Metade

Aconteceu hoje algo que eu já esperava há algum tempo: as taxas de júri da dívida pública portuguesa com o prazo de 10 anos caíram para metade, relativamente aos máximos atingidos em março. Dos 4,33% a que se cifravam no dia 20 de março, aos 2,165% que os juros tocaram hoje, a queda é de…

Isto faz com que investir em dívida pública portuguesa seja um dos melhores negócios deste ano de 2017, devido à grande valorização dos títulos em que essa dívida é expressa (nas obrigações, ou títulos de dívida, de taxa fixa, quando os juros descem o preço dos títulos sobe, e vice-versa). É uma boa notícia para todos. Desde logo, esta descida aumenta a solidez do sistema financeiro, com os bancos nacionais a registarem ganhos importantes nas respetivas carteiras de títulos. Ganhos também para o fundo de estabilização financeira da segurança social, que investe fortemente na dívida pública portuguesa. Além disso, se tiver um PPR, possivelmente, ele também investe nesta dívida, pelo que também beneficiará com as apreciações dos títulos. Por fim, a descida das taxas embaratece o endividamento do Estado, pelo que todos ganhamos com juros mais baixos.

As causas desta descida são várias e complexas. Em primeiro lugar, temos o acelerar do crescimento económico, que faz, aos olhos dos investidores, que Portugal seja mais capaz de pagar as suas dívidas. Alia-se a esse fator a disciplina financeira do Estado, expresso nas reduções do défice e da dívida pública em percentagem do PIB (total da produção do país). Acresce a subida do rating (avaliação do risco) pela agência Standard and Poor’s, que no mês passado retirou a dívida pública portuguesa do nível de “lixo” para lhe conferir “grau de investimento”: o facto de a dívida portuguesa ser agora considerada menos arriscada traduziu-se numa redução imediata das taxas de juro. Em último lugar, há que contar com as compras de dívida por parte do Banco Central Europeu. Ontem, a notícia que o BCE vai continuar a comprar dívida pública de países e de empresas da zona euro, pelo menos até setembro do próximo ano, se bem que a um ritmo que é metade do atual, acabou por traduzir-se em quedas generalizadas das taxas de juro em toda a zona euro, Portugal incluído.

Enfim, a descida das taxas de juro é, sem dúvida, positiva para todos nós. Há poucos anos, Portugal nem tinha sequer acesso ao mercado de dívida. Hoje em dia, o financiamento do Estado português faz-se sem dramas, e a taxas de juro reduzidas. E, como é bom de ver, mais vale pagarmos menos em juros do que pagarmos mais.