O ano de estreia de Frederico Morais entre a elite mundial de surf está a aproximar-se do fim. Com a última etapa do circuito agendada para o Havai, com período de espera marcado entre 8 e 20 de dezembro, torna-se obrigatório olhar para os feitos já conquistados pelo cascalense de 25 anos, idade que, de resto, foi uma das razões por que estampou aquele número na licra que usa na competição. Mas de notar que, além do que já conquistou, ainda há um troféu que pode vir na bagagem de Frederico pela altura do Natal.
Vamos por partes.
Corriam os últimos dias do ano de 2016 quando o i foi ter com Kikas, depois de, no início desse mesmo mês de dezembro, ter chegado a confirmação de que iria suceder a Tiago Pires na representação de Portugal no circuito mundial de surf. Era o segundo português a consegui-lo.
Com as emoções ainda à flor da pele, numa altura em que também já preparava a sua viagem para a Austrália, onde em janeiro decorreu a primeira etapa do circuito mundial, a última pergunta colocada a Frederico Morais no Guincho foi: “Daqui a um ano, qual seria a frase que gostarias de poder dizer?” “Difícil… Talvez: ‘Aqui vamos nós para o segundo ano do World Tour’”, respondeu. Continuar no Tour era meta prioritária, e vem toda esta conversa, naturalmente, porque a missão está oficialmente cumprida. Frederico Morais é presença garantida no World Tpur (WT) do próximo ano: check.
Mas Kikas, que desde os seis anos que avisava que um dia ainda iríamos ouvir falar muito dele – através de cartas enviadas a revistas especializadas na modalidade –, foi muito além do que qualquer pessoa podia esperar.
Frederico Morais faz história Não é difícil de recordar. E não pelo facto de o feito ter sido alcançado recentemente, mas sobretudo pela sua dimensão.
Julho de 2017, África do Sul: Frederico Morais faz história em Jeffrey’s Bay ao ficar em 2.o lugar na sexta etapa do circuito mundial da World Surf League (WSL). Ao atingir a final de uma etapa do circuito mundial, o atleta de Cascais registou o melhor resultado de sempre de um surfista português entre a elite do surf mundial. “Estou a sentir muitas coisas, estou sem palavras”, disse no seu primeiro pódio, que considerou ser “um momento histórico e de orgulho para o surf português”.
Antes, a melhor pontuação de um surfista nacional pertencia a Tiago “Saca” Pires, uma das principais figuras do surf português e que andou no meio durante sete anos, com o terceiro lugar, em três ocasiões (Indonésia em 2008, França em 2009 e Austrália em 2011) – um posto que também o surfista luso Vasco Ribeiro coleciona depois de ter disputado a meia-final de Peniche, em 2015, porém como wild-card.
O troféu de “rookie of the year” A etapa mundial portuguesa, que conheceu o seu vencedor esta quarta-feira, em Peniche, terminou com o afastamento de Kikas na quinta ronda, um passo antes dos quartos-de-final, diante do tricampeão mundial Mick Fanning. O 9.o lugar traduziu-se nos 4000 pontos que somou à sua conta no ranking mundial, números que permitiram assegurar o 13.o lugar da tabela, posto do qual já era dono e senhor antes de aterrar em casa.
Por isso, e mais do que manter o lugar cativo, Frederico Morais assegurou a liderança na corrida pelo troféu de “rookie of the year”, que visa distinguir o melhor estreante do ano. Depois de o seu rival direto no troféu de melhor aluno no primeiro ano de estreia na prova mundial, Connor O’Leary, não ter feito melhor que ele próprio, terminando, também ele, no nono lugar, Kikas garantiu os 1200 pontos de avanço sobre o australiano – números que, obviamente, não são suficientes para gravar de imediato no galardão o nome do português, que lembrou que a luta pelo prémio vai ser renhida.
“Solidifiquei o meu lugar no ranking e ainda estou na corrida ao título de ‘rookie do ano’, o que é bom. Vai ser um final de ano divertido no Havai”, atirou, já no areal da praia de Supertubos.
Praia em que o brasileiro Gabriel Medina teve, durante o dia de ontem, motivos para sorrir.
Medina adia decisão do título para a última etapa Gabriel Medina derrotou o australiano Julian Wilson na final da 10.a etapa do circuito mundial e chegou assim à sua segunda vitória consecutiva no circuito mundial, depois de ter vencido a etapa anterior, disputada em França.
“Estou muito feliz. Tinha o objetivo de ganhar pelo menos uma das etapas na Europa, pelo que ganhar duas é incrível! Sinto-me cansado, porque esta final implicou muito trabalho. O Julian já me derrotou tantas vezes que sabe bem ser eu a ganhar desta vez. Quando ele conseguiu uma boa nota a cinco minutos do final, pensei, “outra vez, não!’. Mas não desisti e estou muito contente por ter ganho”, adiantou o surfista brasileiro, que venceu pela primeira vez em Peniche, numa final que fica marcada por ser uma reedição de 2012.
Com as duas vitórias na Europa, Gabriel Medina escalou seis lugares no Jeep Leaderboard, ocupando atualmente o segundo lugar do ranking mundial e transformando-se, à entrada da última etapa, numa dor de cabeça para John John Florence que, embora derrotado nos quartos-de-final em Peniche, segue a liderar a tabela classificativa.
“Antes, não estava a pensar nisto, mas agora estou definitivamente a pensar no título mundial deste ano. O John John tem a vantagem de pontos, mas tudo pode acontecer. Quero muito surfar Pipe [Pipeline, Havai], adoro aquela onda e já lá tive bons resultados no passado. Nada é impossível!”, confessou o primeiro surfista brasileiro a sagrar-se campeão mundial, no ano de 2014.
Quatro candidatos em jogo A par de John John Florence – atual campeão em título e considerado de forma unânime pelos principais seguidores da modalidade como o melhor surfista da atualidade –, que tem a seu favor, na etapa derradeira, o fator casa, e de Gabriel Medina, há ainda outros dois nomes com hipóteses de, matematicamente, chegar ao título. São eles o surfista sul-africano Jordy Smith, atualmente a fechar o pódio do ranking geral, e o finalista vencido em Peniche, o australiano Julian Wilson, que ocupa o quarto lugar.