Não é bonito bater em quem está no chão, mas Constança Urbano de Sousa foi um tremendo erro de casting e a maior culpada até nem foi a ex-ministra. O principal responsável foi o chefe de Governo, que a manteve no cargo mesmo quando Constança pediu para sair. A verdade é que os dois relatórios pedidos pelo Governo e pelo Parlamento arrasam a organização que emana do Ministério da Administração Interna e ninguém fez nada no imediato para corrigir as gravíssimas lacunas reveladas.
É fácil dizer que a ex-ministra é a responsável por tudo o que de errado aconteceu no combate aos incêndios, mas os erros grosseiros não podiam escapar a António Costa e aos seus pares. Quando quase nada funcionou no verão, tendo por isso morrido 65 pessoas, o que dizer do que se passou no passado fim de semana? Quem não sabia que estavam reunidas as condições propícias para a ocorrência de uma nova tragédia? Quem não libertou o dinheiro para reativar todos os postos de vigia, contratar aviões, avançar com as Forças Armadas para avisar as populações, ou convocar todos os bombeiros profissionais e voluntários para estarem de prevenção? E quem não limpou as matas do Estado? Também foi a ministra da Administração Interna? O pinhal de Leiria, uma invenção do pai de D. Dinis com vários séculos, ardeu como um fósforo por causa de quem? É ridículo querer fazer de Constança Urbano de Sousa o bode expiatório das verdadeiras desgraças que se abateram sobre o país nos últimos quatro meses.
Os ministros da Agricultura, da Defesa, das Finanças, ou até por absurdo da Justiça –por não ter enviado mais ‘judites’ para deterem presumíveis incendiários – não têm também responsabilidades? E quem é o chefe da banda? Não é António Costa, que por sinal teve uma comunicação ao país verdadeiramente desastrosa, tendo sido incapaz de pedir desculpa pelas mais de 100 mortes nos últimos quatro meses antes de o Presidente o ter feito? E as câmaras? Também não têm responsabilidades? Quem tem de se preocupar se as bocas de incêndio têm ou não água? Quem podia ter avisado as populações para se precaverem?
Voltando à ministra, é óbvio que a professora de Direito conduziu um carro sem travões e não foi capaz de o reparar. O desastre foi total e as vidas que se perderam vão ficar na memória do país. Essa é que é a triste realidade.