Banca 12 mil saem em 4 anos

Consolidação e alteração do modelo de negócio tem levado milhares a saírem dos bancos. Sindicato fez as contas  para o SOL e diz que setor vai fechar o ano com 40 mil pessoas

Abanca portuguesa continua a cortar em força nos postos de trabalho. De 2014 até ao final do ano passado dispensou quase 6.500 bancários. Este número vai engrossar até ao final deste ano com especial enfoque no último trimestre, altura em que estão previstos cerca de mil saídas, fixando o setor num novo mínimo: 40 mil funcionários. Feitas as contas, em quatro anos vão ser cortados cerca de 12 mil postos de trabalho, revelou ao SOL Paulo Marcos, presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos (SNQTB).   

Todas estas saídas já levaram a que o sistema financeiro seja o segundo setor a despedir mais, só ultrapassada pela construção civil. A consolidação no setor e sobretudo a alteração do modelo de negócio têm vindo a ditar esta tendência. 

O que é certo é que a política de redução de estruturas tanto ao nível de trabalhadores como de balcões continua a ser uma das principais prioridades dos bancos a operarem no mercado nacional. As maiores instituições financeiras continuam a manter esta estratégia e que irá ganhar maiores contornos junto da Caixa Geral de Depósitos (CGD), que prevê dispensar mais de 2.200 trabalhadores e fechar 180 balcões até 2020.

No caso do banco público só este ano vão sair 650 colaboradores, o que representa um corte de 8% no número de efetivos da Caixa que, ainda assim, continua a empregar mais de sete mil pessoas. Através de reformas e reformas antecipadas foram atingidas 550 pessoas, mas a este número há que contar com o programa de rescisões. E ao que o SOL apurou, este programa, que terminou a 27 de setembro, contou com a adesão de mais de 200 trabalhadores. Mas isso não significa que a entidade liderada por Paulo Macedo aceite todas as candidaturas, como também pode haver desistência por parte dos trabalhadores que mostraram esse interesse. 

De acordo com as contas divulgadas esta sexta-feira, já saíram do banco público 298 trabalhadores nos primeiros nove meses do ano e foram encerrados 63 balcões (passando a contar com um total de 588), o que no entender da Caixa está «em linha com os objetivos traçados para o ano em curso». 

Fusão obriga cortes

Também o Santander vai ter de reduzir a sua estrutura, tanto em postos de trabalho como em balcões depois de ter comprado o Banco Popular por um euro, no âmbito de uma medida de resolução para evitar a falência desta instituição bancária. 

A instituição financeira liderada por Ana Botín deverá avançar com uma oferta de rescisões voluntárias e reformas antecipadas, já que passou a ter mais de sete mil funcionários após a compra, dos quais 900 são provenientes do Popular Portugal. Como tal, este programa de corte de custos também terá implicações em Portugal, uma vez que é o segundo mercado do Popular e onde o Santander também tem uma forte presença. 

Para já ainda não se sabe quantos trabalhadores poderão ser atingidos no mercado nacional. Mas não é uma decisão inédita. O Santander já seguiu esse caminho após a compra de parte dos ativos do Banif, no final de 2015, com recurso a rescisões por mútuo acordo ou reformas antecipadas.

Já o BPI, após OPA do Caixabank, tem vindo a agilizar este emagrecimento, tanto a nível de trabalhadores como em balcões. Só nos primeiros nove meses do ano saíram da instituição financeira 347 funcionários, passando o banco a contar com um total de 5.178 trabalhadores. Já em termos de balcões assistiu-se ao fecho de 11. 

No entanto, este número é mais abrangente já que nos primeiros seis meses do ano a instituição financeira chegou a acordo de rescisão com 519 funcionários, em que uma parte destes só irá sair em 2018, daí não aparecer no plano de contas apresentado a semana passada. 

Também turbulento em termos de emagrecimento de estrutura tem sido o Novo Banco. Desde que foi criada, a instituição financeira tem levado a cabo vários processos de reestruturação, tendo já saído mais de 1.500 trabalhadores – através de rescisões por mútuo acordo, reformas antecipadas e despedimento coletivo.

Só este ano, o Novo Banco reduziu o quadro de pessoal em 418 pessoas, tendo em conta os 6.096 que tinha no final de 2016. Também os balcões têm fechado de forma significa, tendo agora o banco 475 balcões, menos 200 do que os 675 que tinha em 2014.

No final de junho, últimos dados conhecidos, o Novo Banco tinha 5.321 trabalhadores em Portugal, enquanto nas operações no estrangeiro contava com 385 pessoas. Mas agora, com a entrada do fundo norte-americano Lone Star, o processo irá continuar. 

O caso mais recente mas também de pequenas dimensões foi o Banco do Brasil que anunciou o mês passado que iria avançar com um processo de despedimento coletivo em Portugal. Em causa estão 16 trabalhadores das agências do banco em Lisboa e Porto. 

 Esta decisão surge na sequência de um reposicionamento estratégico da sua atividade, o que levou à transferência do seu negócio de retalho para o Banco CTT, que irá afetar 23% dos trabalhadores da instituição bancária. 

Com a alteração e redução de efetivos, o Banco do Brasil ficará com um rácio de um administrador para pouco mais de dez trabalhadores.

Contraciclo

Em sentido oposto parece estar o BCP depois de ter levado a cabo um profundo plano de reestruturação no ano passado. Nessa altura, a instituição financeira liderada por Nuno Amado fechou 53 balcões e saíram 126 trabalhadores. Recentemente, Conceição Lucas, administradora executiva do Millennium, garantiu que o banco «já fez a sua reestruturação», pelo que, ao contrário de outros, não está agora a discutir «fecho de balcões ou despedimento de trabalhadores».