A instabilidade social e política, as imagens da violência policial e das manifestações quase diárias e o período de enorme incerteza que a Catalunha atravessa desde o passado dia 1 de outubro – data da realização do referendo sobre a independência catalã, não reconhecido pelo Governo de Madrid – já estão a ter impacto negativo na economia da região autónoma.
Ao abandono confirmado de mais de 800 empresas da Catalunha, soma-se ainda uma diminuição significativa nos números do turismo. Em declarações ao jornal britânico Guardian, o vice-presidente da associação de turismo Exceltur, José Luis Zoreda, afirma que atividade turística na região caiu 15% nos últimos vinte dias, em comparação com o verificado em igual período do ano anterior. Uma percentagem que, alerta, ainda pode vir a agravar-se nos meses que restam do presente ano.
«As reservas estão numa queda livre até cerca de 20% no último quarto de 2017, especialmente em Barcelona, numa época normalmente alta em conferências, lazer e turismo comercial», lamenta Zoreda, esclarecendo que, numa região habituada a receber anualmente 18 milhões de visitantes, onde o turismo representa 12% do PIB e dele dependem mais de 400 mil postos de trabalho, um decréscimo de 20% equivale a perdas de perto de 1,1 mil milhões de euros.
O caso ganha ainda maior destaque, tenho em conta que a queda do turismo não foi tão acentuada nas semanas que sucederam aos ataques terroristas nas Ramblas de Barcelona e na localidade de Cambrils, dos quais resultaram 16 mortos.
O setor hoteleiro e o da restauração são os que mais se têm ressentido com a diminuição da atividade turística. «As pessoas têm vindo a cancelar reservas até janeiro. Estamos a enfrentar um tsunami económico», queixa-se um proprietário de um restaurante de Barcelona. «A situação é bastante preocupante, especialmente para aqueles que dependem do mercado internacional», acrescenta o vice-presidente de uma unidade hoteleira que explora na cidade condal.
O cofundador de uma agência de viagens que opera na Catalunha, James Blick, admite a quebra no turismo, mas mostra-se, ainda assim, otimista no futuro. «As notícias, manchetes, imagens e vídeos dos confrontos entre a polícia e os eleitores no dia 1 de outubro foram claramente suficientes para assustar um número significativo de pessoas. Mas felizmente quando somos turistas costumamos ter memória curta e assim que a estabilidade voltar, o turismo também volta», explica ao Guardian.
Num comunicado divulgado na quinta-feira pelo Governo de Mariano Rajoy, em que criticava a atuação das autoridades catalãs e do presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, foram destacados os problemas económicos resultantes das movimentações secessionistas catalãs. Segundo o Executivo, as autoridades regionais da Catalunha estão «deliberadamente e sistematicamente à procura de confrontação institucional, apesar dos danos sérios que essa postura está a causar na economia catalã».