O movimento independentista catalão tem uma semana para proclamar o seu país. Não será país para durar ou governar e servirá simultaneamente como consolação aos milhões de pessoas que em três anos votaram em dois referendos não reconhecidos e como forma de preservar a onda política regional para além do dia em que, inevitavelmente, esse país for desbandado pela capital espanhola. Isso é certo que acontecerá. O que é menos certo, mas muito provável, é que os independentistas liderados por Carles Puigdemont declarem de facto e unilateralmente a sua independência. A engrenagem está em marcha e poucos duvidam que o momento acontecerá. O país catalão, pelo menos para alguns, vai ter uma sobrevivência curta. Resta saber se a violência e o independentismo lhe vão sobreviver.
Não faltará muito para o descobrir. Esta semana desenrola-se a última cena do mais recente ato catalão. Hoje reúnem-se os porta-vozes do Parlament para decidirem em que dia se vai realizar a sessão convocada na noite de sábado por Puigdemont em resposta à opção nuclear que Mariano Rajoy anunciou horas antes. Madrid tem uma agenda para aplicar a suspensão da autonomia catalã e Barcelona decide hoje a da sua. Se o presidente catalão resistiu até agora à pressão dos partidos mais radicais na sua maioria de independentistas, dificilmente o conseguirá fazer agora. Muitos esperam uma declaração unilateral de independência até sexta-feira, dia em que os deputados espanhóis vão aprovar que na primeira vez na História do país se interrompa a auto-determinação de uma região. Madrid vai tomar as rédeas da Catalunha no sábado e os independentistas preparam as armas para reagir antes.
Contam-se as armas
Ao Artigo 155, os independentistas devem responder com a independência. Assim sugeria este domingo o porta-voz da presidência catalã, Jordi Turull, ao assegurar que não haverá as eleições antecipadas que Mariano Rajoy exigiu no sábado e que dá como a única forma de evitar que o Artigo 155 entre em marcha. “Já se tentou tudo”, disse Turull, indicando que está esgotado o caminho da negociação que o governo catalão propôs e o espanhol rejeitou. “O não fazer nada não faz de todo parte de qualquer cenário”, assegurou, num dia em que de um lado e de outro da barricada se pareciam contar as armas simbólicas e as verdadeiras.
Este domingo, os grupos civis independentistas pediam aos municípios que respeitem uma eventual declaração de independência; convocavam-se protestos para a semana, os trabalhadores na televisão e rádio públicas na Catalunha asseguravam que não vão respeitar as direções que Madrid planeia estabelecer assim que tome controlo no sábado; e o governo da Generalitat afirmou explicitamente que o dirigente da polícia local não irá a lado algum – “Trapero no se toca”. Em Madrid, por sua vez, a procuradoria-geral prepara uma acusação de rebelião a Puigdemont que muito provavelmente o levará a uma prisão preventiva incondicional como aconteceu já com os dois Jordi, faz o mesmo com uma nova acusação a Trapero; e no Parlamento prepara-se uma sessão solene de elogio às polícias nacionais, quase como em preparação de semanas difíceis.
Teme-se a violência
É que o maior e mais violento receio em ambos os lados é que os Mossos d’Esquadra não respeitem o controlo de uma nova liderança e da polícia nacional que ainda está aos milhares em Barcelona e outras cidades. As imagens da intervenção da polícia nacional no dia do referendo estão ainda na memória dos catalães e as manifestações de rua podem tornar-se nas batalhas que Mariano Rajoy mais teme. “É algo com que se preocupar”, afirmava este domingo o coronel-chefe da Unidade Central de Operações da Guardia Civil, Manuel Sánchez Corbí, falando à “La Sexta”. “Que hoje em dia na Catalunha alguém pense em fazer ‘kale borroka’ não é um cenário longínquo porque sempre houve violência antisistema”, disse, falando da estratégia de guerrilha urbana da ETA.
Ninguém sabe ao certo como é que o Artigo 155 será aplicado. A lei é vaga e vai decidir-se esta semana como e com que medidas Madrid tomará o controlo do governo, polícia e meios de comunicação da Catalunha até organizar eleições antecipadas no prazo de seis meses. O presidente escolheu este domingo uma equipa para decidir os passos que vão ser tomados. De qualquer maneira, os votos estão garantidos. Cidadãos, conservadores e socialistas votam a favor da aplicação do Artigo 155 contra a oposição do Unidos Podemos. Pedro Sánchez assegura o voto mesmo diante dos protestos do braço socialista catalão, de onde este domingo surgiam notícias de demissões dos órgãos da direção nacional. “Ninguém fez tanto contra o autogoverno da Catalunha como o secessionismo”, lançou Sánchez em Madrid, colocando os independentistas catalães no mesmo patamar que nacionalistas húngaros e polacos.