A relação entre Portugal e Angola está tensa e a Sonangol, a maior empresa angolana, parece estar a ser usada como arma de arremesso. Durante esta semana foi a chamada «angolonização dos quadros» – política de colocar mais angolanos nas direções das empresas internacionais a trabalharem em Angola –, ou a alegada falta desta, que esteve no centro da discussão.
Cinco dias antes de deixar o cargo de presidente e de entregar o poder a João Lourenço, a 26 de setembro, Eduardo dos Santos, naquela que terá sido uma das suas últimas decisões, exonerou o presidente da comissão executiva da Sonangol. Paulino Jerónimo, e dois administradores executivos, César Paxi e Jorge de Abreu. Ao mesmo tempo foram nomeados três novos administradores: um angolano, Ivan de Almeida, e os portugueses Emídio Pinheiro e Susana Cardoso Brandão Costa.
A nomeação dos portugueses foi criticada em Angola e terá mesmo causado mal-estar no seio da companhia, levando a que no final da semana a empresa liderada por Isabel dos Santos viesse a público defender as suas escolhas.
Na sua edição online de 30 de setembro, o jornal Correio Angolense titulava «A Sonangol foi sequestrada», acrescentando que «a mais portuguesa de todas empresas públicas angolanas ficou ainda mais portuguesa», uma vez que tem «cerca de 70 consultores portugueses, 8 dos quais diretamente ancorados a Isabel dos Santos».
Segundo o jornal, «Isabel dos Santos estabeleceu na Sonangol um ‘track record’ consubstanciado na promoção abusiva e insultuosa de técnicos estrangeiros, na sua maioria portugueses», o que levou a uma «desmoralização generalizada do seu staff» e ainda ao «sequestro absoluto de uma empresa pública angolana por estrangeiros, no caso portugueses».
Também outro periódico angolano, o Expansão, noticiou que Jorge de Abreu deixou o cargo a seu pedido, mas que as saídas de Paulino Jerónimo e de César Paxi «deixaram ambos surpreendidos com a decisão». Segundo o jornal. o «facto de terem sido nomeados dois novos administradores estrangeiros para a administração executiva, naquela que tem sido uma prática da administração liderada por Isabel dos Santos (…), está a provocar mal-estar no seio da empresa».
Promoção de competências
O Expansão acrescenta que os «administradores angolanos não veem com ‘bons olhos’ a saída de quadros angolanos» da «maior empresa nacional».
No final da semana, em comunicado no seu site, a Sonangol refutou as críticas e justificou as suas opções para «esclarecer a opinião pública sobre as mesmas». Segundo a empresa, as críticas são «desprovidas de qualquer tipo de fundamento e racionalidade» e que as suas opções «não contêm nenhum tipo de discriminação de género, raça, ou de nacionalidade». A Sonangol «promove competências, não promove descriminação», garante.
Em relação aos números, a Sonangol lembra que «dos onze elementos que integram o Conselho de Administração, apenas três são expatriados» e que numa análise ao «conjunto dos 8.129 Colaboradores da Sonangol somente 20 são expatriados, o que representa 0,2% da força de trabalho».
O comunicado da empresa acrescenta que desde que «este Conselho de Administração assumiu funções, em junho 2016, foram contratados 35 colaboradores, dos quais 26 são nacionais e 9 são expatriados, primando assim sempre pela contratações de novos talentos angolanos sempre que disponíveis no mercado».