1.Confirmou-se o que havíamos antecipado na nossa crónica habitual no jornal “i” de terça-feira: Pedro Passos Coelho decidiu não se candidatar a um novo mandato como líder do PSD. Mais uma vez, fica comprovado o sentido de Estado, a seriedade e a honestidade do anterior Primeiro-Ministro.
2.Passos Coelho já não teria – já não tem – que comprovar nada, nem nada deve à nobre causa do serviço público: o seu lugar na História da nossa Pátria já está garantido. Salvou-nos a todos de uma bancarrota que teria efeitos nocivos para nós e várias gerações de portugueses – por muito que não pareça, até porque a comunicação social omite este pequeno grande pormenor, os devaneios de José Sócrates custaram-nos bem caro.
Com António Costa como seu número dois. E a geringonça só existe devido ao trabalho de Pedro Passos Coelho. Mas sobre o ainda líder o PSD e o balanço do seu mandato, falaremos em próxima crónica.
3.Hoje, centremo-nos na corrida à sua sucessão que já faz manchetes e ocupa grande parte do espaço mediático. Rui Rio – parece! – finalmente avançará, com os apoios fundamentais de Nuno Morais Sarmento e Feliciano Barreiras Duarte (o ex-chefe de gabinete de Passos Coelho, de quem se afastou após ter sido preterido por Fernando Costa como candidato à Câmara Municipal de Leiria – é o exemplo de uma zanga pessoal que se converte em oposição política). É uma candidatura previsível e há muito (pré) anunciada.
4.Paulo Rangel e Luís Montenegro há muito que integravam a lista abreviada dos eternos candidatos: o primeiro, sem apoios na máquina e a piscar o olho ao passismo; o segundo, com o apoio inelutável de Miguel Relvas e a simpatia nunca escondida de Marcelo Rebelo de Sousa (de facto, por razões bizarras, Relvas e Montenegro são os únicos políticos que Marcelo genuinamente admira…).
Quer Montenegro, quer Rangel, para já, exercem uma figura conhecida do Direito – sobretudo, de direitos administrativos especiais, como o Direito do Ambiente e o Direito do Urbanismo – que é o direito (e dever) de ponderação.
5.A grande surpresa, porém, deste mini “Play-off” dos candidatos à liderança é a disponibilidade manifestada por Pedro Santana Lopes para avançar contra Rui Rio.
Aliás, o comentário de Santana, na SIC Notícias, perante os risos mais ou menos incontidos de António Vitorino, foi quase um discurso de anúncio de candidatura.
Há a percepção nas hostes santanistas de que a liderança do partido, neste momento da sua existência, terá que recuar uma geração: ou seja, terá que ser exercida por alguém da geração anterior a Pedro Passos Coelho.
Em termos prático, isto significa – segundo este tese, que é a de Pedro Santana Lopes – que a liderança do PSD passa por si próprio ou por Luís Marques Mendes.
8.No entanto, Santana Lopes tem um problema difícil de resolver: é que a máquina do PSD –sobretudo em Lisboa – acusa-o (também) pelo resultado catastrófico na capital de Portugal. É que Santana Lopes, após criar quase a certeza do seu avanço, prolongou as expectativas e a dúvida para além do politicamente admissível, deixando Passos Coelho sem margem para encontrar um candidato com o mesmo peso político.
9.É verdade que Nuno Morais Sarmento fez o mesmo – contudo, não é comparável, pois Nuno Sarmento foi sempre alguém da segunda ou terceira linha do partido, enquanto Santana Lopes é de primeira linha, até pelas funções que já exerceu no país.
Há, inclusive, a ideia no partido, que não subscrevemos mas que foi explorada, por exemplo, por Daniel Oliveira no passado domingo – de que Santana Lopes prolongou a indecisão sobre a sua candidatura em Lisboa para proveito pessoal. Porquê?
Porque ao ganhar força política com a ameaça da sua candidatura, Santana conseguiu ter mais peso negocial diante de António Costa para assegurar a sua continuidade como Provedor da Santa Casa.
Isto no partido – sobretudo entre os militantes de base – caiu mal. Mesmo muito mal. É uma tese porventura rocambolesca – mas que aí anda, quer nas bases, quer nas hostes socialistas.
10. No entanto, desta feita, Pedro Santana Lopes terá mesmo que avançar para a liderança do PSD. Já não é uma opção – é uma necessidade.
Após as suas palavras proferidas na televisão na terça-feira passada, Santana Lopes só pode avançar. Porquê?
Porque, se não o fizer, corre o risco (politicamente letal) de se transformar numa espécie de D. Sebastião (para não citar uma figura do espectáculo futebolístico português) do PSD. Há uma eleição qualquer, lá aparece Pedro Santana Lopes.
Há eleições presidenciais? Santana Lopes admite estar a ponderar (e depois falha).
Há eleições em Lisboa? Santana Lopes admite estar a ponderar (e depois falha).
Há eleições na Figueira da Foz? Santana Lopes admite estar a ponderar (e depois falha).
Há eleições para a liderança do PSD? Santana Lopes admite estar a ponderar (e desta vez não pode falhar).
11 Pedro Santana Lopes corre, assim, o risco de ser sempre o homem no ombro dos verdadeiros candidatos. Ora, isto mata a sua credibilidade e a seriedade dos seus avanços e recuos.
12.Tudo isto dito e redito, eis a conclusão inevitável: se quer preservar a imagem de credibilidade que reconstruiu (com muito mérito) pelo seu trabalho na Provedoria da Santa Casa, Pedro Santana Lopes terá mesmo de assumir a sua candidatura a líder do PSD.
E, por nós, congratulamo-nos pelo seu avanço – que contribua positivamente para a reflexão e discussão do futuro do nosso partido. Seja bem-vindo à luta, Pedro Santana Lopes!
A prova de que avançará foi a sua reacção à capa do “i” de hoje – Santana insurgiu-se contra a ideia de Rui Rio ser o “popeye”, ou seja, o candidato com mais força neste momento para triunfar, virando-se contra os jornalistas. Não há necessidade, meu caríssimo Pedro Santana Lopes!
Quanto às possibilidades de Pedro Santana Lopes alcançar um resultado positivo nas directas, falaremos em próxima prosa.
P.S – Sairá Santana Lopes do cargo de Provedor ou permitirá António Costa a acumulação das funções políticas em partido adversário com o exercício de tais funções administrativas?