Carles Puigdemont, presidente do governo autonómico catalão, anunciou que comparecerá na próxima terça-feira para informar o parlamento catalão "sobre a situação política atual", sem, no entanto, se ter referido ao artigo 4º da lei do referendo, que o obriga a declarar a independência por o "sim" ter ganho por 90% no passado domingo, de acordo com a lei catalã. O governo catalã já tornou públicos os resultados integrais pormenorizados do referendo.
Para poder discursar perante o parlamento catalão, Puigdemont usou o artigo 169.1 do regulamento interno do órgão legislativo, que estabelece que o presidente pode comparecer perante o plenário a seu pedido ou por acordo da maioria. A petição a requerê-lo já foi entregue à presidente do parlamento catalão, Carme Forcadell.
Atente-se, porém, que o Tribunal Constitucional espanhol suspendeu o plenário do parlamento catalão sob o argumento de inconstitucionalidade por suspeitar que a independência da Catalunha seria pronunciada na sessão ordinária imediatamente a seguir ao referendo, tal como estipula a lei do referendo da Catalunha.
Sindicatos da polícia exigem demissão de delegado do governo de Madrid
Depois da violência policial no domingo do referendo da Catalunha ter ecoado pelos meios de comunicação sociais de todo o mundo e nas redes sociais, Enric Millo, delegado do governo de Madrid na Catalunha, pediu desculpa pela atuação das forças policiais enviadas pelo governo de Mariano Rajoy para a região. O delegado lamentou que se tivesse "chegado a esta situação", da qual responsabilizou exclusivamente o governo catalão, e que muitas pessoas "tenham recebido golpes". Millo "pediu desculpas" em nome dos agentes que intervieram nesse dia contra as multidões que protegiam as assembleias de voto e as urnas do referendo.
Contudo, nem todos consideram que a violência praticada pelas forças policiais espanholas foi injustificada e se deva pedir desculpa. Este é precisamente o caso do Sindicato Unificado de Polícia (SUP), falando pelos quatro sindicatos (CEP, UFP, SPP e ASP) das forças policiais espanholas, que exigiu a demissão do delegado do governo. No seu entender, considera que a atuação da polícia "foi ajustada à lei como em outras centenas de ocasiões" e as cargas policiais se deveram à "inação" dos Mossos d'Esquadra, a polícia autonómica catalã, além de as ordens para desalojar os manifestantes das assembleias de voto ter sido enviada muito tarde.
O Sindicato estendeu as suas críticas a todos os políticos espanhóis. "O que Millo e os restantes ocupantes de cargos políticos deveriam fazer era pedir contas pelo atraso na nossa atuação", insistiu.
A independência da Catalunha poderá ser pronunciada por Carles Puidgemont, presidente do governo autonómico catalão, na próxima segunda-feira. Até lá, as movimentações políticas de bastidores e nas ruas não param num jogo a contra-relógio – e a central sindical não ficou de fora. Hoje de manhã, a organização pediu ao presidente do Tribunal Constitucional espanhol, Juan José González Rivas, a suspensão das funções de todos os envolvidos na atual situação na Catalunha pelo tempo necessário para se assegurar o cumprimento da ordem da alta instância jurídica. Porém, não referiram as pessoas que consideram responsáveis pelo escalar da tensão entre Madrid e Barcelona.
A opinião da central de que a violência de domingo passado foi justificada não é partilhada por organizações de direitos humanos. Uma delas é a do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o jordano Zeid Ra'ad Al Hussein, que, em comunicado, apelou às autoridades espanholas para assegurarem uma "investigação aprofundada, independente e imparcial a todos os atos de violência" cometidos em nome do Estado espanhol contra a população catalã e que "aceite sem demoras os pedidos de visita por parte dos peritos de direitos humanos da ONU".
O Alto Comissário afirmou ainda que "as respostas policiais devem ser proporcionais e necessárias", além de que a "situação atual deve ser resolvida através do diálogo político, com total respeito pelas liberdades democráticas".