Um adeus amargo

Pedro Passos Coelho não se vai recandidatar à liderança do PSD. Na sequência do pior resultado de sempre do PSD em eleições autárquicas, essa era a coisa decente a fazer. Apesar de não ter votado nele, nem nas autárquicas nem nas legislativas anteriores, não deixo de lhe reconhecer coragem política e hombridade pessoal. Como primeiro-ministro…

Pedro Passos Coelho não se vai recandidatar à liderança do PSD. Na sequência do pior resultado de sempre do PSD em eleições autárquicas, essa era a coisa decente a fazer. Apesar de não ter votado nele, nem nas autárquicas nem nas legislativas anteriores, não deixo de lhe reconhecer coragem política e hombridade pessoal.

Como primeiro-ministro do governo que teve de aplicar o programa de estabilização financeira acordado com a troika, não lhe coube uma tarefa fácil. Decidido, diminui salários e pensões, aumentou impostos, e suprimiu feriados. Mas, se bem que se possa argumentar que estas medidas, extremamente impopulares, foram necessárias para obtermos ajuda financeira internacional, Passos liderou um governo um pouco trapalhão. Assim o demonstram os sucessivos chumbos que medidas legislativas governamentais encontraram no tribunal constitucional – sobre o qual, no atual governo, mais ninguém ouviu falar – ou as enormes manifestações contra a reforma da Taxa Social Única proposta pelo falecido Professor de Economia António Borges, manifestações essas que o fizeram recuar na implementação da medida.

Passos Coelho nunca digeriu muito bem o facto de, sendo o PSD o partido com mais deputados no parlamento, não estar novamente a chefiar o governo. Mas a aritmética parlamentar mostra uma maioria dos partidos de esquerda, e a geringonça tem-se mostrado uma solução governativa estável, com a reposição de rendimentos a par de um acelerar do crescimento económico – 3% no último trimestre – ao contrário da célebre e falhada previsão de Passos: “vem aí o Diabo”.

Agora, teremos de esperar por janeiro ou fevereiro para sabermos quem será o próximo líder do PSD. A meu ver, o mais perigoso para a maioria de esquerda, e em particular para o PS, é Rui Rio. Fez um bom trabalho nos 12 anos em que presidiu à câmara municipal do Porto, demonstrando que é possível fazer obra a par do rigor financeiro, e coragem política não lhe falta. Não hesitou em afrontar o poder de Pinto da Costa, de quem ouviu o piropo “o único rio que tememos é o Douro”, e ganhou o confronto. A sua primeira vitória na câmara, em 2001, foi inesperada, pois concorria contra um presidente popular, Fernando Gomes. Se a economia desacelerar, o longo estado de graça do governo de António Costa pode estar a chegar ao fim. Pode.

Mas tudo isso é o futuro. No presente, não devemos negar um agradecimento a Passos Coelho, pelas medidas impopulares que foi forçado a tomar – embora nunca tenha cumprido as metas de défice orçamental a que se propunha – e por ter tido a dignidade de sair da liderança do PSD no momento certo, não prolongando uma agonia política que era evidente. E, como ainda é novo, quem sabe se não poderá, dentro de alguns anos, regressar à política, eventualmente como o candidato da direita à presidência da República.