Assunção Cristas poderia passar despercebida: as calças de ganga, os ténis de verão e a t-shirt em plena tarde lisboeta fariam da presidente do CDS confundível com a multidão, não fossem os vários que a vêm cumprimentar e parabenizar. A «máquina de campanha», como Marques Mendes recentemente batizou, é-o de facto. Mesmo quando a campanha já acabou.
O café onde pára para conversar reconhece-a e os proprietários contam que são pais de um militante da ‘jota’ do CDS, a Juventude Popular. Passa-se da coincidência para a conversa. «Eu acredito que sou líder do partido do futuro do centro-direita em Portugal», é uma frase com força para quem prefere não comentar os dois meses que o outro partido da direita, o PSD, estará à espera de novo líder.
Os resultados históricos em Lisboa, quase nos 21%, não são uma coisa para passar a tomar por garantido, mas «um sinal positivo e de encorajamento para fazer a nível nacional» o que foi feito na capital: «Muito trabalho e muita proximidade». O orgulho pelo sucesso lisboeta está lá, mas o foco nacional não se perdeu. Segunda-feira, apresentará um primeiro conjunto de propostas do partido ao Orçamento do Estado do próximo ano.
Mais se seguirão depois de conhecer a versão do Governo. Se uma campanha por Lisboa é para repetir, Cristas, que gosta de «permanecer consistente», diz que é prematuro dizer. O projeto para a oposição em Lisboa é baseado nos princípios que guiam a batuta parlamentar: «Firme, acutilante e construtiva». Como levou na moção ao congresso que fez dela sucessora de Paulo Portas. Foi também aí que lançou a ideia de ir a eleições legislativas numa lista encabeçada por si – sem coligações pré-eleitorais – e isso mantêm-se. «Com certeza. Claro que sim. Ser coerente não é ser inflexível. E eu gosto de ser coerente», diz, de café já tomado.
Mas há pontes feitas e a fazer entre a política local e a política nacional. Numa entrevista dada ao i deste fim de semana, João Gonçalves Pereira, que liderou a oposição camarária nos últimos quatro anos e foi porta-voz da campanha de Cristas, também salientou o resultado de Lisboa como transponível para ambições nacionais. O presidente da distrital lisboeta afirmou: «É preciso reconquistar a rede autárquica. E é preciso pensá-lo agora. O trabalho para 2021, para 2025 e para 2029 começa hoje». Para os centristas, o facto de Fernando Medina ter falhado em manter a maioria absoluta que herdara de António Costa é mérito da candidatura do CDS a Lisboa. Sobre as tais pontes entre o autárquico e o nacional, Cristas lembra um projeto de resolução que apresentou em setembro, precisamente sobre infraestruturas.
Cristas acrescentou a expansão do metro de Lis boa (que também defendeu em campanha e que, depois, António Costa, não descartou) e também a expansão do metro do Porto, «que curiosamente já aparecia no PETI», o programa que o anterior governo, de que Cristas fez parte, discutiu com o PS. A líder do CDS lembra que «tudo o que fora consensualizado e agendado no PETI não foi feito até agora» e que «os consensos não são só para existirem quando veem do governo». «Não apresentámos um projeto por causa do desafio do primeiro-ministro.
O consenso é importante, mas o contraste entre visões diferentes também é», defende Cristas, que gosta da Oposição «dura e construtiva». «Esta ideia de querer um ‘largo consenso’ nas obras públicas foi uma saída que António Costa encontrou na campanha das legislativas para se separar da herança de José Sócrates», observa. Como se estivesse a dizer: «Eu não vou fazer obras em que não sinta que todos estão comprometidos para depois não ser criticado». A vereadora eleita não está, então, nada desatenta. Quando o SOL ia atravessar a rua, corrigiu-o: «Olhe que está encarnado…». E estava vermelho para os peões.