1.PASSOS COELHO. Saiu triste e pela porta baixa. A maioria dos outrora seus atirando-lhe pedras e distanciando-se da sua herança governativa como diabo da cruz. É muito injusto. Erros foram cometidos? Certamente. O estilo é pouco afetuoso e por vezes foi francamente ofensivo? De acordo. Foi incapaz de articular uma visão de futuro para além da austeridade? Pois foi. Prometeu muito mais do que entregou em matéria de reformas estruturais? É verdade. Teve amigos políticos execráveis? Pois teve. Mas o prato da balança inclina-se para feitos bem mais pesados. Pedro Passos Coelho assumiu o país na bancarrota, aguentou o embate e recomeçou a recuperação. Só a pouca memória dos povos pode esquecer isto. Os resultados que agora se veem começaram com ele. Ele foi o forcado da cara na ‘pega’ da crise à portuguesa. Como se não bastasse foi com ele que se desferiu o maior golpe da nossa história no ‘capitalismo de amigalhaços ou de compadrio’ (crony capitalism). Por sua ação ou omissão, a recusa da CGD em suportar o BES foi o epicentro de um abalo que destruiu o GES, José Sócrates e muitos ‘afamados’ supergestores. Só por isto Passos Coelho ganhou um lugar na história. Já o escrevi e reafirmo: agir como agiu requer um grau despojamento e de não-deslumbramento perante os ricos e poderosos que poucos possuem.
2. PSD. Ao que tudo indica o PSD está disposto a encetar os 12 passos dos tratamentos dos Alcoólicos Anónimos. O Partido quer desintoxicar-se de Pedro Passos Coelho (tido agora por perigosos liberal e direitista). O tratamento passa por um propalado retorno à social-democracia, um desvio à esquerda, uma aproximação a um espaço que a geringonça terá deixado vago. Acho a ideia tonta. Não discuto que o PSD alguma vez tenha sido social democrata. (Acho que não e que a designação do partido apenas reflete um enviesamento do espetro político para a esquerda na sequência do 25 de abril.) Não discuto também se a governação de Passos Coelho foi liberal (ou, pior, neoliberal). (Acho que não e não me consigo lembrar de alguma reforma profundamente liberalizante levada a cabo pelo seu Governo.) Nem sequer pergunto como é que um partido potencialmente social-democrata pertence ao PPE. Pergunto antes o que é ser social-democrata hoje. Clinton? Blair? Corbyn? Schulz? Clegg? Não chega dizer que a diferença é fazer política com a consciência social. Todos concordam. A verdadeira questão é qual é a USP (unique selling proposition) do PSD. Tem de ser o partido que cultiva a cidadania adulta responsável sem tutela pública. Tem de ser o partido que defende um Estado regulador e não provedor. Tem de ser um partido que pugna por instituições fortes e independentes. Tem de ser um partido que defende a empresa, a concorrência e a igualdade de oportunidades contra o ‘capitalismo de amigos’. No fundo, o PSD tem de ser o partido da libertação e da afirmação da sociedade civil. Este partido é necessário. Um PS panaché não.