Ainda recentemente, o ex-primeiro-ministro australiano Kevin Rudd chamou “doido” a Donald Trump por fazer uma viagem pela Ásia e regressar aos Estados Unidos no dia em que começa uma cimeira importante para a segurança na região da Ásia-Pacífico. Se calhar, nesse aparente insulto pode haver até um ponto de verdade.
O “New York Times” publicou há dias um artigo intitulado “A loucura por trás da estratégia do ‘louco’ de Trump”, onde Jonathan Stevenson citava vários membros da administração dos EUA que descreviam a abordagem do presidente à política externa, especialmente no caso da Coreia do Norte, como estando baseada na “teoria do louco” – uma ideia antiga entre os estrategas da questão nuclear que Herman Kahn descreveu no seu livro “Thinking About the Unthinkable” e se resume a algo simples: fazer crer a um adversário que se é suficientemente insano para levar a cabo uma ameaça completamente disparatada. Uma ideia que outros presidentes não puseram em prática, diz o jornal, porque não funciona.
Por exemplo, Richard Nixon recorreu várias vezes à lógica do louco e chegou a enviar, em 1969, um esquadrão de 18 B-52 em direção a Moscovo para forçar a União Soviética a pressionar o Vietname do Norte a aceitar um acordo de paz. É certo que os soviéticos agiram nesse sentido, mas não é menos certo que a guerra duraria ainda mais três anos e meio.
A abordagem à questão da Coreia do Norte e ao desenvolvimento do seu programa nuclear parece um exemplo claro da estratégia seguida por Trump – como pôr em causa o acordo nuclear com o Irão apesar de não haver provas em contrário. Ao responder às metáforas cataclísmicas de Kim Jong-un com hipérboles de ferro e fogo, o presidente dos Estados Unidos joga a cartada da loucura no tabuleiro nuclear.
Podem argumentar os estrategas desta administração que, se todas as outras formas se esgotaram numa mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, com Pyongyang a prosseguir no desenvolvimento do seu arsenal nuclear, porque não experimentar o ainda não experimentado com o regime norte-coreano: suplantá-los em loucura?
Ou, melhor, podiam argumentar, não fosse dar-se o caso de alguns dos membros do seu conselho de segurança estarem a trabalhar numa outra estratégia que as ações de Trump acabam por fragilizar. Diplomacia, pressão económica e opção militar como último recurso parecem, aos olhos de Trump e de muitos que o elegeram, mais uma estratégia débil indigna da grande potência que são os Estados Unidos. Ou eram: porque aqui entra o slogan de campanha de Trump “make America great again” – como se devolve a grandeza à América se esta não consegue, pela demonstração da sua força, vergar um inimigo como a Coreia do Norte?