Os jovens entre os 20 e os 29 anos são quem tem menos proteção contra o sarampo no país. Os resultados do último Inquérito Serológico Nacional – que mede os anticorpos na população para as doenças infecciosas, incluindo as que podem ser evitadas com vacinas – revelam que, nesta faixa etária, só 77,9% dos portugueses estarão protegidos contra a doença.
O estudo, que teve por base uma amostra da população, concluiu que entre os 10 e os 44 anos não existe imunidade de grupo contra o sarampo, o que faz com que, em caso de surto, seja mais provável que a doença alastre.
Ainda assim, a taxa de proteção nacional situa-se nos 94,2%, o que levou a Direção-Geral da Saúde a recusar motivo para alarme ou que a imunidade de grupo tenha desaparecido por completo no país. “Este ano tivemos dois surtos de sarampo que foram pequenos, que foram autolimitados e que depois não deram origem a transformações alargadas na comunidade, e a doença não se tornou endémica. Eu diria que isso é a prova dos nove de que existe imunidade contra o sarampo em Portugal”, disse a diretora-geral Graça Freitas, citada pela agência Lusa.
De acordo com o estudo ontem apresentado, a que o i teve acesso, há algumas assimetrias na proteção contra o sarampo.
A maior proporção de indivíduos imunizados contra o sarampo surge nas crianças entre os 2 e os 9 anos e nos adultos com idade igual ou superior a 45 anos. “Ao primeiro grupo pertencem as crianças potencialmente vacinadas com uma ou duas doses de VASPR de acordo com o previsto no PNV, e ao segundo os indivíduos que desenvolveram imunidade natural após terem contraído a doença”, concluem os investigadores do Instituto Ricardo Jorge.
As duas doses da vacina do sarampo só foram introduzidas no Programa Nacional de Vacinação em 1990 e a sua toma foi antecipada já esta década. Isto poderá explicar as taxas de imunização acima dos 95% nas crianças – o valor necessário para haver proteção de grupo nesta doença –, sendo de 97,5% dos dois aos quatro anos e de 98,9% dos cinco aos nove. Dos dez aos 14 baixa para 90,1%, já abaixo do tal limiar de proteção de grupo. Entre os 15 e os 19 anos, a taxa é de 88,2%, e entre os 20 e os 29 passa a 77,9%. Entre os 30 e os 44 torna a subir, para 91%. Acima dos 45, a proteção é quase total e, acima dos 55 anos, o inquérito aponta mesmo para uma imunização de 100%.
Os peritos consideram que haver mais jovens suscetíveis à doença pode ter resultado de terem sido vacinados com diferentes estirpes ou de haver um declínio dos anticorpos ao longo do tempo, estando os adultos que nasceram antes de 1970 praticamente todos protegidos porque estiveram expostos ao vírus em crianças – a vacina foi incluída no PNV em 1974. Os peritos recomendam monitorização destes valores, algo que a DGS garante estar a fazer, pondo a tónica na importância de cumprir a vacinação.
Lá fora, é notório que as taxas vacinais podem ser correlacionadas com a dimensão que os surtos têm tomado nos últimos meses. Os países com menor cobertura vacinal, mas sobretudo aqueles que se encontram abaixo do patamar de 84%, como é o caso de Itália, são os que têm mais casos de sarampo. De acordo com a última análise europeia, entre janeiro de 2016 e junho de 2017, os países europeus reportaram 14 mil casos de sarampo e 34 mortes atribuídas à doença, sendo uma das vítimas a adolescente portuguesa que não resistiu a complicações e não estava vacinada. O maior número de casos foi reportado pela Itália (4044). Portugal notificou 34 casos, o que dá 3,3 casos por milhão de habitantes. A Itália apresenta uma taxa de 66,7 casos por milhão de habitantes.