Se a maioria dos acionistas da PT reunidos na assembleia geral de 2 de março de 2007 aprovasse a desblindagem dos estatutos da operadora de modo a viabilizar a OPA lançada pela Sonae, o representante do Estado nessa reunião, o advogado Sérvulo Correia, tinha instruções para lançar mão da golden share e vetar essa decisão. Isso mesmo acabou por ser admitido por Teixeira dos Santos quando prestou declarações no processo da Operação Marquês.
Já Sérvulo Correia fez um depoimento insólito no DCIAP: jurou que as instruções lhe foram transmitidas “informalmente” por colegas do escritório que assessoravam os gabinetes ministeriais das Finanças e das Obras Públicas na gestão do conflito com Bruxelas por causa da golden share, que essas instruções eram no sentido de se abster quanto à desblindagem dos estatutos da PT, mas já não se lembra de como é que deveria votar caso a assembleia-geral decidisse fazer logo a votação da OPA.
Supõe, por dedução, que deveria abster-se nesse caso, sendo certo que lhe deram os números de telefone de Mário Lino e do secretário de Estado Costa Pina para o caso de ter dúvidas e precisar de mais instruções. Quanto à forma como decorreu a votação na assembleia geral, não soube dizer ao certo se votou como os outros acionistas, em envelope fechado, ou se se pronunciou em nome do Estado após ser conhecido o resultado, tal como consta da ata oficial da reunião.
Contradições e muitas falhas de memória Recorde-se que o Ministério Público sustenta que grande parte da fortuna acumulada por José Sócrates em contas bancárias do amigo empresário Carlos Santos Silva teve origem no recebimento de ‘luvas’ em contrapartida de decisões políticas que favoreceram os interesses do Grupo Espírito Santo, então acionista da PT, e do Grupo Lena.
Texto escrito por Felícia Cabrita e Joana Marques Alves
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