Os amigos são para as ocasiões e Eduardo Cabrita não podia falhar ao seu amigo de longa data. Ao aceitar a pasta da Administração Interna, o antigo ministro Adjunto sabia perfeitamente que estava a herdar o ministério mais quente do atual Executivo. Depois da tragédia dos fogos, onde já morreram 110 pessoas, que levou à demissão de Constança Urbano de Sousa, Cabrita terá pela frente a hercúlea tarefa de pôr na ordem o difícil mundo que previne e ataca os incêndios, um dos maiores flagelos deste país.
Mas o que terá levado António Costa a apostar no seu antigo amigo da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa? Tendo o primeiro-ministro já desempenhado as funções de ministro da Administração Interna, onde Cabrita foi seu secretário de Estado-adjunto e da Administração Local, Costa poderá ter em Cabrita um belo adjunto que não levantará ondas. Afinal, o líder socialista já tinha lançado há 10 anos as sementes do plano de proteção das florestas – com os resultados conhecidos – e esteve também ligado ao famigerado SIRESP.
Cabrita nasceu em 1961 e cresceu no Barreiro, uma cidade com forte peso comunista, começou cedo na política, acabando mais tarde por acompanhar a força rosa em Macau, onde terá aprendido mandarim para melhor conhecer os dossiês. Foi secretário de Estado nos governos de António Guterres e José Sócrates e é deputado eleito pelo concelho de Setúbal. Todos os colegas e amigos lhe apontam uma grande abnegação e dizem tratar-se de um homem brilhante. E terá mesmo de revelar um grande talento para gerir uma pasta que, curiosamente, não tem na criminalidade o seu ponto mais preocupante. Sendo Portugal um dos países mais tranquilos do mundo – apesar do ministro da Cultura ter sido visitado esta semana em casa pelos amigos do alheio -, Cabrita vai ter de conseguir travar uma guerra sem quartel se quiser, como tudo indica, afastar os bombeiros voluntários da frente de combate dos fogos florestais. Como é sabido, os bombeiros são um lóbi fortíssimo e não vão vender barato esta desfeita. Mas com o país à beira de um ataque de nervos por causa dos fogos, com comissões de peritos a dizerem uma coisa e a Proteção Civil a dizer outra, o novo ministro da Administração Interna terá de ter todo o apoio do seu amigo António Costa para tentar levar a água ao seu moinho. Veremos se a amizade será suficiente para acabar com as tragédias nas florestas…