Histórias de assédios há muitas, a virar escândalo algumas, que se vão fazendo mais. Mas poucas atingirão a dimensão e os efeitos colaterais da revelação feita no fim de semana por uma investigação do “New York Times” de que, ao longo dos últimos 30 anos, Harvey Weinstein negociou acordos sigilosos com pelo menos oito mulheres que o acusaram de assédio sexual e contacto físico sem consentimento – bomba que levou o influente produtor de Hollywood, de 65 anos, a anunciar que se afastaria por tempo indeterminado para fazer terapia. Ao diário norte-americano, Weinstein enviou um comunicado em que admitia que o seu comportamento ao longo desses anos “causou muita dor” e pedia “sinceramente” desculpa. “Apesar de estar a tentar melhorar, sei que tenho um longo caminho a percorrer”, dizia, para anunciar o seu afastamento.
Depois disso veio já a Weinstein Co., reunida em conselho de administração, despedir o seu próprio fundador e dirigente devido a “novas informações” que tinham surgido sobre o caso. Mas nem isso será já suficiente para conter os danos que logo se adivinhou que a revelação causaria à produtora, sobretudo com a sucessão de novas queixas que não param de vir a público a cada dia que passa. À lista inicial de oito mulheres – uma atriz, uma modelo e duas assistentes segundo as quais Weinstein marcava reuniões num hotel de Beverly Hills para depois as receber num quarto, com pedidos de massagens ou de favores sexuais a troco de benefícios para as suas carreiras – somaram-se entretanto outras.
Nomes maiores como Gwyneth Paltrow, que relata, também ela, pedidos de “massagens” no tempo em que iniciava a sua carreira, ou Angelina Jolie, com quem Weinstein chegou a marcar igualmente um encontro no mesmo hotel e que, também ao “New York Times”, contou a sua experiência com o produtor de “Pulp Fiction” (1994) e de “Gangs of New York” (2002), apenas dois de mais de três centenas de títulos: “Tive uma má experiência com o Harvey Weinstein na minha juventude e, em resultado disso, escolhi nunca mais trabalhar com ele, e avisei outras que o fizeram. Este comportamento em relação às mulheres é, em qualquer campo, em qualquer país, inaceitável.”
De Meryl Streep a Clooney, com Hollywood em peso a expressar a sua revolta contra Weinstein, veio ontem a mulher do produtor, Georgina Chapman, que inicialmente anunciara que ficaria do seu lado, anunciar o divórcio. “O meu coração está devastado pelas mulheres que sofreram uma dor tremenda com estas ações imperdoáveis”, afirma num comunicado citado pela revista “People”, que concluía dizendo que decidira deixar o marido, com quem está casada há dez anos e tem dois filhos.
Mas não só a família, também a Weinstein Co. está já a sofrer as consequências do escândalo de abusos envolvendo um dos seus fundadores. É que, entretanto, foi já cancelada uma série sobre Elvis Presley que seria produzida para a Apple, e o mesmo destino terão outras que estavam já a ser planeadas sobre Michael Jackson, Prince e Frank Sinatra, enquanto o seu nome começa a ser retirado de projetos como “Project Runway” ou “Scream”. Também Crag Bergman, da Amazon Prime, fez já saber em comunicado que estão a ser repensados os projetos que tinha acordado com a produtora, entre as quais está “The Romanoffs”, o novo projeto do criador de “Mad Men”, Mathew Weiner, além do novo projeto ainda sem título de David O. Russell. Em cima da mesa está já a possibilidade de alteração do nome da Wein-stein Co. Resta saber se isso será suficiente, sobretudo quando tudo faz adivinhar que esta história venha ainda a ter novos episódios.