José Azeredo Lopes balança pela segunda vez na mesma corda. O PS anunciou ontem que vai chamar com “caráter de urgência” o ministro da Defesa para ser ouvido na comissão parlamentar de Defesa, avançou a agência Lusa, que cita fonte oficial da direção do grupo parlamentar socialista. Azeredo Lopes é chamado após grande parte do material furtado do Paiol Nacional de Tancos no fim de junho ter sido descoberto na madrugada de ontem, após uma denúncia anónima.
Ainda antes da chamada com caráter de urgência decorrente do “aparecimento” do material furtado, o futuro de Azeredo Lopes já era cinzento. Pelo menos, para os lados de Belém. Tal como o i escreveu ontem, ainda antes da descoberta do material ter sido noticiada, o ministro da Defesa já não conta com a confiança política do Presidente da República.
No entanto, não é líquido que António Costa deixe cair o ministro. Fontes ouvidas pelo i reconhecem a pouca simpatia de Marcelo pelo ministro mas, neste caso, garantem exatamente o contrário – que o facto de grande parte do material roubado de Tancos já ter aparecido é uma bolha de ar para Azeredo Lopes, que antes de Tancos já tinha passado um momento difícil com o caso das mortes nos comandos.
“Verdade ao de cima”
Tanto o Bloco como o PSD reagiram à descoberta dos materiais furtados.
À margem da reunião do grupo parlamentar do PSD, Passos Coelho foi parco e direto em palavras: “Espero que, pelo menos desta vez, o governo já não tenha dúvidas sobre o que se passou e possa dar explicações e assumir responsabilidades.”
Já o Bloco de Esquerda pediu ao governo um relatório sobre o sucedido. “Esperamos que a verdade venha ao de cima e que o país seja esclarecido sobre o que aconteceu”, afirmou o líder parlamentar do Bloco, Pedro Filipe Soares.
“No limite, pode não ter havido furto”
O ministro já tinha sido ouvido sobre o furto de Tancos em audição parlamentar a 7 de julho, altura em que afirmou, por diversas vezes, que não era possível “estabelecer [um] paralelo entre dificuldades e constrangimentos financeiros e aquilo que aconteceu”. E, sobre a sua continuidade como ministro, respondeu assim: “Existe na lei uma distinção clara entre as questões que cabem à política de coordenação nacional.”
A investigação prosseguiu, a lista completa de material roubado foi divulgada por meios de comunicação espanhóis e soube-se que a vigilância aos 21 paiolins de Tancos era, na prática, inexistente: as câmaras de videovigilância e sensores de movimento estavam avariados há anos e a segurança ao local era mantida por um grupo rotativo e manifestamente insuficiente de militares.
À SIC, logo após o furto, Azeredo Lopes admitiu que “a situação era grave”. Mas já em setembro desviou o rumo e disse, em entrevista ao “DN”/TSF, que não tinha a certeza de que alguém tivesse entrado em Tancos. “No limite, pode não ter existido furto.” As declarações geraram polémica e o ministro foi questionado por todas as bancadas parlamentares, à exceção da dos socialistas e do PAN.
Azeredo Lopes repetiu as convicções por outras palavras à RTP3, pela mesma altura: “Dou–lhe a minha palavra de honra: não estou nem deixo de estar convencido, só sei que desapareceu. Tenho de presumir, por bom senso e porque não sou dado a teorias da conspiração, que desapareceu algures antes de 28 de junho, quando tomei conhecimento.”
A descoberta dos materiais furtados vai contra a tese do ministro da Defesa – no limite, houve mesmo furto.