São séculos e séculos de história, peças e edifícios únicos no país. Para contribuir para a preservação de um património de valor incalculável, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a União das Misericórdias decidiram passar a alocar este ano 25% das verbas do Fundo Rainha D. Leonor a projetos de restauro e conservação. E prometem não faltar iniciativas pelo país fora: ao todo, o fundo recebeu 13 candidaturas, maioritariamente para o restauro de igrejas e construção de núcleos museológicos.
O Fundo Rainha D. Leonor resultou de um acordo de parceria entre a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a União das Misericórdias Portuguesas, assinado em 23 de Abril de 2014.
Se nos primeiros anos tem apoiado sobretudo projetos de inovação social, a promoção do envelhecimento ativo e da intergeracionalidade, a recuperação do património simbólico foi desde o início uma preocupação e ganhou este ano um novo fôlego. O facto de muitas vezes estes projetos acabarem por ser relegados face à urgência do atendimento e carências sociais levou a que houvesse um esforço no sentido de apoiar mais projetos na área patrimonial. E o desafio é grande: as Misericórdias são as instituições do País com mais património histórico logo depois das Dioceses da Igreja Católica. Guardam documentos raros e têm a seu cargo monumentos classificados, peças artísticas valiosas e livros antigos com cinco séculos de história, legado da longa história da assistência das Misericórdias e da dádiva de beneméritos que assim homenagearam a história das instituições.
Como acontece na vertente social, os projetos submetidos ao fundo são avaliados por uma equipa técnica que inclui especialistas em Monumentos Nacionais, direito e Finanças, responsáveis por elaborar pareceres que fundamentam a pontuação das candidaturas. As iniciativas são assim classificadas de forma a obterem financiamento até ao limite das verbas disponíveis em cada ano – o Fundo Rainha D. Leonor tem um orçamento anual de 5 milhões de euros e este ano estão destinados à vertente patrimonial 1.250.000 euros.
Entre os vários critérios que pesam na avaliação está o valor patrimonial do projeto em causa, a antiguidade do património, iniciativas que visem a preservação ou conserto de danos estruturais e que constituam maior risco mas também as que abranjam locais destinados ao culto ou que possam ser integrados em circuitos turísticos. A simbologia do património para as populações locais ou mesmo a nível nacional é outro critério valorizado, sendo que o fundo prevê prioritariamente a reabilitação de bens imóveis.
Agora prestes a dar nova vida a património histórico, nos últimos anos são muitas as histórias de renovação de equipamentos por todo o país com o apoio deste fundo que é uma memória viva da Rainha D. Leonor, que a 15 de agosto de 1498 fundou a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, dedicando a sua vida a realizar as 14 obras de misericórdia, sete materiais e sete espirituais, da consolação à instrução, da assistência aos famintos ao acolhimento de peregrinos. D. Leonor fundaria a Misericórdia de Óbitos e muitos dos projetos marcantes da história do país e da vida das Misericórdias, como o hospital-balnear das Caldas da Rainha, o o Convento e a Igreja da Madre de Deus, o Convento da Anunciada, a Igreja de Nossa Senhora da Merceana, a Igreja de Santo Elói no Porto, as Capelas Imperfeitas do Mosteiro da Batalha e as sete merceeiras no Convento de Santo Agostinho.
Requalificações de residências para idosos e jardins de infância têm sido alguns projetos apoiados pelo fundo nas Misericórdias de todo o país, beneficiando centenas de utentes e colaboradores. Com o património em destaque na edição deste ano, também o público terá oportunidade de conhecer melhor os tesouros guardados pelas instituições.