Donald Trump foi eleito como um negociador e é assim que quer fazer valer a sua agenda. A Casa Branca exigiu no domingo um vasto conjunto de leis anti-imigração e, mais problematicamente, fundos para começar a construir o muro na fronteira com o México, em troca de um acordo com os democratas sobre os chamados Dreamers, os imigrantes que entraram ilegalmente nos Estados Unidos quando eram menores de idade e que hoje têm um estatuto legal que lhes permite ter um emprego ou estudar no ensino superior.
O preço não é apenas elevado para os democratas. É inaceitável, como afirmou esta segunda-feira a sua liderança.
“A administração não está a levar a sério a ideia de um acordo ou de ajudar os Dreamers se a sua proposta inicial é um anátema aos Dreamers, à comunidade de imigrantes e à vasta maioria dos americanos”, afirmaram os dois democratas de topo no Congresso em comunicado, Chuck Schumer, líder da minoria no Senado, e Nancy Pelosi, que chefia os democratas na Câmara dos Representantes – os mesmos que anunciaram em setembro ter a palavra do presidente americano, supostamente afirmando que os dois partidos podiam entender-se sobre os Dreamers sem se discutir o muro no sul.
A Casa Branca assegurava esta segunda que esse compromisso nunca se firmou por completo e insistia no preço anunciado na noite americana de domingo (já madrugada de segunda em Portugal): além do muro, o governo quer mais 370 juízes dedicados a assuntos de imigração, e, unicamente para a agência que controla a entrada, trabalho e residência ilegal nos Estados Unidos, exige mais mil advogados, 300 procuradores federais e 10 mil novos agentes.
“Estas prioridades são essenciais para mitigar as consequências legais e económicas de garantir o estatuto dos beneficiários”, afirmou o diretor dos assuntos legislativos, Marc Short.
As duras exigências anunciadas no domingo foram recebidas com júbilo pela ala mais conservadora, nacionalista e anti-
-imigração de Trump. E num momento que pode revelar-se importante: a Reuters anuncia esta segunda-feira que o apoio ao presidente americano nas zonas rurais caiu dos 55% no primeiro mês na Casa Branca para os 47%.
Mas o preço para conservar o estatuto legal de cerca de 800 mil pessoas que estão há décadas nos Estados Unidos – e muitas das quais nada sabem sobre o seu país de origem ou o idioma que lá é falado – não fica por aqui.
A Casa Branca quer também a aplicação mais abrangente de um mecanismo eletrónico que permite identificar imigrantes sem autorização de trabalho e leis que dificultem a entrada de familiares de imigrantes nos EUA e que acabem com o acolhimento de crianças não acompanhadas chegadas sobretudo de países violentos na América Central.