A semana de abertura do acontecimento mais importante na política chinesa trouxe poucas surpresas e muito simbolismo. Sabe-se que este Congresso do Partido Comunista é acima de tudo uma coroação. No trono encontra-se Xi Jinping, que na quarta-feira entrou no Grande Salão do Povo como o mais poderoso líder chinês dos últimos 30 anos.
Xi é o incontestado, o líder “nuclear”, como no ano passado se fez conhecer, colocando-se no patamar simbólico de Mao e Deng Xiaoping. Continuará certamente na presidência por um segundo mandato de cinco anos e nesse aspeto este Congresso tem pouco a acrescentar.
Os olhos do mundo tentam ver mais adiante. Ninguém exclui um terceiro mandato e o grande interesse na reunião comunista está em encontrar pistas sobre até que ponto o líder conseguiu manobrar apoio no interior do partido e deseja prolongar-se.
À espera de pistas
Ainda ninguém tem essas pistas. E isto porque o momento de as encontrar ainda não ocorreu. Só acontecerá depois do Congresso, no momento em que as 25 pessoas escolhidas esta semana para o Politburo determinarem quem estará no exclusivo Comité Permanente, que é o que de mais próximo há de uma cúpula consensual do poder.
Neste ponto espera-se uma pequena revolução política e aguardam-se sinais: a balança do poder chinês foi decidida nas últimas semanas de negociações e é rigorosamente secreta, mas ainda assim há quem calcule que dos sete membros de hoje, só dois ou três prossigam no órgão.
Xi, claro, e pelo menos o seu primeiro-ministro, Li Keqiang, no entretanto convertido a uma figura mais que secundária, tendo em conta a concentração de poder na figura do Presidente. O terceiro pode ser Wang Qishan, o arquiteto da campanha anticorrupção de Xi, que já ultrapassou o limite informal de idade, mas é uma figura central em Pequim.
Se a regra for ignorada e Wang for escolhido para o Comité Permanente, Xi pode estar a sinalizar a vontade de dobrar as regras também para si próprio. A leitura será a mesma caso o escolha para primeiro-ministro.
Nova era
Sobre a sucessão, há que aguardar. Para a coroação, não.
Aconteceu já na quarta-feira, num discurso de três horas e meia em que Xi apresentou, num dos catorze pontos do programa para os próximos cinco anos, um “pensamento sobre o socialismo com características chinesas para uma nova era”.
Esta semana aguarda-se que Xi veja esta sua doutrina inserida na constituição do partido e de novo reivindicar um estatuto apenas gozado por Mao e Deng.
Essa será a confirmação do estatuto de líder incontestado, de grande manobrador do partido, do homem que, no momento em que se tornou líder, recriou uma organização em crise de fé e desgastada por dez anos de corrupção dos dois mandatos de Hu Jintao – “a década perdida”, como é conhecida em Pequim. Xi renovou a doutrina ideológica, iniciou uma campanha de luta contra a corrupção sem precedentes, revalidou a fé no partido, modernizou as Forças Armadas e na quarta discursou já canonizado.
“A nação chinesa ergue-se agora alta e firme no Leste”, lançou aos 2300 delegados do Congresso Nacional, não apenas recordando, mas também superando as palavras de Mao em 1949, quando este disse: ”O povo chinês, que compreende um quarto da humanidade, ergueu-se enfim.”
Para Xi, além disso, a China está mais do que erguida. É já um “grande poder” ou um “poder forte”, termos que afirmou, como contou o "New York Times", 26 vezes, divorciando-se do costume de representar a China como um país empobrecido pouco disposto a participar nas lides da ordem mundial.
Esse, no entanto, já não é o lugar de Pequim. “O nosso país encontra-se num período importante de oportunidade estratégica”, lançou. “As perspetivas são extremamente encorajadoras;_os desafios são também extremamente sombrios.”