Jeroen Dijsselbloem permanecerá presidente do Eurogrupo – a reunião informal dos ministros das Finanças da Zona Euro – apesar de já não ser ministro das Finanças no governo do seu país. O holandês cumprirá o seu mandato no órgão da União Europeia até inícios do próximo ano e tem para isso o aval de todos os governos que integram a moeda única, incluindo o português.
Quer isto dizer que Mário Centeno, ministro com a pasta das Finanças portuguesas, viabilizou a continuidade do homem que antes queria demitido e a quem já admitiu suceder.
Um novo presidente do Eurogrupo será votado, em reunião do mesmo, no próximo dezembro. Até lá, apesar de já não exercer funções executivas nas finanças holandesas, Dijsselbloem continuará presidente do Eurogrupo.
«Houve um apoio unânime para isso. Todos estiveram de acordo que eu ficasse até meados de janeiro», afirmou Dijsselbloem, numa conferência de imprensa realizada depois de uma reunião entre os seus homólogos, que agora já não o são, ainda este mês.
Politicamente próximo de Wolfgang Schäuble, que em breve também deixará de ser ministro das Finanças (mas da Alemanha), Jeroen Dijsselbloem tornou-se uma cara familiar dos portugueses durante a governação de Pedro Passos Coelho, em que já era um dos grandes defensores da disciplina orçamental europeia, embora não tenha contado com o voto da então ministra Maria Luís Albuquerque em 2013.
Mais tarde, voltaria à ribalta mediática quando considerou que os países do Sul não podiam «gastar o dinheiro todo em aguardente e mulheres». A polémica afirmação levou a que os governos de Espanha e de Portugal pedissem a sua demissão de presidente do Eurogrupo em abril deste ano. O secretário de Estado do Tesouro, Ricardo Mourinho Félix, exigiu mesmo um pedido de desculpas diante das câmaras portuguesas que filmavam uma reunião do Eurogrupo, também em abril. No entanto, Dijsselbloem acabou por ficar no cargo e as exigências ibéricas não provocaram consequência. Meses depois, quando o seu partido na Holanda sofreu uma derrota em eleições nacionais que o excluiu de integrar Governo, Dijsselbloem tornou a ficar na liderança do Eurogrupo. Desta vez até com o beneplácito do governo liderado por António Costa.
Costa não responde sobre a Europa
Esta semana, no debate em sessão plenária da Assembleia da República que antecede as reuniões do Conselho Europeu, o primeiro-ministro recusou responder às questões levantadas pelo PSD. Miguel Morgado, o deputado social-democrata com a pasta dos Assuntos Europeus, questionava o Governo acerca da posição portuguesa em torno da «cooperação estruturada permanente» da União Europeia para a Defesa e António Costa não respondeu. «Há um ano, todos sabíamos que a Defesa seria aquilo que, na Europa pós-Brexit, sofreria o maior impulso de integração», recordou Morgado, que foi adjunto de Pedro Passos Coelho no governo 2011/2015. «Há seis meses que fazemos perguntas sobre temas que já não podem ser abordadas com generalidades», atirou o parlamentar, que considera que «nunca houve respostas concretas» do Governo em relação a esses temas, quando o processo já está em curso em Bruxelas desde o princípio do verão. Apesar de Morgado relembrar a «obrigação legal» do primeiro-ministro responder sobre essas questões (a lei da Assembleia reza que «o Governo deve manter informada, em tempo útil, a AR sobre os assuntos e posições a debater nas instituições europeias, bem como sobre as propostas em discussão e as negociações em curso»), Costa recusou responder e abandonou a câmara.