Se em Fortaleza o fizeram, porque não se há de tentar também em São Paulo? Terá sido uma reflexão semelhante a esta que levou os obreiros do túnel de quase 600 metros que ligava uma casa particular ao Banco do Brasil, no bairro da Chácara Santo Antônio, a avançar para uma escavação que lhes proporcionaria o «maior assalto do mundo». O golpe na capital do Ceará, de 2005, figurava, aliás, no topo da lista dos maiores roubos a bancos em solo brasileiro – naquela ocasião foram levados quase 165 milhões de reais (cerca de 44 milhões de euros) da sede do Banco Central – e para o sucesso dessa missão tinha sido ‘apenas’ necessário escavar 75 metros de túnel.
A extensão da obra -oito vezes superior – foi mesmo a única vitória do grupo de São Paulo sobre o de Fortaleza, já que a polícia local intrometeu-se a tempo e impediu, no passado dia 2, a utilização para o qual estava destinada a passagem subterrânea: roubar mil milhões de reais da sala onde se encontrava cofre principal.
Na verdade, o plano de assalto ao banco de São Paulo, no que respeita à fase de planificação e construção do túnel, correu às mil maravilhas. Há cerca de quatro meses, o grupo de assaltantes arrendou uma casa na vizinha Rua Antônio Buso, a menos de um quilómetro do Banco do Brasil, e deu início à criação da passagem. Com quase um metro e meio de altura, em algumas partes, suportado em barras de ferro, reforçado com blocos de madeira e ainda equipado com um sistema de luz elétrica e ventilação, o túnel era um exemplo de sofisticação – prova disso foram os 4 milhões de reais investidos em equipamento pelos 16 participantes no golpe.
De acordo com as autoridades paulistas, todo o trabalho de preparação da estrutura do túnel – a adaptação dos metais, a serragem das tábuas ou a criação do sistema elétrico – era levado a cabo numa outra casa, na Rua Masao Watanabe (zona norte de São Paulo). «Os investigadores encontraram no local uma estrutura completa de maquinaria, que permitia o corte de metais para a confeção de escoras, trilhos e carrinhos utilizados para a retirada do dinheiro», explicou em comunicado o Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC), da Polícia Civil.
O equipamento era depois transportado para o número 57 da Rua Antônio Buso, para ser instalado no subsolo, à medida que a escavação avançava. Aí não faltavam botas, luvas, macacões ou joelheiras, e todo o tipo de ferramentas próprias para quem pretende construir uma passagem secreta por baixo de terra.
Na casa do túnel foi ainda montada uma estrutura própria para albergar mais de dez pessoas: na cozinha não faltava comida e bebida, na sala acotovelavam-se colchões e até foi instalada uma televisão de 32 polegadas para ocupar a mão-de-obra durante os tempos mortos. O esquema incluía ainda a monitorização de tudo o que se passava na vizinhança, através das imagens recolhidas pelas duas câmaras instaladas em pontos-chave da rua.
Concluído o túnel no dia 28 de setembro, só ficava mesmo a faltar o derradeiro passo: assaltar o banco. Só que com o foco e a empenhada dedicação a tão refinado plano, os ladrões não se aperceberam que a polícia já os vigiava há algum tempo e acabaram por ser imobilizados mesmo em cima da meta. «Eles estavam sendo monitorizados há dois meses. Decidimos agir num dia tranquilo e evitar o roubo. Teria sido o maior roubo a um banco do mundo», contou Fábio Pinheiro Lopes, delegado do DEIC, recordando as palavras que os membros da quadrilha de disseram em interrogatório. «A prisão desses 16 marginais ocorreu sem qualquer troca de tiro e isso é importante. Quando se viram cercados pela polícia, entregaram-se», acrescentou ainda Mágino Alves, secretário de Segurança Pública de São Paulo.
Os 16 detidos vão agora responder em tribunal por tentativa de furto qualificado e associação criminosa. E deixar para outros o sonho de igualar ou ultrapassar o furto de Fortaleza.