Dão a pata, brincam, são curiosos e inteligentes, roubam comida e objetos aos donos, têm brinquedos, tomam banho, vão à rua e à praia, mas… não são cães nem gatos. Na hora de escolher um animal de estimação, é cada vez mais comum entre os portugueses a escolha recair sobre um animal exótico, em vez do clássico cão ou gato.
“A popularidade dos animais exóticos tem vindo a crescer”, diz Ana Mendes, veterinária na VetExóticos Clínica. Os motivos são vários. Entre eles, a curiosidade de ter um “animal diferente” e que “os outros não conhecem”, a “facilidade de maneio” em comparação com o cão e o gato, que sujam e desarrumam mais a casa, e o facto de serem animais mais fáceis para ter num apartamento, uma vez que, na sua generalidade, não fazem barulho e são mais pequenos. “Tornam-se mais apetecíveis”, defende a veterinária.
Ana Mendes é uma das pessoas à frente desta clínica aberta desde 2012 onde não entram nem cães nem gatos. É exclusiva para animais exóticos: “Atendemos todos os animais que, não sendo nem cães nem gatos, são animais de companhia. Por exemplo, atendemos cabras de companhia e porcos anões, mas não atendemos cabras de produção nem porcos de produção”. Para além de não ladrarem e não miarem, o requisito é que façam parte da família.
De mamíferos a aves, passando por répteis e anfíbios e não esquecendo os moluscos, pelas salas desta clínica passam animais de todos os géneros e feitios. Entre os mais usuais está o coelho, que a veterinária admite ser “o maior cliente da clínica”, mas a chinchila, o furão e a ratazana também são habitués. Já entre os mais invulgares estão os sapos e os caracóis – a clínica tem apenas uma cliente com caracóis de estimação.
Em cinco anos passaram pela VetExóticos 3000 clientes. E se quando abriu tinha dois trabalhadores, hoje conta já com uma equipa de cinco. E Ana Mendes acredita que tudo indica para um aumento dos números: “temos cada vez mais clientes e há cada vez mais espécies de animais que se tornam animais de companhia”, diz a veterinária. Mas os mais populares, acredita, serão sempre o cão e o gato.
Furões ladrões de comida Todas as noites, o mesmo comportamento: pelas 23h, a Fifi vai-se deitar na cama do gato – que já não é do gato e agora é dela – e o Fufu vai para dentro do armário. Aí ficam, a dormir, até que a dona os vá tirar e os deite nas suas camas, na gaiola, onde dormem o resto da noite.
“Vivi nos Estados Unidos da América durante mais de 20 anos e lá tinha um furão fêmea que adorava. Há 17 anos vim para Portugal e dei-a a uma pessoa que ficou com ela. Quando cheguei cá queria ter uma, mas apercebi-me de que era ilegal. Entretanto, há dois anos, os meus filhos descobriram que já era legal ter furões como animais domésticos e ofereceram-me uma albina”, conta Paula Coelho. Um ano depois, viria a comprar um segundo furão, macho e preto, a que deu o nome de Fufu. Para além dos furões, tem em casa três gatos. Um deles e Fufu são os melhores amigos.
Ao contrário do que acontece em muitos países, onde são animais de estimação especialmente populares, em Portugal a maioria das pessoas acha estranho ter furões em casa. É que, como Paula Coelho nota, não só estão associados à caça, como também existe a ideia generalizada de que os furões “cheiram mal ou mordem”. Mas a dona da Fifi e do Fufu garante que não é assim.
Segundo Paula, os furões machos cheiram mal quando se aproxima a altura de acasalar. E para grandes males grandes remédios: a solução é castrá-los, que foi o que fez ao Fufu. Outro truque é dar poucos banhos, porque “quanto mais banhos se dá, mais óleos o pêlo produz e pior cheiram”.
No que ao morder diz respeito, são muito brincalhões e mordem, sim, “a brincarem naturalmente uns com os outros” e com as pessoas – o truque, contudo, é tê-los desde pequeninos e educá-los “dizendo ‘não’, eles aprendem e não nos mordem com força”, assegura Paula. A partir daí, esperam-se “pequenas dentadinhas” ao brincarem com os humanos, “como as que os gatos dão”. Ainda assim, ultimamente Paula tem-se apercebido de um comportamento recorrente da Fifi. Sempre que alguém que não faz parte da família faz uma visita, ela morde-lhe o tornozelo. “Está-se a tornar uma ratinha-de-guarda”, diz Paula, explicando que Fifi se assemelha a um rato.
Segundo Paula, os furões “são como um gato”. Fazem as necessidades “em areia como os gatos” e, apesar de serem carnívoros, comem comida de gato – de gato bebé, em específico, “porque tem mais proteína e eles precisam”. Depois, se forem habituados desde bebés, gostam de “frango cru aos bocadinhos”. Fifi é diferente: Paula habituou-a a comer pêssego e, sempre que este pequeno furão fêmea albino vê pêssegos lá por casa, “rouba-os” e esconde-os, umas vezes onde dorme e outras atrás do sofá.
Esta é outra característica dos furões: roubar e esconder o que encontram, desde chaves a objetos de borracha. Para além de pêssegos, Fifi esconde chaves e telemóveis. Já Fufu contenta-se com bolachas, rebuçados, os seus ursinhos e chinelos. “O meu marido anda sempre à procura dos chinelos, mas já sabemos onde eles estão” – quase sempre, atrás do sofá.
São, também, muito curiosos e hiperativos. “Chego a casa e ponho um saco no chão e eles vão logo ver o que está lá dentro. Costumo guardar as tampas das garrafas na minha mala e a Fifi vai lá e tira-as”, conta Paula. Destaca-lhes, também, a inteligência: tal como um cão, dão a pata quando querem comida e “são os primeiros a chegar à porta quando alguém toca à campainha”.
Fifi e Fufu têm uma gaiola de quatro andares, com um 1,40 m de altura. Lá dentro, está tudo aquilo de que precisam: as camas, a comida e a caixa de areia. Como os furões têm tendência não só para esconderem objetos, mas para se esconderem também, Paula deixa-os na gaiola “porque é mais seguro”. Só saem quando está alguém em casa. Não roem nem estragam nada, garante, mas não são um bom animal para uma criança porque exigem muita atenção e “metem-se em sarilhos”. “É preciso ter cuidado com as janelas porque se veem alguma aberta, atiram-se”, exemplifica.
O dragão que muda de cor Já Daniela Miguéns ficou rendida a outra companhia fora do comum. “Mesmo em pequena, gostava muito de rãs e salamandras, sempre gostei muito de répteis. Há três ou quatro anos descobri os dragões barbudos, mas como vivia com os meus pais e eles não gostavam muito de répteis nunca ponderei ter um. Agora vivo sozinha, e há cerca de dois meses voltei a lembrar-me dos dragões barbudos e comecei à procura. Encontrei um rapaz que estava a vender o dele e comprei-o”.
O Frankie é um dragão barbudo com cerca de um ano e meio. Uma das características mais curiosas deste animal é a sua cor. Costuma ser castanho nas costas, vermelho escuro na cauda e laranja debaixo do pescoço, mas “muda de cor consoante a temperatura e o humor”, explica Daniela.
Frankie “não faz grande coisa”, mas é “dos répteis mais sociáveis e é o mais parecido com o animal doméstico comum”, nota a dona deste dragão barbudo. “Ele é simpático, podemos tê-lo ao nosso colo e dorme em cima de nós”.
Toma banho todos os dias no lavatório lá de casa e, segundo Daniela, parece gostar. “No primeiro impacto, quando o coloco dentro de água, fica muito irrequieto, mas depois fica sossegado”.
Passa muito tempo no terrário, onde dorme dentro de uma caverna. Os dragões barbudos são animais diurnos e dormem cerca de 12 horas por dia. Precisam de luz solar e, por isso, os terrários têm de estar equipados com uma luz que imita o sol e que emite raios UVB, evitando que desenvolvam problemas de saúde. Além disso, os terrários têm de ter um zona fria e uma zona quente.
Daniela elogia ainda a curiosidade do novo habitante lá de casa. “Às vezes solto-o no sofá – não o deixo andar no chão porque o chão é muito frio e ele regula a temperatura conforme o ambiente –, e ele anda de um lado para o outro a cheirar tudo”, conta. E indica uma outra característica especial destes animais: “eles cheiram com a língua, e por isso às vezes é muito cómico porque ele anda pelo sofá com a língua de fora”.
Como bom réptil que é, Frankie come insetos – larvas, grilos e baratas -, mas também come vegetais. No entanto, não é particularmente apreciador de verdes, por isso a sua alimentação “é mais à base de insetos”, que Daniela compra na clínica veterinária onde Frankie é seguido.
Tal como se de um cão se tratasse, Frankie vai à rua. “Levamo-lo no nosso ombro e ele agarra-se”, conta a dona. Gosta, também, de ir praia: “Pomos-lhe a trela e fica sempre muito sossegadinho, na areia a apanhar sol”. E as reações não demoram. “Há pessoas que nem notam. Algumas, dão um saltinho para o lado ou acham muito estranho e perguntam o que é. Outras até tiram fotografias e nós dizemos que podem tocar e que ele não faz mal, mas as pessoas dizem que lhes faz impressão. É muito raro alguém fazer-lhe festas.”
Mais fácil é a relação com outros animais. Ou, pelo menos, com gatos. Em casa, Frankie tem a companhia de dois felídeos, “que por vezes lhe tocam com as patinhas, mas mostram-se mais curiosos com o terrário do que com ele”, confessa Daniela.
Quando a paixão vira negócio Gonçalo Pereira é a cara por trás do Dart Geckos, um projeto de criação de geckos leopardos e de rãs dendrobates, que vende para Portugal e para o estrangeiro. “Começou por ser algo só para mim. Conhecia uma pessoa que se ia mudar e tinha geckos e não podia continuar com eles e fiquei com eles como animais de estimação”, conta. Depois, o gosto cresceu e acabou por se transformar num negócio.
Gonçalo tem um mestrado em biologia molecular e a curiosidade levou-o a pesquisar sobre as mutações dos geckos. E assim surgiu a vontade de começar a fazer criação: “os cruzamentos que são feitos são sempre a pensar no que podemos tirar dali e sempre para melhorar a cor do gecko ou alguma coisa específica no seu padrão. Os geckos leopardo têm já vários genes conhecidos que dão mutações diferentes e cores diferentes e assim”, explica.
É num anexo em sua casa que faz criação, em terrários, e lida diariamente com os animais. “São afáveis e acabam por interagir connosco porque alimentamo-los e eles associam-nos ao alimento”, conta Gonçalo. Por vezes, os geckos até raspam no vidro quando o veem aparecer. “Podemos pegar-lhes e não nos mordem”, conta o criador. E são muito fáceis de manter, desde que tenham “o aquecimento controlado”.
Já as rãs dendrobates, uma espécie sul-americana, são menos afáveis. Gonçalo compara-as a peixes e nota que “não são para pegar e andar a fazer festas”.
A manutenção também é mais difícil: um requisito obrigatório é “um terrário decorado com plantas verdadeiras e com humidades altas”. Tanto os geckos leopardo como as rãs comem alimento vivo.
Se os geckos já têm muita saída, para já Gonçalo ainda não vende as rãs. O Instituto de Conservação de Natureza e Florestas exigiu que os anfíbios fossem registados e o criador já iniciou o processo. Será este o próximo bicho a conquistar os corações dos portugueses?
Consulte as páginas oficiais destes animais: instagram.com/fifi.n.fufu
instagram.com/frankieboythebeardeddragon
instagram.com/dartgeckos
*Artigo editado por Marta F. Reis