Camané: “O que é importante num fadista é deixar a sua marca nos fados”

Nunca se conheceram, mas Alfredo Marceneiro esteve sempre próximo de Camané, através da música e da ética. Camané Canta Marceneiro é o reencontro pedido e aguardado entre duas almas gémeas que só tiveram contato visual quando os pais levaram Carlos Manuel Moutinho Paiva dos Santos ao Arreda, em Cascais, com dez anos.

Camané ficou a observar aquele senhor «muito velhinho» e tirou a prova ocular daquele que ouvia nos discos. Notas mentais que hoje servem para pintar o quadro e completar o mapa da personalidade de Marceneiro, ou não fosse o fado um diagnóstico permanente da existência. É quase tudo aquilo que os une, apesar de o tempo os separar. O pavor do estúdio, a desconsideração pela ligeireza, a seriedade, o rigor e a aspiração pela mãe de todas as utopias: a perfeição. Ainda hoje Camané não a conseguiu agarrar, mas uma homenagem como esta é como um espelho e passagem de testemunho.

O álbum agora editado é muito mais do que um conjunto de interpretações, revisões ou contextualizações. É um regresso à casa de partida. Às casas onde o fado segue a linha da vida, das tristezas, das amarguras, dos anseios e dos desejos. Na tristeza, há uma imensa alegria e os olhos de Camané brilham quando se fala do Mestre. «Sem ele o fado não seria o mesmo», defende com galhardia na entrevista e com a voz num disco nostálgico de um tempo a que não teve acesso e consciente da intemporalidade de algumas das profecias lançadas pela arte de Marceneiro.

Camané Canta Marceneiro tem capa de Siza Vieira e merece o primeiro dueto da obra gravada do primeiro. E porque é entre vozes altas que estamos, entre os maiores ficamos. A ‘Lucinda Camarneira’ tem direito a duas vozes. A de Camané e a de Carlos do Carmo.

Após muitos anos a cantar Marceneiro em palco, quinze fados são a retrospetiva presente de um amor eterno.

Para que tempo o transportam estas canções de Alfredo Marceneiro?

Há casos que me transportam para momentos particulares da vida e do amor. Outras levam-me para outra época, um tempo que já não existe. As que transportam para o passado são as que me contam histórias intemporais. Como por exemplo, quando ele canta ‘Não queiras ir p’rá cidade/Lucinda dos caracóis’. Aquilo era a vida. As pessoas vinham da aldeia para a cidade. Aquelas senhoras quando vinham para a cidade, transformavam-se. Começavam a usar pinturas. Há outras que são atuais. Como por exemplo a do ‘Remorso’ que tem a ver com a culpa. Aquilo é um ataque psicótico de estar fechado em casa. É alguém que está cheio de remorsos e de repente ouve barulhos. Ouve bater à porta mas ninguém lhe está a bater à porta. Naquela altura, não havia psicólogos. Hoje em dia, interpretam tudo. É um disco de histórias de amor e do quotidiano. É um retrato daquela época e uma visão que ele e os poetas tinham do que estava para vir. As letras cantadas pelo Marceneiro eram incríveis.

Na sinopse, o Camané assume que até chegar aqui teve que percorrer um caminho. Para se cantar estes fados é preciso vivê-los?

O que é importante num fadista é criar o seu repertório. É deixar a sua marca nos fados. No entanto, [cantar Marceneiro] não foi uma coisa pensada. Aos 30 anos, não pensei que aos 50 ia interpretar estes fados. Toda a minha vida cantei fados de músicas do Marceneiro, fados tradicionais com letras novas. De há anos para cá, acabo sempre os meus concertos com o ‘Fado Cravo’ com poema do João Ferreira Rosa. Ouço muito o Marceneiro e numa dessas tardes lembrei-me que podia cantar estes fados.

Houve trabalho de pesquisa ou estes fados cantam-se de memória?

São fados gravados na memória. Não sabia as letras de cor mas conhecia as histórias. A da ‘Lucinda dos Caracóis’ que vem da aldeia para a cidade. Então começam a dizer-lhe coisas. Que os caracóis não têm importância nenhuma e se ela vier para a cidade os cortam. Que a pureza dela vai perder-se. A ‘Senhora do Monte’ que eu já tinha cantado num dos concertos do S. Luiz em que cantava três fados dos fadistas mais importantes para mim: o Marceneiro, o Carlos do Carmo e a Amália. Sempre fez parte de mim mas eu podia ter escolhido vinte temas. Ou vinte e cinco. Só que isso não é possível num disco de fados.

Que Alfredo Marceneiro é este que cantava a vida?

Era um homem com imensa sensibilidade. Há muitas histórias sobre ele. Ainda há poucos dias falei com a neta que me conhece desde miúdo. Em todos os períodos da minha vida me foram falando dele. Nunca o conheci pessoalmente, embora com dez anos tenha estado perto dele. O meu pai levou-me a ouvi-lo em Cascais e eu fiquei a olhar para ele com cara de parvo. Para mim, era fantástico ouvir os discos dele e de repente encontrá-lo. Nessa noite, no Arreda, sentei-me um bocadinho numa mesa para fazer uma fotografia sentado com a Amália e com o Carlos Conde. Essa fotografia foi tirada e existe. Também estava lá o Marceneiro em pé a conversar de cigarro na mão. Fiquei a olhar para aquele senhor muito velhinho e mesmo assim ele ainda viveu alguns anos. Era alguém com muito bom gosto. Era hábito ele ficar a ler e escolher os poemas com os poetas populares. E depois ia fazer a música. Ou ia buscar fados tradicionais já existentes, ou noutras vezes, não havendo fados tradicionais que se adaptassem aquelas letras, ele construía-as. Era um génio. Muito inteligente, muito irónico. Não se deixava enganar pelo sucesso fácil. Não há nada no Marceneiro que seja piroso ou ligeiro. É de uma profundidade e de uma autenticidade rara. Isso é o que me agrada mais. Era uma pessoa muito boa.

Reconhece-se nessa forma de estar?

É o que quero ser! O fado é uma maratona para a vida. Não é uma corrida de cem metros. Por algum motivo, ele ficou na história.

Do que recorda de o observar, era uma figura hipnótica?

Sim, toda a gente ia falar com ele. No Arreda, passavam os maiores fadistas da época, como por exemplo o Manuel de Almeida. Estava lá o [guitarrista e divulgador de fado] Zé Pracana – este disco também lhe é dedicado. Ele teve uma importância enorme para o Marceneiro. Foi uma das pessoas que deu a conhecer ao mundo o trabalho dele. Recordo-me que nessa noite toda a gente se queria aproximar dele. Era muito engraçado.

Alfredo Marceneiro teve o reconhecimento devido?

Sim, ele é muito reconhecido. O fado não era o que é se não fosse ele. Toda a gente já ouviu falar dele. Agora, não foi uma estrela pop.

Como a Amália.

São caminhos diferentes. O Marceneiro não gostava de andar de avião. Eram outros tempos, também. Mas nada disso invalida que ele seja um dos maiores artistas da nossa história. E reconhecidíssimo. Não foi aquele fadista que desse muitos concertos. Ele andava à noite no Bairro Alto e cantava nas casas de fado. Detestava o estúdio mas aquilo que conseguiu construir é fundamental para que o fado seja como é. Tanto como a Amália, o Carlos do Carmo ou a Lucília [do Carmo]. Era muito honesto. Às vezes, ficávamos a ouvir histórias dele até às três da manhã. Falo de cor porque nunca o conheci mas quando um guitarrista fugia àquela forma de estar fado, ele tinha tiradas como: ‘Isto é para cantar, não é para dançar’. Há histórias muito irónicas, e às vezes as pessoas zangavam-se porque quando ele não gostava, não gostava. Não escondia. Uma vez, numa casa de fados, estava tudo a fazer barulho e a senhora que estava a cantar disse: ‘Eu estou a cantar’. E o Marceneiro responde: ‘Para mim, não’. As coisas tinham que ser autênticas, ter aquele bom gosto e sem ligeireza. O fado não é música ligeira, não são cantiguinhas, e o Marceneiro era um defensor do fado tradicional. Estou a falar mas ao longo da minha vida cantei músicas que não eram fados mas nunca quis ir pelo lado mais ligeiro. É uma questão de critério, não ir pelo caminho mais fácil.

A descrição de Alfredo Marceneiro podia ser de José Mário Branco. Com a diferença de ter referido em várias entrevistas que o José Mário Branco tinha um preconceito com o fado.

Ele perdeu o preconceito com o fado a ouvir o Marceneiro. Foi logo a seguir ao 25 de Abril, graças a Deus. A Manuela de Freitas e o Carlos do Carmo mostraram-lhe que o fado é uma música de grande qualidade. Na altura, antes do 25 de Abril, os fados da Amália que passavam eram os mais brejeiros, as cantiguinhas. Aquela grande poesia, as coisas mais profundas que ela cantava não passavam na rádio. Este repertório do Marceneiro é do melhor que alguma vez se fez da poesia popular. Foi isso que atraiu o Zé Mário.

Do que lhe contam do Alfredo Marceneiro, os traços de personalidade entre eles sao parecidos?

Em áreas completamente diferentes, sim. Têm em comum a austeridade, a seriedade e o rigor.

E a teatralidade?

Também.

Cantar os outros é reconhecermo-nos a nós próprios?

Sim. A partir do momento em que penso nisso, interiorizo as letras e depois entro no registo emocional. Passo a contar a minha história. Neste caso, eu fiz das histórias do Alfredo Marceneiro as minhas. Como um ator que entra na personagem. As próprias letras que o Marceneiro cantou eram de poetas como o Carlos Conde mas ele tornava-as histórias dele. Conhecia muito bem aquilo de que estava a falar. E depois de as ouvirmos também passamos a sabê-las. Em algumas questões não tão próximas. por isso é que falo nos temas de amor e da vida de épocas diferentes. Mas que há semelhanças, há.

Como é que um tradicionalista no fado não o é como cidadão?

Eu sou um fadista. Quando ouvimos fado, há uma característica. Quando ouvimos tango, há uma característica. É nesse sentido que faz parte haver uma tradição no fado. Gosto de fado tradicional. Como cidadão, não sou um conservador. No fado, sou um pouco mas não totalmente. Quando se canta uma canção e ela não tem um lado ligeiro – estou a lembrar-me quando a Amália cantou Oulmain, do Carlos do_Carmo cantar o Ary, que não são fados tradicionais mas se tornaram clássicos -, a ideia é haver músicos novos que façam fados na sua época. É a tradição a evoluir de dentro para fora. Não são cantiguinhas. A música pode transformar-se num fado se for cantada com uma determinada característica e ambiente musical. O ‘Sei de um Rio’, por exemplo, não era um fado. É uma música do Alain Oulman que estava escondida e nunca ninguém tinha cantado. Se calhar, se fosse outra pessoa não saía um fado.

A ideia da gravação foi recriar o ambiente da época?

Sim, foi essa a ideia. Até mesmo em alguns fados como o ‘Cabaré’. No fundo, a história de ensaiar e cantar. Aquela mulher tinha uma vida de sofrimento mas depois ia para o palco cantar coisas alegres. O que achei mais interessante nesse fado foi recordar a minha história. Era tão inseguro e tinha tanto medo que quando chegava ao palco só queria que acabasse. Conseguir perceber que para tirar partido e ter prazer naquilo que faço, era sair de mim. O que interessa naquele momento é a história que estou a contar. O resto, a minha vida para trás e para a frente, acabou. Não interessa para nada. Ajudou-me imenso compreender isso mas não o consegui em mais nenhuma parte da minha vida. Só a cantar. E quando vou para estúdio, ainda não consigo. Penso que isso se relaciona também com a história do Marceneiro de não conseguir estar em estúdio e de terem de lhe vendar os olhos para ele se libertar.

Ainda nao se sente descontraído em estúdio?

Não, nada. Quando vou para estúdio começo logo a pensar.

Quando acaba de gravar um disco, consegue reouvi-lo?

Nem ouço. Fico chateado. Às vezes até deprimido porque sei que podia ter feito melhor. Quando vou para um palco tenho outra perspetiva. Sei que vou fazer melhor. A sensação de estar a gravar já é…o problema é ouvir-me depois. Nunca é aquilo que eu esperava.

É uma questão de perfecionismo?

É um defeito de caráter. Gostava de ser mais livre, nesse aspeto, mas o mais importante foi ter conseguido tirar prazer daquilo que faço. E isso deve-se a ir para um palco e esquecer-me se as pessoas gostam, se não gostam, do que é que acham. Os resultados são muito melhores do que se estivesse preocupado. E isso tem-me ajudado muito a conseguir chegar às pessoas. O público vai aos concertos, conhece o meu trabalho e acompanha.

‘Há uma tristeza que faz sorrir’, dizia em entrevista ao i. É a definição do fado?

Sim, como na ópera. Às vezes morrem todos no fim mas as pessoas saem de lá com um sorriso. Normalmente, não se questiona a alegria mas todas as canções que conhecemos são tristes. Aquela mania e preconceito de que o fado é uma música triste; epá, pois é mas qual é que não é? Porque é que as pessoas cantam? Porque é que há música? É para exorcizar essa tristeza. Ser triste é diferente de ser negativo. Está errado e não faz sentido nenhum. E há músicas muito mais para baixo como o tango. Se a linguagem do tango fosse usada no fado, atirava-se tudo para o chão. No tango, funciona porque o ritmo faz parecer o triste alegre. O fado não é para baixo. A cadência musical não é essa. Também há fados alegres, humorísticos. Quando o fado é alegre, faz-me chorar. Quando é triste, faz-me sorrir.

Há um aligeirar do fado à medida que se vai tornando mais massificado e transversal?

Há uma necessidade enorme de fazer chegar o fado às rádios e ter sucesso. Quer-se tudo muito depressa e isso prejudica um bocadinho. No outro dia, estava a ouvir um fadista na rádio um miúdo a cantar o fado ‘Pedro Rodrigues’ e aquilo não era o ‘Pedro Rodrigues’. Não era a melodia. O Carlos do Carmo cantava um ‘Pedro Rodrigues’ extraordinário em sextilhas. Até me vinham as lágrimas aos olhos. O João Braga cantava-o de forma incrível em quadra. O Rodrigo também cantava. Completamente diferente do Carlos do Carmo, parecia outro fado, mas muito bem. Naquele tema do ‘Pedro Rodrigues’, nem os guitarristas sabiam tocá-lo. Como é que é possível? As pessoas não conhecem o fado. Vão para o fado porque vêem e vão dizer que é fado. Lembro-me que quando a Amália morreu, as pessoas tiveram a noção do sucesso internacional dela e quiseram ir pelo mesmo caminho, mas há muitas pessoas que apareceram nessa altura e sabem cantar fado. Nos últimos tempos, apareceram muitas a não saber cantar os fados tradicionais. Esses fados são importantíssimos porque se não a opção que têm é cantar fados inspirados nos clássicos e é nessa fase que se aligeira. O não conhecimento daquelas músicas não ajuda no crescimento de um fadista. E depois, como sempre na história da fadista, houve sempre vinte grandes fadistas. Agora há sessenta ou setenta. O aligeirar sempre houve. Antigamente, também havia uns cançonetistas que iam para o fado. Nunca houve escolas de fado, as pessoas não conhecem o fado. Quando era miúdo, havia coletividades com poetas populares que construíam quadras, quintilhas, sextilhas e decassílabos a falar do pai, da mãe, da escola…Eu pegava nisso e colocava-lhes fados tradicionais do Marceneiro, do Joaquim Campos, do Armandinho e cantava. Construía os meus próprios fados desde miúdo. Não havia escolas mas se calhar agora era importante. Há um lado perigoso nisto tudo._De repente, perde-se a memória e deixa de ser fado para passar a outra coisa qualquer.

Como é que observa a adaptação dos fadistas a grandes palcos e o suporte de bandas com formato pop/rock tradicional?

Ah, mas eu há poucos meses dei um concerto para dez ou quinze mil pessoas em Almada e cantei os meus fados. Isto demora há anos. Leva tempo, dá trabalho. É preciso viver isto mas se fores um grande fadista e tiveres a capacidade de cantar e dizer as palavras, ao fim de vinte anos faz toda a diferença. Consegues pôr milhares de pessoas aos gritos a cantar fado tradicional. Agora, demora tempo. É preciso aprender. Não se chega lá com cambalhotas nem a fazer o pino.

 

É preciso voltar atrás para seguir em frente?

Sim, como um cantor de rock. Como um músico de blues. Um cantor de tango a sério vai cantar tango. Os grande fadistas – o João Braga, o João Ferreira Rosa e o Carlos do Carmo – não cantavam cantiguinhas. O Marceneiro e a Amália também não. A Amália só contava música popular portuguesa porque gostava e vinha da Beira. Fazia parte dela.

É por isso que, em nome próprio, nunca gravou um disco que não de fado?

Sim, pontualmente faz outras participações. Estive nos Humanos. Dei um concerto no S. Luiz com algumas versões. Gravei o ‘Space Oddity’ para o disco de homenagem ao David Bowie [coligido por David Fonseca] mas a minha música é o fado. De vez quando, gosto é de fazer coisas diferentes. E são estimulantes.

Esses discos nunca deixaram de ser parêntesis?

Nunca, nunca. Um dia pode apetecer fazer-me outra coisa. Este ano ainda vou dar um concerto com uma Orquestra de Jazz mas é diferente porque o convite partiu da orquestra para tocar os meus fados. É uma visão deles e um diálogo também com o bom gosto que eles têm. Vamos juntar-nos agora para ensaiar mas não deixam de ser os meus fados. 

Fez 50 anos em Dezembro. Como é que os comemorou?

Dei uma festa enorme. Foi muito giro. E agora vou festejar os 51.

Gosta de efemérides?

Não, nem gosto de festejar anos de carreira. Não digo que nunca o faça mas nem sei muito bem quantos tenho. Comecei a cantar com sete anos. Com guitarra e viola pela primeira vez com oito anos numa casa que era a Cesária. Foi há 42 anos. Fui lá com os meus pais jantar e depois pedi para cantar. Eles nem sabiam. Fui lá cantar um fado do_Fernando Maurício que era o ‘Fado Isabel’ do Fontes Rocha com aquela vozinha de criancinha. Aos fins de semana, cantava nas coletividades. Havia matinés de fado. Só comecei a cantar profissionalmente com 17 anos e gravei o meu primeiro disco – um single para uma editora quando tinha 22 anos – já não me lembro se antes, durante ou depois da tropa. E o Uma Noite de Fados já tem mais de vinte anos. Saiu em 1995 mas antes disso já cantava nas casas de fado, já tinha participado num espetáculo do Filipe La Féria e tudo isso faz parte do meu percurso. Portanto nunca vou saber quais são os meus anos de carreira. Não há uma ideia certa de quando comecei a cantar.