A derrota do candidato do Partido da Liberdade (FPÖ, na sigla original), Norbert Hofer, para o concorrente apoiado pelos Verdes, Alexander van der Bellen, nas eleições presidenciais austríacas de dezembro do ano passado, impediram – por pouco mais de 7% – o assalto ao poder político pela extrema-direita, mas na Áustria (e na Europa) e ainda não é tempo de respirar de alívio. Depois dos atos eleitorais do presente ano, na Holanda, em França, no Reino Unido e na Alemanha, chegou agora a vez dos austríacos se deslocarem às urnas para decidirem quem se sentará no parlamento com sede em Viena e quem assumirá o governo do país.
Segundo a mais recente sondagem da Research Affairs, o partido fundado nos anos 50 do século passado por um antigo nazi e membro das SS, contabiliza 27% das intenções de voto, 4 pontos percentuais acima do Partido Social-Democrata (SPÖ) e 5 abaixo do Partido Popular Austríaco (ÖVP) – as duas forças políticas que, em coligação, lideram os destinos do país há quase uma década.
A possibilidade de se poder vir a constituir um governo de coligação que junte o FPÖ a qualquer um dos outros dois é bem real, pela simples razão de que, nem Neither Kurz, do ÖVP, nem o chanceler Christian Kern, do SPÖ, vieram a terreiro rejeitar essa possibilidade. Um dado que, a quatro dias das eleições, não é para desprezar.
Liderado por Heinz-Christian Strache, o Partido da Liberdade tem vindo a ditar a agenda política na Áustria, colocando em cima da mesa temas como a imigração ou o crescimento do Islão. Sendo temas populares junto da opinião pública austríaca, o FPÖ conseguiu forçar os partidos do ‘centrão’ a levar a cabo planos similares, sem que isso resulte num perda direta de apoios ou simples atenção. “Em termos de estratégia, o FPÖ tem feito uma excelente campanha. Estão a conseguir manter-se ao ataque, como se não estivessem a passar os limites”, elogia o consultor de comunicação Thomas Hofer, citado pelo “Guardian”.
Se chegar ao governo, o FPÖ promete cortar com os apoios sociais aos imigrantes, adoptar o modelo suíço de decisão das questões mais controversas através de referendos, e aderir ao grupo de de Visegrado – que inclui República Checa, Eslováquia, Polónia e Hungria, e que tem batido o pé às políticas migratórias da UE.
Na verdade, uma aliança política entre o establishment austríaco e o partido de extrema-direita antimigração e islamofóbica já foi formada em tempos. Na ressaca das legislativas de 1999, foi formado no ano seguinte um governo de coligação entre o SPÖ e o FPÖ, que fez deste último o primeiro partido neonazi a entrar num executivo de um país europeu, no pós-Segunda Guerra Mundial. Na altura, milhares de pessoas saíram à rua em protesto e 14 Estados-membros da União Europeia – aos quais se juntou Israel – impuseram pesadas sanções económicas à Áustria.