nas suas oscilantes fronteiras ocidentais europeias, vai mantendo a NATO e a UE em sobressalto, executando multifacetadas manobras estratégicas calculadas. Manobras essas resultantes do emprego de estratégias indiretas que visam distrair os ocidentais dos seus ataques diretos contra objetivos precisos e de há muito delineados: sobre os Países Bálticos a norte e sobre o domínio do Mediterrâneo oriental, da Síria e do Irão a sul; enquanto inexoravelmente vai completando o cerco à Turquia, explorando o insucesso da sua integração europeia.
O exercício da pressão assimétrica sobre a América e os países europeus consiste em mantê-los imobilizados, corroídos pelas diferenças norte-sul e pela ação insidiosa dos PCs no seu interior, cumprindo as estratégias emanadas pelo Kremlin, fixando-os em incidentes menores que este fomenta. Para então atacar em força em áreas onde as opiniões públicas ocidentais em letargia, induzidas pelos media e as forças de extrema-esquerda por si controladas e disfarçadas de ‘lutas patrióticas’, provocam a desistência dos Governos em intervirem e exercerem as respetivas políticas externas em regiões sensíveis por onde a Rússia continua a expandir-se. Servem como exemplo as suas intervenções em todo o Médio Oriente, na América do Sul e em África.
O testamento do Czar Pedro o Grande parece prestes a cumprir-se!