Não basta ser, também é preciso parecer. Rui Rio já antes se dizia de «centro-esquerda» e corre agora para se aproximar desse eleitorado. Tímido, distante da imprensa e dos holofotes, não é fácil de conhecer. Esta semana, a sua campanha entrou em processo de humanização. O homem das contas à moda do Porto não quer ganhar o rótulo de técnico. Já com 60 anos, ainda tem juventude para conquistar. Para isso, mostrou um bocadinho de si ao país. Foi entrevistado na televisão, onde tocou bateria; instrumento que também tem em casa mas em versão eletrónica, para não atemorizar a vizinhança. Sorriu muito. A audiência gostou.
O seu diretor de campanha, Salvador Malheiro, que assina um artigo de opinião neste jornal, diz ao SOL que essa impressão de frieza é «sobretudo uma tentativa de colagem».
«Queriam passar essa ideia, de que o homem era uma máquina, um algoritmo, que não tinha um lado humano. E não é assim. É importante que o vejam por aquilo que ele é: sem imagens deturpadas. Claro que nele há rigor e concentração, mas há também uma enorme faceta humana. Tem um grande sentido de humor, uma personalidade cheia. Os militantes gostam da postura dele», descreve Malheiro, que é um dos primeiros apoiantes públicos de Rio.
«Quando olhamos para esta eleição vemos que os portugueses sabem e conhecem as personalidades dos candidatos. Eles são assim e não é agora que vão mudar», avalia o também presidente da distrital de Aveiro, onde foi lançada a candidatura. «Rui Rio já deu provas. Vê-se no terreno que é ele que reúne o maior potencial para ser primeiro-ministro. Tem um percurso que fala por si, com ações concretas, próximo da realidade das comunidades. Não esteve fechado nos corredores do poder em Lisboa…», sorri Malheiro.
«O país real não é só isso. É aquilo que também é distante dos centros urbanos. Por isso é que o exercício autárquico [Rio foi presidente da Câmara do Porto 12 anos] pode ser tão marcante», sugere Malheiro, que é presidente da Câmara de Ovar. «Só quem estiver fechado na Assembleia da República é que não ouve o povo real, é que não entende a recetividade que tem havido todos os dias, junto das pessoas».
O diretor de campanha ainda não tem nomes de mandatário ou da comissão de honra para dar, mas fala na fórmula, que aliás o SOL já havia noticiado, de fusão entre autarcas e sociedade civil que Rui Rio tem favorecido. Os que estão «fechados no parlamento», é verdade, apareceram em peso na apresentação de Pedro Santana Lopes, esta semana, mas há exceções. Rubina Berardo, deputada, é uma delas.
Escutada pelo SOL, a social-democrata explica que não se pode confundir frieza com «credibilidade», na medida em que Rio é «o candidato mais credível» à liderança do PSD. Rubina, que é federalista, não vê com maus olhos as críticas que Rio fez à União Europeia sobre a interferência no setor bancário português, há cerca de um ano. «Ser federalista não é encarneirar a 100% com o que Bruxelas diz. Pode significar uma opinião clara sobre diversas políticas europeias e isso não nos faz prescindir do compromisso com a Europa».
A Madeira, que por decisão da comissão política regional não apoiará nenhum dos candidatos, dando liberdade de voto aos militantes, será palco de grande disputa. «É óbvio que cada vez mais o militante é livre de escolher quem considera ser o melhor candidato à frente do seu partido. E é esse o contacto que tem que ser encetado com as bases, para cada um apresentar os projetos que tem», esclarece a deputada. Em jeito de conclusão, afirmou: «Eu não apoio um anticandidato. Isso seria uma péssima noção de democracia. Cada um deve significar por si próprio. E eu acredito que é a hora de agir».